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Andréia Horta no papel-título da série Alice: viagem psicodélica à la Lewis Carroll | Fotos: Divulgação/HBO Brasil
Andréia Horta no papel-título da série Alice: viagem psicodélica à la Lewis Carroll| Foto: Fotos: Divulgação/HBO Brasil
  • Depois da morte do pai, Alice (à dir.) se perde na vida intensa de São Paulo

A palavra "oxigenação" circulou pela boca de muita gente durante a exibição para a imprensa dos dois primeiros episódios da série Alice, terceiro projeto nacional produzido pela HBO em parceria com a Gullane Filmes, que estréia no próximo domingo, às 22 horas – os primeiros foram Mandrake e Filhos do Carnaval.

Sob direção de dois cineastas da nova geração, o cearense Karim Aïnouz (Madame Satã e O Céu de Suely) e o baiano Sérgio Machado (Cidade Baixa), o projeto televisivo ganha o frescor e – na medida em que é possível à linguagem – o peso de uma produção cinematográfica – um desafio que a dupla desejava imprimir à série desde o seu embrião.

"(Alice) não é tevê, é cinema. A gente não abriu mão do acabamento visual e da qualidade da interpretação do elenco, exatamente como fazemos em nossos filmes", afirma Machado. Realmente. O bom elenco, quase que exclusivamente formado por rostos desconhecidos ou reconhecidos apenas dos palcos, é responsável por fazer com que, como define Aïnouz, "corra sangue nas veias" dos personagens. "Eles mostram ambigüidade, contradições, do contrário, seriam só tipos", diz a curitibana Guta Ruiz, que interpreta a workaholic Renata, dona da produtora de eventos Tribeca.

A história contada inicialmente em uma temporada de 13 episódios gira em torno de Alice, uma garota de Palmas, de 26 anos, que, como sua xará da história clássica de Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas, atira-se na toca do Coelho – no caso do seriado, a metrópole de São Paulo, para onde acaba sendo tragada após o suicídio do pai. A intérprete é a mineira Andréia Horta, de 25 anos, que tem no currículo papéis na minissérie JK, da Rede Globo, e na novela Alta Estação, da Record.

A cidade fascina não só a jovem – que deixa namorado (Marat Descartes), avó (Walderez de Barros) e irmão (Felipe Massuia) em Tocantins –, mas os diretores e a toda a equipe da produção, formada quase majoritariamente por "estrangeiros", ou seja, não-paulistas. Na apresentação de cada ator aos jornalistas, todos se definiram como "Alices", hipnotizados pela vida movimentada de São Paulo.

"Quando a série foi pensada, já tínhamos a idéia de transformar São Paulo em personagem, trazê-la para dentro da história, e não mostrá-la apenas como cenário. A cidade é generosa, devido ao movimento incessante, ao relevo. Onde você aponta a câmera, há um plano de ação", diz Aïnouz.

"Solaridade"

Os diretores nordestinos registraram com duas câmeras super 16 milímetros as ruas, os prédios, os carros, as noitadas, as luzes noturnas, de uma forma que definem como "encantada" e quase hipnótica – inspirados, em boa medida, na aventura psicodélica criado por Carroll. Mas, também mostram o lado devorador da metrópole, "capaz de roubar o amor da vida de um cara", como define o ator Marat Descartes, ao falar da relação de Alice com a cidade.

Mas o filme é, sobretudo, solar. Até as prostitutas e travestis da praça Roosevelt são mostrados (no segundo episódio, "O Tesouro de Alice") de forma pitoresca e divertida, mas destituída de julgamentos, o que revela o olhar estrangeiro dos diretores – e da protagonista, seduzida pelas novas possibilidades que se abrem para ela a cada nova aventura pela paulicéia desvairada.

"Usamos a palavra solaridade desde o início. Sentia falta de alegria, de explosão e de otimismo no que eu via no cenário audiovisual", diz o diretor do sombrio e tenso Madame Satã.

No primeiro episódio, "Pela Toca do Coelho", Alice está prestes a se casar, quando recebe a notícia inesperada da morte do pai, Ciro, em São Paulo. No enterro, ela encontra a madrasta, Irislene (Carla Ribas, de A Casa de Alice); a meia-irmã, a pequena Regina Célia (Daniela Piepszyk, de O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias); e a tia Luli, irmã do pai (Regina Braga). Na volta para casa, perde o vôo e acaba se enredando na cidade. Liga para uma amiga, Dani, que a leva para a balada, onde conhece o DJ da festa, com quem passa a noite. Depois disso, decide passar mais tempo em São Paulo, com a tia, para refletir sobre a vida.

Após o primeiro episódio, introdutório, cada um dos treze capítulos seguintes será uma incursão a um universo específico da cidade. No segundo episódio, Alice se emprega como recepcionista da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo – deixa aproveitada pelos diretores para incluir cenas de São Paulo S.A., de Luis Sérgio Person, e a participação de Marina Person, filha do cineasta e autora do documentário Person. Segundo Machado, "a homenagem é mais do que justa, já que este é um dos filmes mais bonitos filmados em São Paulo".

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A repórter viajou a convite da HBO Brasil.

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