Ariano Suassuna inverte as prioridades da literatura brasileira. No lugar da figura central de Machado de Assis, com sua escrita irônica e urbana, ele realça José de Alencar e o ideal romântico do primitivo. Em vez de Carlos Drummond e João Cabral, a poesia barroca de Gregório de Matos e as imagens cósmicas de Augusto dos Anjos. No lugar de Mário de Andrade e dos modernistas, o reencontro com o país real proposto, antes deles, por Euclides da Cunha.
Suassuna escreveu seu primeiro romance, A História do Amor de Fernando e Isaura, no ano de 1956, mesmo ano da posse de Juscelino Kubitschek e marco da era desenvolvimentista. Escreveu-o por sugestão do amigo Francisco Brennand, que lhe pediu uma versão nacional para a lenda romântica de Tristão e Isolda. Era um momento em que a auto-estima do país crescia.
Como os românticos, Ariano pratica uma literatura de alma nacionalista, com ênfase nos mitos, na tradição local e no legado espiritual. Ela se alinha, ainda, ao regionalismo dos anos 30, e a figuras emblemáticas como José Lins do Rego e Graciliano Ramos. Mas, ao optar por uma estética popular, Ariano relega a segundo plano a tradição literária e dá primazia aos folhetos de cordel, aos cantadores e aos ritos religiosos.
O teatro de Ariano, que tem como peça mais importante o Auto da Compadecida, se nivela à obra de dramaturgos militantes como Dias Gomes, Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal. Ainda assim, ao contrário dos três, escritores de declarada formação esquerdista, Ariano, que sofre forte influência do catolicismo popular, manipula uma ideologia mais conservadora e, em conseqüência, menos crítica.
Em vez da crítica, surge o humor, um elemento-chave no Auto da Compadecida, peça que se baseia não só em três conhecidos folhetos de cordel, mas tira seu protagonista, João Grilo, do próprio cordel. Trata de temas universais, como a relação entre vida e morte e entre o homem e Deus. Motivos que Ariano tempera com a descrição das feridas sociais, da luta sempre perdida contra a seca e da solidão política do sertanejo.
Em 1971, com o Romance dA Pedra do Reino, ele passa a buscar uma sincronia mais forte com o presente. O livro integra o espírito mágico do romantismo com temas remotos e atemporais caros ao cordel, às xilogravuras que ilustram suas capas e à música dos cantadores. Nele, o escritor trabalha um sentido duplo para a palavra romance, referindo-se não só ao gênero literário, mas à língua primitiva, um amálgama de dialetos derivados do latim, falada em parte da Europa após o declínio de Roma. Sua preocupação com as origens e com o arcaico se radicaliza.
A busca de apropriação do presente pelo passado se manifesta, ainda, no lançamento, no Recife, do Movimento Armorial, que propõe a criação de uma arte brasileira erudita baseada em raízes populares. A partir daí, Ariano investe em um projeto de recriação da cultura popular, do qual a literatura se torna o principal veículo. Elabora, ainda, uma Teoria do Poder, que opõe a arte popular criada pelos miseráveis à cultura das elites. Sua literatura se torna, em definitivo, um instrumento de resistência cultural.
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