Números
14 milhões de cópias de Graceland foram vendidas em todo o mundo.
2 Grammy foram vencidos por Graceland: álbum do ano (1987) e gravação do ano (1988), para a canção "Graceland".
Antes do lançamento de Graceland, sétimo álbum solo do cantor folk norte-americano Paul Simon, o termo world music até era usado. Mas não havia sido incluído no glossário corrente do público até porque, bastante vago, servia (e ainda serve) apenas para classificar gêneros sonoros e ritmos que estão à margem do que é lançado em larga escala pela indústria fonográfica nos Estados Unidos e na Europa.
Mas o fato é que o disco, que venceu o Grammy de melhor álbum de 1987 e vendeu 14 milhões de cópias em todo o mundo, se tornou um clássico do pop-rock ao borrar as fronteiras entre o chamado mainstream e os sons produzidos em outros cantos do planeta, a tal world music. E não apenas por meio de uma assimilação oportunista e casuística.
VÍDEO: Clipe da música "Diamonds on the Sole of Her Shoes"
Há muito a ser ouvido em Graceland, que chega aos 25 anos de vida em uma luxuosa edição comemorativa, remasterizada e com direito a sete faixas bônus, incluindo uma na qual o próprio Simon narra em primeira pessoa a saga por trás da produção do CD.
A folk music de Simon, que fez história nos anos 60 e 70, tanto no período em que formava dupla com Art Garfunkel quanto em seus primeiros LPs solo, absorve, se transmuta e ressurge com um frescor que deixou atônitos tanto a crítica quanto o público no momento em chegou ao mercado, em 1987. Mas não impunemente.
Esta edição especial de Graceland também inclui o documentário Under the African Skies (título de uma das canções do álbum), que retrata o retorno de Simon à África do Sul para um concerto comemorativo aos 25 anos do disco, ao lado de muitos dos artistas que participaram das gravações originais, mas também resgata o turbulento processo de gravação e lançamento do álbum.
Boicote
Um dos temas centrais do filme é, justamente, todo o celeuma provocado por Simon ao desafiar o boicote cultural capitaneado pela entidade Artists Against Apartheid (Artistas Contra o Apartheid), fundada pelo ativista Dali Tambo, com quem o músico nova-iorquino se reencontra, e se reconcilia, 25 anos depois.
Como, em 1987, ainda vigia o regime segregacionista imposto pelo governo racista branco da África do Sul, esperava-se que o embargo internacional, de caráter político e econômico, também se estendesse à cultura, impedindo que qualquer colaboração entre artistas locais e estrangeiros passasse antes pela aprovação do Congresso Nacional Africano, partido de Nelson Mandela, que à época ainda estava preso. A ideia era de que, para acabar com o flagelo do apartheid, a saída seria isolar o país a todo e qualquer custo.
E Simon, em nome da liberdade de expressão, e talvez de uma certa ingenuidade, não fez qualquer consulta. Simplesmente embarcou para Johannesburgo, onde gravou várias faixas de Graceland ao lado de diversos grupos e artistas locais, entre instrumentistas e cantores, para repúdio dos militantes mais radicais dentro e fora do país africano.
Apesar da controvérsia, muito bem explicada e problematizada pelo documentário, o álbum, que conta com a participação de artistas sul-africanos, como o grupo vocal Ladysmith Black Mambazo (nas arrepiantes "Diamonds on the Sole of Her Shoes" e "Homeless"), sobreviveu ao tempo por conta de canções espetaculares como "Graceland", que conta com o baixista Bakithi Kumalo e o guitarrista Ray Phiri, "The Boy in the Bubble", coassinada pelo acordeonista Forere Motloheloa, e "You Can Call Me Al", que, segundo Simon, revela a perplexidade de um nova-iorquino como ele diante de um deslumbramento chamado África. GGGGG
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