A permanência do efêmero

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"Um aluno do 1.º ano da Belas Artes resolve protestar à sua maneira, pelo corte que sofrera no Salão, vestindo-se com uma gaiola improvisada (...) cheia de pombos, que começam a pousar-lhe no peito, braços e cabeça, e muitos são soltos para sobrevoarem o ambiente."

Assim a crítica de arte Adalice Araújo descreve, em 1973, uma performance realizada por Sergio Moura em protesto ao Salão de Artes Plásticas para Novos. "É de Adalice a única documentação que menciona a ação crítica do artista", relembra o pesquisador de arte Paulo Reis.

Ele incorporou o texto ao verbete sobre a obra performática de Moura que faz parte do catálogo O Corpo na Cidade, que será lançado hoje, às 19 horas, no Solar do Barão. A publicação vem no encalço da exposição, com curadoria de Reis, O Corpo na Cidade – A Performance em Curitiba, realizada de outubro de 2009 a fevereiro deste ano no mesmo espaço. Mostra e livro fazem parte de um projeto do pesquisador aprovado no edital de ocupação de espaços da Fundação Cultural de Curitiba – FCC.

Reis, aliás, prefere nomear como livro, e não catálogo, o volume em preto e branco, de 128 páginas e capa em papel cartonado com imagens e verbetes de performances realizadas em Curitiba desde a década de 1970. "Mesmo com textos críticos sobre as obras apresentadas e imagens que registram a mostra, organizei a publicação de modo a torná-la autônoma como projeto de pesquisa e fonte independente para o pesquisador", conta.

A intertextualidade, ou seja, a utilização de outros textos além dos seus publicados em folhetos e jornais para elaborar os verbetes, foi uma das formas encontradas por Paulo Reis para discutir uma arte que se esvai, ao menos materialmente, logo depois que é posta em prática em atos que flertam com a dança, o teatro, as artes plásticas.

Restam da performance já realizada registros como as fotografias, vídeos e materiais escritos que foram utilizados por Reis para compor uma "exposição de vestígios, em que o público vai tentando dar sentido ao que já se realizou e agora está somente documentado". Material que também compõe a primeira parte do livro, formada por fotografias e stills (fotografias de vídeos) organizados em ordem cronológica, antecedendo a publicação dos verbetes em ordem alfabética.

"A ideia também é discutir a performance dentro do contexto da arte brasileira, de que modo ela vem tratando movimentações mais fugidias como a intervenção urbana, a arte por correio, a arte de carimbos, entre outras, que de certo modo ainda não têm presença nos museus porque muitos museus ainda não sabem o que fazer com esse tipo de material", diz.

A publicação, gratuita, será distribuída a bibliotecas, faculdades de arte e centros de pesquisa de museus e pode ser solicitada à FCC.

Serviço

Lançamento do catálogo O Corpo na Cidade, de Paulo Reis. Solar do Barão (R. Carlos Cavalcanti, 533), (41) 3321-3367. Dia 24, às 19 horas.