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| Foto: Flávio Moraes/Divulgação

Adaptações

João Ubaldo Ribeiro teve várias de suas obras transportadas para o cinema e para a televisão, tendo, inclusive, participado do processo de criação delas:

• Sargento Getúlio

Filme premiado em 1983, dirigido por Hermano Penna e protagonizado por Lima Duarte.

• O Sorriso do Lagarto

Romance adaptado em 1991 para uma minissérie na Rede Globo, que teve como protagonistas os atores Tony Ramos, Maitê Proença e José Lewgoy.

• O Santo Que Não Acreditava em Deus

O próprio autor adaptou o conto em 1993 para a série Caso Especial, da Rede Globo, que teve Lima Duarte no papel principal.

• Já Podeis da Pátria Filhos

O cineasta Cacá Diegues comprou os direitos de filmagem do livro em 1997, mas o filme não foi produzido.

• Viva o Povo Brasileiro

Em 1998, o cineasta André Luis Oliveira comprou os direitos autorais do romance.

• Deus É Brasileiro

Juntamente com Cacá Diegues, João Ubaldo escreveu o roteiro de Deus É Brasileiro, a partir do conto "O Santo Que Não Acreditava em Deus". O longa-metragem foi lançado em 2003 e, no ano seguinte, rendeu o troféu da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) ao ator Wagner Moura.

Há cerca de dois anos, o escritor baiano João Ubaldo Ribeiro acordava todos os dias às 4 ou 5 horas da manhã para aproveitar o sossego do horário e se sentava para escrever um novo romance. Por volta das 10 horas, quando começavam os ruídos da casa, ele parava. Em busca de tranquilidade para escrever, ele vinha cancelando compromissos e negando os convites que chegavam diariamente, como participações em feiras literárias, conferências e homenagens. Fazia reuniões de trabalho apenas por Skype ou e-mail, pois não gostava de falar por telefone.

Na madrugada de sexta-feira, 18, Ubaldo acordou antes do normal. Por volta das 3 horas se sentiu mal e chamou pela mulher, a psicoterapeuta Berenice Batella, com quem morava na companhia da filha Francisca, no bairro Leblon, no Rio de Janeiro. Rapidamente, chegaram paramédicos que tentaram reanimá-lo. Às 3h30, foi constatada a morte do escritor. "Foi muito rápido e muito triste. Ubaldo era uma pessoa muito agradável, um gentleman, tinha uma delicadeza ao lidar com o ser humano", diz a secretária do escritor há dez anos, Valéria dos Santos, que não soube dizer qual é o tema do romance inacabado. "Ele não me contou, dizendo que queria me proteger, porque se eu soubesse todos me pressionariam para contar".

Valéria revelou ainda que, em maio, Ubaldo foi internado no Hospital Samaritano com dificuldades respiratórias. Na ocasião, seu cardiologista o alertou para a necessidade de cortar em definitivo o cigarro – Ubaldo fumou a vida inteira. Ele chegou a reduzir a quantidade de cigarros, mas não parou. A causa da morte foi embolia pulmonar. O escritor deixa mulher, Berenice de Carvalho Batella Ribeiro, e quatro filhos: Bento e Francisca (do casamento atual) e Manuela e Emília (de seu primeiro casamento, com Mônica Maria Roters). O corpo de Ubaldo foi velado ontem, na sede da Academia Brasileira de Letras e o enterro será realizado na manhã deste sábado, no Mausoléu da Academia, no Cemitério São João Batista, em Botafogo.

Legado

Um olhar crítico em relação ao Brasil, sempre com humor e ironia, é uma das características mais relevantes apontadas por escritores entrevistados pela Gazeta do Povo sobre a obra de João Ubaldo Ribeiro. "No meu entender, o grande traço dele foi a sátira. Ele consegue demolir todos os mitos que a cultura brasileira tem. Mesmo quando olha para a miséria, ele tem um olhar humorístico, corrosivo, não deixa pedra sobre pedra", acredita o escritor e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Paulo Venturelli. Para ele, Viva o Povo Brasileiro reconta a história do país. "Ele tinha capacidade de criar personagens extremamente vívidos, que pulsam na página.Você vê a paixão dele pela cultura brasileira."

