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Neyde Thomas em Berlim, nos anos 1960, época em que era figura de destaque na ópera Rigoletto, de Verdi | Reprodução
Neyde Thomas em Berlim, nos anos 1960, época em que era figura de destaque na ópera Rigoletto, de Verdi| Foto: Reprodução

Biografia

Na trajetória da soprano e professora Neyde Thomas, a descoberta na Itália, ao lado de Luciano Pavarotti:

27 de fevereiro de 1930 – Nasce em Pirajuí, no interior de São Paulo.

1941 – A família se transfere para a capital e Neyde tem as primeiras aulas de música. Uma das primeiras canções aprendidas foi "Quem Sabe", modinha de Carlos Gomes.

Anos 40 – Aos 18 anos, trabalhando em uma loja de departamentos, canta em um coral regido por Camargo Guarnieri e é descoberta. A Rádio Gazeta lhe oferece um contrato e Neyde estuda técnica com a professora Olga Urbany de Ivanov e repertório com o maestro André Vivanti.

1955 – Casa-se com o barítono italiano Rio Novello.

1957 – Estreia no Teatro São Paulo com um recital de canto e, no fim do ano, como Gilda na ópera Rigoletto, de Giuseppe Verdi, no Teatro Municipal, sob a regência de Armando Belardi.

1958 – Apresenta-se no Teatro Municipal de São Paulo como a protagonista da ópera Lucia de Lammermoor, de Gaetano Donizetti. No Teatro Guaíra, em Curitiba, apresenta La Traviata, de Giuseppe Verdi, como Violeta Valery.

1961 – Neyde vence o Concurso Achille Peri, em Reggio Emilia, na Itália, concurso em que, entre os jovens cantores premiados, estava Luciano Pavarotti. Os dois cantam juntos La Bohème no Teatro Municipal da cidade.

Anos 60 – Em seguida, Neyde e Rio vão para Roma, onde a cantora inicia carreira internacional que duraria 20 anos e em que se destacam apresentações no Metropolitan Opera House de Nova York, na Deustche Oper de Berlim e no Palais des Beaux Arts de Bruxelas.

1967 – Torna-se membro efetivo do Deustche Oper de Berlim, com uma média de 40 apresentações por ano.

1980 – Retorno ao Brasil e transferência para Curitiba.

1981 – É presidente do júri do Concurso Internacional de Canto Luciano Pavarotti na Filadélfia, que revela dois brasileiros.

1990 – Torna-se professora concursada do Curso Superior da Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Em seguida, torna-se preparadora vocal das óperas do Teatro Guaíra, além de orientadora vocal da Camerata Antiqua de Curitiba.

1999 – Representa o Brasil na transmissão ao vivo das óperas do Metropolitan Opera House, pelas quais recebe o Troféu Texaco Metropolitan Opera International Radio Network.

2002 – É homenageada com o Prêmio Carlos Gomes, tido como o "Oscar da Música Erudita", na categoria Universo da Ópera.

2009 – Recebe o título de cidadã honorária de Curitiba.

Fontes: Escola de Música e Belas Artes do Paraná e Neyde Thomas – Vida e Arte, publicado por Julio Medaglia.

Um dos mais importantes nomes da ópera no Brasil, a cantora Neyde Thomas morreu na madrugada de ontem, em Curitiba, aos 81 anos, vítima de um câncer no pâncreas. A cantora estava internada há uma semana no hospital Erasto Gaertner. Natural de Pirajuí, em São Paulo, a soprano paulista tinha um extenso currículo internacional (veja o quadro ao lado), que inclui prêmios e concertos nos maiores teatros do mundo, como o Metropolitan Opera House, em Nova York, e o Deustche Oper, de Berlim, além de ter sido regida e e de ter cantado ao lado de grandes artistas da música, como Placido Domingo e Luciano Pavarotti e os maestros Lorin Maazel e Júlio Medaglia.

Desde a década de 1980, Neyde era radicada em Curitiba, onde se tornou preparadora vocal da Camerata Antiqua e da ópera do Teatro Guaíra e lecionou na Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap). Era considerada uma das principais formadoras de cantores líricos com atuação internacional. "Ela era muito especial, e vai deixar muita saudade. Ela praticamente dedicou a vida toda a nós nos últimos anos, quando parou de cantar", diz a cantora Ana Paula Brunkow, que teve aulas com Neyde por quase 20 anos.

A diretora da Embap, Anna Maria Lacombe Feijó, disse que a escola onde a cantora lecionou por 10 anos, está em luto. "Foi uma grande perda para o estado, vai deixar uma lacuna porque a Neyde, além de ter um talento estupendo, tinha um conhecimento ímpar sobre canto lírico."

O maestro Alessandro Sangiorgi, regente titular da Orquestra Sinfônica do Paraná de 2002 a 2010, também destaca a atuação de Neyde como formadora. "Acho que ela, a partir de agora, entra para fazer parte da história da lírica mundial, como mais uma estrela que será lembrada", diz Sangiorgi. "Mas ela nunca parou de trabalhar em favor dos alunos, em nenhum momento deixou de fazer isso. Tanto que o luto deles é como se tivessem perdido uma mãe. Ela era uma mãe musical", diz.

Professora

Para a cantora lírica e ex-aluna Kalinka Damiani, a relação de Neyde com os alunos era, de fato, matriarcal. "Ela sempre ‘adotava’ os alunos dela", diz. "Era um relacionamento muito mais íntimo do que simplesmente ir e fazer uma aula. Mas ela não ficava só passando a mão na cabeça. Ela empurrava as pessoas a irem para frente, mesmo que fosse para quebrar a cara. Dizia para ter coragem e, principalmente, disciplina, foco, uma meta, um objetivo."

Para a soprano coloratura Tatiana Vanderlei, que vive há oito anos na Itália, outro traço marcante da postura de Neyde nas aulas era o alto nível de exigência. "Ela exigia o máximo da gente porque sabia que a gente poderia dar o máximo. A Neyde preparava os alunos, não para o Brasil , mas para a Europa", diz a cantora. "Aqui não é fácil. Se ela não tivesse nos preparado assim, não teríamos sobrevivido aqui. Ela sabia que a gente podia chegar muito longe", diz.

Homenagem

O enterro de Neyde Thomas ocorre hoje, às 13 horas, no Ce­­mitério Jardim da Saudade 2, em Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba. Às 11h30 uma missa em homenagem à cantora, com a presença de ex-alunos, será realizada na Igreja Ba­­­tista do Bacacheri e transmitida por meio do site da igreja: www.ibb.org.br . Atendendo a pedidos de familiares e realizando um antigo desejo de Neyde, a Camerata Antiqua vai apresentar "Lacrimosa", do Réquiem, de Mozart. "O coro da Camerata está muito triste", diz Darci Almeida, cantora e assistente da direção artística da Camerata Antiqua de Curitiba. "Com certeza temos boa memória e vamos sempre relembrar todo o ensinamento que ela nos passou."

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