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O maior mérito da comédia "A Sogra" é sua capacidade de aproveitar a vida pública dos atores escalados para incitar o riso. Isso quer dizer que a volta da musa Jane Fonda para o cinema, depois de 15 anos de jejum e aos 67 de idade, alude ao passado conturbado da atriz. No mais, o diretor Robert Luketic, responsável pelo acertado "Legalmente Loira", bate ponto ao encadear algumas cenas de humor escrachado em uma história romântica bastante comum, mas nem por isso ineficaz.

Jennifer Lopez interpreta Charlotte Cantilini, uma garota humilde, bonita, prendada e cercada de amigos simpáticos. Ela está em busca de amor quando abre um jornal e consulta o horóscopo. Dito e feito: como sugere o guia astrológico, Charlotte apaixona-se pelo primeiro rapaz que vê na praia, o Dr. Kevin Fields (em interpretação bonachona e fria de Michael Vartan). Esse encontro, filmado à moda do seriado "Baywatch", já denota que não estamos diante de um filme romântico que se leva muito a sério, demonstrando alguma disposição para mexer com o gênero.

O longa soma pontos ao apresentar a personagem de Viola Fields (Fonda), mãe de Kevin, em um equivalente feminino de Robert De Niro em "Entrando numa Fria". Mulher gloriosa, solitária e decadente, ela também é uma mãe extremamente possessiva. Eventualmente, Viola parte para a baixaria para "proteger" o filho.

O que interessa aqui é o valor que Luketic consegue agregar à personagem de Fonda (e, em menor medida à de Lopez), a partir do que a atriz é na vida real. A riqueza e fama conseguidas às custas de um berço privilegiado, favores e relações amorosas com gente influente, assim como a nítida consciência política de Viola, são alusões à vida da artista.

A atriz, filha do celebrado ator americano Henry Fonda, casou-se com Roger Vadim (cineasta que a dirigiu em "Barbarella"), com o ativista político Tom Hayden e com o magnata das comunicações Ted Turner. Venceu dois Oscars por Klute e Amargo Regresso, e fez vídeos de ginástica nos anos 80. No filme, não há referências diretas, mas todas os estereótipos criados a partir da vida pública da atriz foram aproveitados em Viola. Fonda desempenha o papel em estado de graça, recheando-o com cacoetes cômicos e risadas diabólicas. Jennifer Lopez, por sua vez, tem atuação esforçada, mas apagada pela presença da colega veterana.

Outro detalhe curioso é a maneira com que a sogra megera persegue Charlotte. Ela quer impor um casamento grandioso, em uma igreja opulenta, e oferece presentes como uma enorme cruz cristã de jóias. Aquilo que deveria justamente simbolizar uma união "encantada" – ainda mais em um filme romântico – aqui é usado com efeito de desgosto e aversão.

Se não chega a ser subversivo, (o final é feliz e os contornos gerais são de uma história de Cinderela), "A Sogra" ao menos traz esses pequenos toques, que deixam o todo mais interessante.

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