"A Música e a Cena": um panorama simples e eficaz do teatro musicado

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O espetáculo A Música e a Cena vai direto ao ponto em seu objetivo de situar grandes canções na história do teatro musicado brasileiro. Ambientado na ligação entre palco e camarim pelo cenário composto com elementos de fora da cena e a partir de uma curta versão a capela de Cida Moreira para "Bastidores" –canção de Chico Buarque tornada célebre na voz de Cauby Peixoto –, o show se desenrola cronologicamente depois de "Beatriz" – canção de Edu Lobo e Chico Buarque feita por encomenda do Balé Guaíra para O Grande Circo Místico (1983).

Resumindo a primeira metade do século, Cida passa pelas canções "O Ébrio", de Vicente Celestino (que inspirou uma peça homônima na década de 1930), "Cocaína", de Sinhô (década de 1920), e "Deus Lhe Pague", de Chico Buarque, gravada em 1971 e que leva o título da peça de Joracy Camargo encenada em 1933. Em seguida, percorre canções do teatro político dos anos 1960, como "Estatuinha" (Arena conta Zumbi, 1965) e "Funeral de um lavrador" (Morte e vida Severina, 1969), e segue até o fim do século 20, com canções como "O Amor" (O Percevejo, 1981) e "Suburbano Coração" (1989), para então resgatar, em tom de saudosismo, Os Saltimbancos (1977), com "Minha Canção" (Chico Buarque, Luis Enriquez Bacalov e Sergio Bardotti).

O espetáculo é franco quanto ao pouco tempo de preparação e à simplicidade da montagem. As canções são intercaladas com a leitura descuidada de um texto – recurso que funciona no clima de ensaio e no ambiente de bastidores onde se passa o show – e pouco se faz para evitar o tom professoral e linear da apresentação – com exceções como a bem-humorada leitura de um trecho de Liberdade, Liberdade de Flávio Rangel e Millôr Fernandes.

Amparadas pela execução competente dos sóbrios arranjos de Alexandre Brasolim e por um cenário modesto, com estética um tanto manjada e projeções simplórias, são as expressivas interpretações de Cida que sustentam o espetáculo – destaque para "Geni e o Zepelim" e para a aleatória execução de "Back do Black", de Amy Winehouse, com interpretação rasgada e bêbada de Cida ao piano. Sem subverter expectativas, A Música e a Cena entrega de forma fácil e eficaz o que promete – um quadro de canções que compõem o panorama de um teatro musicado memorável.