Programe-se
Gabriela3ª a 6ª, às 23h. TV Globo.
- A patroete das curicas
- Jornalistas mais humanos, entrevistados mais verdadeiros
- Desenhos bem bolados para as crianças
Lançada numa das faixas mais cobiçadas por quem faz novela na TV Globo, Gabriela de Walcyr Carrasco dirigida por Mauro Mendonça Filho não se transformou no sucesso esperado. Sua repercussão é limitada e a audiência, menor do que a de O Astro, que ocupou o horário no ano passado. A produção tem alguns ótimos atores não se pode deixar de citar Antônio Fagundes, José Wilker, Ary Fontoura, Nélson Xavier, Chico Diaz, e há ainda muitos outros e cenografia e figurino grandiosos. Está mais ou menos tudo lá: os coronéis, a sensualidade da personagem-título, a moral da época no interior da Bahia, as fofoqueiras reverberando essa moral, e, em contraposição, o espírito libertário de Malvina (Vanessa Giácomo). Essa versão de Gabriela, no entanto, é apenas correta. Se fosse uma trama original, seria pouco. Em se tratando de um remake, trata-se de um desperdício.
A ausência de ousadia está no todo e nos detalhes. A escalação de Juliana Paes para o papel principal é um sintoma. A atriz é aplicada e sua Gabriela não soa falsa. Mas também não emociona, o que poderia ter ocorrido com a aposta numa desconhecida. Há ainda quem tenha se inspirado na novela de 1975, de Walter Jorge Durst. É o caso de Marcelo Serrado, uma espécie de versão atualizada de Fúlvio Stefanini, o Tonico Bastos de então. A fotografia é bonita, mas, no geral, tão convencional que, na última semana, uma sequência de colheita de cacau parecia uma propaganda institucional do governo da Bahia.
Chegaram ao cúmulo de repetir a cena de Gabriela subindo no telhado para recuperar uma pipa tal e qual na produção anterior. Mesmo se fiel à obra de Jorge Amado, a sequência é icônica e faz parte da antologia das telenovelas. Repeti-la fez dela apenas um pastiche do original. É bom lembrar que remakes de novelas que o público tem na memória afetiva são válidos. Mas com um olho no passado com a intenção de reavivar antigas emoções e outro no futuro com o firme empenho de reinaugurar o que ainda rende, enxergado por outros realizadores e de uma nova perspectiva. Sem isso, é melhor o YouTube, o Vale a Pena Ver de Novo ou o canal de tevê fechada Viva.