Mês a mês
Acompanhe as ações da Cia. Brasileira de Teatro em 2010:
Janeiro
Ensaiam Vida.
Fevereiro
Vão a Paris com o projeto Distraídos, Venceremos. Apresentam Descartes com Lentes na Sobornne 3.
Março
Vida estreia no Festival de Curitiba. Viajam a Natal (RN) para criar com a Casa da Ribeira a peça adolescente Meu Nome.
Abril
Vida faz temporada no Teatro José Maria Santos. Descartes com Lentes vai ao Festival Alternativo de Bogotá.
Maio
Vida vai ao Rio de Janeiro e ao interior paranaense.
Junho
Vida vai ao Filo, em Londrina.
Julho
O Que Eu Gostaria de Dizer faz temporada no Rio e Vida em São Paulo.
Agosto
Vida vai ao FIT Belo Horizonte. Fazem intercâmbio com o grupo Quatroloscinco.
Setembro
Vida vai ao Festival Mirada, em Santos, e ao FITA, em Angra dos Reis.
Outubro
Participam do Acto 2, em BH, com o Espanca! e o XIX de Teatro. Vida vai ao Fiac, em Salvador. Ensaiam Oxigênio.
Novembro
Vida faz temporada em São Paulo.
Dezembro
Estreia Oxigênio. Trocam pacotes de provocações artísticas com o Espanca!, pelo Rumos Itaú Cultural.
2011
Em janeiro, Marcio Abreu fará residência no Centro de Dramaturgia de Limonge, França, para uma montagem binacional. Oxigênio volta ao cartaz no Fringe.
Há exatamente um ano, o Caderno G publicava uma reportagem sobre a preparação do futuro espetáculo da Companhia Brasileira de Teatro (CBT). Vida só estrearia em março, mas a atriz Giovana Soar esperava que elevasse o grupo curitibano a um novo patamar de criação. "O resultado dessa peça vai ser diferente."
Giovana estava certa. 2010 foi o ano da maturidade artística da CBT. Vida se destacou no 19.º Festival de Curitiba e recebeu críticas que consagraram a companhia como uma das mais importantes em atuação, se lançando em desafios arrojados e apontando caminhos para o teatro brasileiro. Algo que o Prêmio Bravo! de melhor espetáculo e cinco troféus Gralha Azul só confirmaram.
A explicação para tal sucesso passa pela união de foco artístico com condições estruturais favoráveis. Por dois anos, Marcio Abreu, Nadja Naira e Giovana Soar a tríade fundamental, à qual veio se somar Cassia Damasceno se mantiveram com recursos da Petrobras. Puderam abrir uma sede no Largo da Ordem e dedicar tempo à pesquisa da obra de Paulo Leminski para elaborar um espetáculo que juntasse as inquietações do poeta às suas. "Tivemos tranquilidade para estudar e chegar ao que chegamos", diz o diretor.
Não são fixas as funções no grupo. Há, sim, aptidões. Nadja cuida das questões técnicas, Giovana e Cássia, da produção, e Marcio, da direção artística. Mas podem atuar ou dirigir, e outros atores são convidados segundo afinidades, caso de Rodrigo Ferrarini e Ranieri Gonzalez em Vida.
Som e fúria
Marcio, 40 anos completados este mês, se mudou para Curitiba adolescente, vindo do Rio de Janeiro. Amigo de Felipe Hirsch e Guilherme Weber, de sua mesma geração, coproduziu A Vida É Cheia de Som e Fúria. A peça que projetaria a Sutil para fora dos limites curitibanos está na origem da CBT o nome da companhia surgiu numa passagem do diretor por um festival na Nicarágua, onde era o único representante tupiniquim. Mas o primeiro espetáculo independente seria Volta ao Dia, o mesmo que atraiu Nadja Naira e Giovana Soar.
Nadja, 38 anos, havia atuado em O Vampiro e a Polaquinha. Conhecia bem a cena local como iluminadora. Quase sempre autônoma, criou para Fernando Kinas, Suely Araújo, Marcelo Marcchioro. "Já pensava que a luz tinha uma função maior do que o efeito bonito", diz. Foi iluminar Volta ao Dia e não achou mais motivo para deixar a companhia.
Foi parecido com Giovana, 41 anos também completados este mês. Ela cativou atenções como a criada Mary Warren de As Bruxas de Salém, antes mesmo de terminar a faculdade de direção teatral na turma de Paulo Biscaia. "Era o auge de Marcelo Marchioro, foi uma junção planetária, três horas de peça." Após uma temporada na capital francesa, entre 1992 e 97, foi para São Paulo interessada em fazer a programação de espaços culturais como o Teatro Alfa, onde conheceu Pina Bausch.
Largou o emprego por estresse e se envolveu na produção de Volta ao Dia. "Tudo o que eu tinha trazido da França, peças que traduzi para mim, mostrei ao Marcio. Ele me trouxe de volta ao teatro", diz Giovana.
Aos três outros integrantes, Cassia se juntou há menos tempo. Havia sido atriz da CiaSenhas, trabalhado com o ACT e a Obragem, e na bilheteria do Teatro da Caixa. Chegou à companhia por convite de Giovana, que buscava reforço para o projeto Leminski.
Criação
Dê uma olhada nos sugestivos títulos dos espetáculos da CBT: O Que Eu Gostaria de Dizer?, Vida, Oxigênio, (e a ainda inédita)Isso Te Interessa?. "O que interessa à companhia?", pergunta a repórter. "É o público" responde Marcio "e que esse encontro se dê." "Qualquer história que diga respeito às pessoas de hoje, ao pé do ouvido", completa Giovana.
"Como espectador, ainda adolescente, eu tinha dificuldade de ouvir o que era dito no teatro. Isso se tornou uma obsessão para mim. O primeiro desafio é chegar ao público sem condicionamento", diz o diretor. Ele batalha para tornar o teatro uma experiência presente, trocando toda sorte de repetição condicionada (a "representação") pelo encontro genuíno com o público daquela noite. Como diz Viripaev em Oxigênio, o que acontece é "aqui e agora". "Passei duas semanas com o [ator] Rodrigo Bolzan para trabalhar só essa frase. Não é preciosismo", diz o diretor.
Trata-se de um posicionamento complicado para atores acostumados a outro modo de atuar quase todos, aliás. Exige capacidade de escutar, precisão na ação, na fala e no ritmo. "É um trabalho diário, que a gente faz em Vida", diz Nadja.
Sem perder a atenção na criação artística, uma marca do grupo é a sucessão de projetos. Oxigênio ganhou elenco distinto de Vida para ambas se manterem em cartaz ao mesmo tempo. Giovana se tornou uma empreendedora das traduções do francês. Sob seus cuidados, Marcio traduziu Isso Te Interessa?, peça de Noëlle Renaude que vão estrear dia 15 de setembro, no Novelas Curitibanas.
O diretor resume em três os campos de atuação da companhia: lançar autores novos, criar textos originais e lidar com clássicos. Esta última é a menos experimentada, mas até 2012 o grupo pretende montar um "clássico inédito" no Brasil qual, não revelam, para proteger o ineditismo até lá.