Para o escritor e colunista da Gazeta do Povo, Cristovão Tezza, Ubaldo foi "o último grande prosador brasileiro do século 20, de uma tradição romanesca popular que conversava diretamente com o país, na esteira de Jorge Amado e Erico Verissimo".

O presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Gerardo Holando Cavalcanti, declarou que a morte foi "uma grande perda para a Academia, para o romance e o jornalismo nacionais; João Ubaldo Ribeiro deixa uma obra de excelência." O escritor ocupava a cadeira número 34 da Academia, desde 1993. A ABL declarou luto oficial de três dias.

Autoridades como a ministra da Cultura, Marta Suplicy, e o governador da Bahia, Jaques Wagner, se manifestaram por meio de nota. "João Ubaldo Ribeiro possuía a sábia combinação de talento, profundidade e bom humor. Dono de ironia fina e escrita prazerosa, sua obra premiada e reconhecida dentro e fora do Brasil alcançou outras linguagens como o cinema e a tevê, ajudando a popularizar a literatura. A cultura brasileira perde um de seus grandes." O governo da Bahia e a Prefeitura de Salvador decretaram luto oficial de três dias pela morte do escritor.

A presidente Dilma Rousseff disse que "a literatura brasileira perde um grande nome."

Convivência

Além do olhar atento em relação ao Brasil, quem conviveu, mesmo que brevemente, com João Ubaldo Ribeiro, garante que ele era um personagem atípico e divertido. O escritor, idealizador do jornal Rascunho e diretor da Biblioteca Pública do Paraná (BPP), Rogério Pereira, acredita que Ribeiro foi uma espécie de anti-herói da literatura brasileira. "Ele era completamente distante da figura do escritor que a gente imagina. Era desprovido dessa vaidade, que é muito forte do meio literário. Era uma pessoa divertida. Contava piadas, imitava personagens, era extremamente agradável", conta Pereira, que trouxe o escritor a Curitiba em 2011, para abrir a sexta edição do Paiol Literário.

Na ocasião, João Ubaldo Ribeiro contou que sua casa sempre foi "muito cheia de livros", e que lia desde os seis anos de idade. "Li o Hamlet, sem entender nada do que eu estava lendo." Começou a escrever cedo, aos 17 anos, e publicou o primeiro livro, Setembro Não Tem Sentido, aos 26. Para ele, era difícil conciliar a vida de escritor "com qualquer coisa". "O mistério de escrever um livro requer, pelo menos no meu caso e no caso de muita gente que conheço, uma dedicação muito grande, uma concentração muito grande."

O editor do jornal Cândido (da BPP), Luiz Rebinski Junior entrevistou João Ubaldo Ribeiro várias vezes– em uma delas, o escritor contou sobre como traduziu Viva o Povo Brasileiro para o inglês. "É um caso meio raro, pois são poucas pessoas que fizeram isso com a própria obra", diz. As entrevistas tinham uma particularidade: Rebinski mandava as perguntas por escrito, e Ubaldo enviava as respostas gravadas em áudio. "Ele era super acessível, mas acho que estava um pouco cansado de digitar. Aí ele respondia, com aquela voz cavernosa. Era um escritor genial, com uma obra muito densa."

Imprensa

No jornalismo, o autor começou aos 17 anos, no Jornal da Bahia, e chegou a ser diretor de redação. Ribeiro também era colunista do jornal O Estado de S. Paulo. "Ele cumpriu uma função muito importante, que é o escritor pensar e discutir o Brasil através da imprensa. Também gostava muito do jeito que ele escrevia, ele cultuava a língua portuguesa. Você consegue ver o cuidado dele com a palavra, com a escolha da frase", frisa Rogério Pereira. Outra faceta importante, acredita Paulo Venturelli, foi o uso do erotismo (sobretudo em A Casa dos Budas Ditosos, de 1999). "Normalmente, o autor brasileiro foge de cenas de sexo, que, em geral, são insinuadas. O João Ubaldo não, ele ia de frente, e não tinha medo de contar o milagre e o santo."

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