Imagem da série Trabalhadores, de Sebastião Salgado| Foto: Sebastião Salgado

"Cada uma de minhas fotos é uma escolha. Mesmo nas situações difíceis preciso querer estar presente a assumir essa presença. Aderindo ou não ao que está acontecendo, mas sempre sabendo por que estou ali. Seguir os sem-terra foi minha maneira de participar de seu movimento. Mostrar as imagens da fome na África, uma maneira de denunciá-la; Em toda parte, essas imagens suscitaram reações. A fotografia é uma escrita tão forte porque pode ser lida em todo o mundo sem tradução."

Trecho de Sebastião Salgado, Da Minha Terra à Terra, biografia do fotógrafo.

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Temática social é recorrente na obra do brasileiro
O retrato da realidade rendeu ao fotógrafo uma série de prêmios internacionais
Exilado na Ditadura Militar, Salgado começou a carreira na França
Foto do projeto Gênesis, em que se dedicou à natureza
Foi a primeira vez que Salgado não fotografou o homem
Gênesis foi editado em livro no ano passado, que ficou meses na lista dos mais vendidos
Biografia Sebastião Salgado, Da Minha Terra à Terra Sebastião Salgado, com Isabelle Francq. Editora Paralela, 160 págs; R$ 24,90
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As imagens fortes em preto e branco do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado se tornaram notórias em todo o mundo. Foram vários anos encarando o retrato do homem, até que Salgado resolveu lançar o projeto Gênesis, no ano passado, que também deu origem a um livro homônimo que mostra outra faceta do artista: o retrato da natureza. Além do sucesso com o projeto, cuja obra foi reimpressa e ficou por meses na lista dos mais vendidos de 2013, ele lança agora Sebastião Salgado – Da Minha Terra à Terra (Editora Paralela), que chega esta semana às livrarias. A obra inclui ainda um caderno de fotos, com 16 páginas.

SLIDESHOW: Confira algumas fotos de Sebastião Salgado

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O livro é um depoimento em primeira pessoa sobre as várias fases da vida de Salgado, desde o seu nascimento em 1944, em Minas Gerais, numa fazenda dentro do Vale do Rio Doce, até a concepção de Gênesis (que começou a ser pensado em 2002). As memórias passam ainda por seu exílio na França junto com a mulher, e também sua agente, Lélia (os dois estão juntos há 45 anos, e se conheceram muito jovens em Vitória, no Espírito Santo, para onde Salgado se mudou aos 15 anos para estudar), e pela sua formação em economia.

Salgado faz, acima de tudo, uma declaração de amor à fotografia. Afinal, como bem lembrou seu pai, ele correu o risco de acabar sendo motorista de trator. Foi a "sorte", como pontua no depoimento, que o levou para a área, e a conhecer mais de 120 países. Pelos seus retratos, ganhou inúmeros prêmios e é doutor honoris causa em quatro universidades, como o Instituto de Artes de Boston, nos Estados Unidos, e a Universidade de Évora, em Portugal.

As palavras de Salgado logo no início da obra são essenciais para qualquer fotógrafo: quem não gosta de esperar, por exemplo, não pode se arriscar. Quem fotografa, assim como um caçador, precisa ficar sempre "à espreita." Quando esteve em Galápagos, em 2004, ele se deparou com uma tartaruga gigante, que se afastava dele à medida que ele chegava mais perto. Se colocou no lugar do bicho, se agachou e ficou na mesma altura que ele, com as palmas e joelhos no chão. Eis que a tartaruga parou de fugir. Ele então entendeu que, na natureza, é necessário respeitar o território.

Antes de Gênesis, o artista só havia retratado o homem. Seu estilo de trabalho levou o público e a crítica a defini-lo como fotojornalista, ou militante, pela temática social recorrente e por seu posicionamento político de esquerda. Ele discorda de ambos e define: "a fotografia é minha vida."

Projetos

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O fotógrafo vive até hoje na França (se mudou para o país em 1973), onde iniciou a sua carreira, mas está no Brasil este mês para o lançamento do último livro, em São Paulo. No dia 13, a Fest Foto Poa, em Porto Alegre, inaugura a exposição Gênesis, com 250 fotografias, que serão expostas na Usina do Gasômetro. Também poderemos ver Salgado retratado no cinema em 2014. O consagrado cineasta alemão Wim Wenders, que nos últimos anos dirigiu os documentários Buena Vista Social Club (1999) e Pina (2011), lança em outubro um filme sobre o fotógrafo.

Sebastião Salgado