São José do Rio Preto – Eles estão há 18 anos recebendo aplausos quase todas as noites. Mesmo assim, alguns foram pegos chorando baixinho, disfarçadamente, enquanto a platéia do Festival Internacional de São José do Rio Preto ficou de pé para bater palmas. Era o fim de Pessoas Invisíveis, primeira peça que a Armazém Companhia de Teatro selecionou para mostrar na retrospectiva do evento, um dos mais importantes e, provavelmente, o mais antigo do país ainda em funcionamento. Uma homenagem a um grupo que chega aos seus 18 anos com um currículo invejável – e disposição para conseguir muito mais.

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Convidados pela direção do festival, eles montaram uma semana de apresentações com três de suas principais produções. Pessoas Invisíveis, com texto extraído de histórias em quadrinhos de Will Eisner; Alice através do Espelho, baseada no clássico de Lewis Carroll; e A Caminho de Casa, atual montagem do grupo. Ingressos esgotados, platéias aplaudindo com entusiasmo: a passagem por Rio Preto acabou sendo um presente para a companhia depois de um longo caminho, que teve seu início no norte do Paraná.

A saga do grupo que agora chega à maioridade começou em Londrina. "Até hoje dizemos sempre que somos uma companhia londrinense radicada no Rio de Janeiro", diz o diretor Paulo de Moraes, nascido em Cornélio Procópio e um dos pais do projeto. Responsável pelas montagens que hoje ganham prêmios e viajam o país, ele viu os primeiros passos tímidos da companhia. Em sua primeira infância, até o nome do grupo mostrava a falta de pretensões. Eram os tempos da Companhia Dramática Bombom pra Quê se Pirulito Tem Pauzinho pra se Chupar.

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Sem espaço fixo, sem salário, sem patrocínio, os bravos integrantes montavam as peças e viajavam para os festivais para mostrar o que tinham conseguido. "Um dos primeiros lugares foi Rio Preto (SP). Por isso é muito importante voltarmos agora como homenageados", diz Moraes. No primeiro ano de Rio Preto, quando o festival ainda era para grupos amadores, eles ganharam três indicações para prêmio. No ano seguinte, Moraes ganhou melhor direção.

Uma das primeiras viradas importantes na história do grupo veio quando decidiram não mais fazer do teatro um emprego a mais. Largaram todo o resto. Trabalhariam noite e dia se fosse preciso, para ficar só com o que gostavam. Tiveram de realmente trabalhar dobrado para manter o pé no palco. "Chegamos a fazer cinco apresentações por dia de uma peça infantil", diz a atriz Patrícia Selonk, londrinense e também fundadora da companhia. Isso, é claro, além das oficinas, aulas para crianças, circo e outros trabalhos que complementavam a renda.

Com o tempo, conseguiram um espaço próprio e respeito dos colegas de classe. Era hora de tomar uma decisão ainda mais corajosa. Londrina não tinha mais como fornecer público para as peças. E o grupo precisava viajar o tempo todo para se bancar. Estavam casando, tendo filhos, precisando pagar cada vez mais contas. E ficar em lugar de onde não precisassem sair sempre. A saída encontrada foi deixar Londrina – de onde ainda dizem sentir saudades diárias – para ir ao Rio de Janeiro.

Patrocínio

Os integrantes do Armazém dizem hoje que estão cada vez mais perto de chegar aonde queriam quando começaram tudo. Conseguiram ser uma das poucas companhias de teatro do Brasil a receber o patrocínio da BR Distribuidora. Há cinco anos, a Petrobrás paga salários a eles e os ajuda no custo das produções.

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Cada peça fica em cartaz no Rio de Janeiro por cerca de cinco meses, no teatro próprio da companhia. E depois viaja, também, com tudo pago, para as principais capitais do país. Falta alguma coisa. "Só o que eu queria agora é que nós tivéssemos a chance de mostrar o nosso trabalho fora do país", diz a atriz londrinense Simone Mazzer, há dez anos no grupo. "Mas nem imaginei que nós fôssemos chegar até aqui", diz, orgulhosa de suas conquistas.