Em Protegendo o Inimigo, filme que chega aos cinemas brasileiros na próxima sexta-feira, Denzel Washington é o suposto vilão da história: Tobin Frost, um agente da CIA desertor e corrupto, capturado na Cidade do Cabo, África do Sul. Conduzido a um esconderijo, ele é mantido sob vigia pelo novato Matt Weston (Ryan Reynolds), que vê na chegada do prisioneiro uma oportunidade de mostrar serviço e se firmar profissionalmente.
O que nem Weston nem Frost esperam é que, durante um interrogatório, o local onde estão instalados, teoricamente secreto e seguro, seja invadido por um grupo de mercenários, dispostos a eliminar o ex-agente, que sabe demais para permanecer vivo. Resta, então, aos dois se aliarem para que permaneçam vivos.
Dirigido por Daniel Espinosa, cineasta sueco de ascendência chilena, Protegendo o Inimigo dá a Denzel Washington a oportunidade de viver mais um personagem moralmente ambíguo, com traços vilanescos, mas, por conta do talento dramático do ator americano, capaz de deixar entrever lampejos de humanidade. Aliás, é justamente fazendo esses papéis que o astro, único ator negro a vencer dois Oscars, costuma oferecer ao público interpretações mais marcantes.
Rebelde
A primeira estatueta, de melhor ator coadjuvante, veio por seu desempenho no drama histórico Tempo de Glória (1989). No épico de Edward Zwick, tocante história de um regimento de soldados negros que lutou ao lado dos ianques do Norte na Guerra de Secessão (1861-1865), Washington vive o papel do recruta Trip. Trata-se de um ex-escravo agressivo e rebelde, resistente à ideia de se entregar a uma luta que não julga ser sua, mas dos brancos que o oprimiram.
Personificação da revolta, do inconformismo, Trip deu ao ator, então com 35 anos, a oportunidade de mostrar sua capacidade de interpretar personagens complexos, livres dos clichês de heroísmo e vitimização. O recruta não é um coitado e nem busca a simpatia do público.
Cinebiografias
Washington já havia sido indicado ao Oscar de coadjuvante antes, pelo filme Grito de Liberdade (1987), de Richard Attenborough, no qual vive o ativista sul-africano Stephen Biko, assassinado em 1977 pelo regime do apartheid. Voltaria a concorrer ao prêmio, agora na categoria de melhor ator, por seus desempenhos em dois outros filmes baseados na vida de personagens históricos: Malcolm X (1992), de Spike Lee, sobre o líder norte-americano convertido ao islamismo e também morto em um atentado, no ano de 1965; e Hurricane: o Furacão (1999), sob a direção de Norman Jewison, em que é o boxeador Rubin "Hurricane" Carter, preso e condenado por um assassinato que não cometeu.
Psicopatia
A tão sonhada estatueta de melhor ator, no entanto, só veio mesmo com Dia de Treinamento (2001), de Antoine Fuqua, sucesso de bilheteria e de crítica. Washington tornou-se apenas o segundo negro até então a vencer nesta categoria o primeiro havia sido Sidney Poitier, por Uma Voz nas Sombras (1963) após o brihante desempenho como o detetive Alonzo Harris, um policial de Los Angeles corrupto e com traços de psicopatia que transforma a vida do novato Jake Hoyt (Ethan Hawke) em um verdadeiro inferno.
À época da premiação, que também fez de Halle Berry a primeira e única negra a vencer o Oscar de melhor atriz, por A Última Ceia (de Marc Forster), alguns críticos chegaram a questionar por que Washington havia sido finalmente reconhecido por um papel de vilão quando já havia interpretado tantos heróis uma abordagem no mínimo simplista de uma atuação que vai bem além da maldade do personagem, na verdade um homem de mente doentia, cujos atos de crueldade (que beira o sadismo) são humanizados pela composição inspirada de Denzel.
Mais recentemente, outro trabalho notável na carreira do ator foi no filme O Gângster (de Ridley Scott), em que ele volta a encarnar um personagem verídico, Frank Lucas, que na década de 1970 comandou o tráfico de heroína em Nova York e se tornou uma obsessão para o detetive Richie Roberts (Russell Crowe), que leva o desejo de prendê-lo.
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