Algumas derrotas são tão dignas que se convertem em vitórias. Veja o caso do político americano Al Gore, vice-presidente na gestão Clinton e perdedor na eleição que levou George W. Bush ao poder. Seu cacife nunca esteve tão em alta, e não só porque o resultado do pleito de 2000 continua sendo questionado (ainda vai levar um tempo para aquela famigerada recontagem de votos ser esquecida). Refeito do baque, Gore deu um tempo na política e retomou a defesa de seu tema preferido, mas um tanto abandonado durante o período na Casa Branca: a ecologia.
Amparado por uma estrutura multimídia high tech, o democrata tem corrido os Estados Unidos e boa parte do mundo (esteve em São Paulo no mês passado) apresentando palestras sobre os perigos do aquecimento global. São verdadeiros one man shows, com direito a telões de alta definição, animações assinadas pelo criador dos Simpsons e até uma grua (!) localizada no canto do palco. E como americano não dá ponto sem nó, a performance virou livro e filme de sucesso.
Difícil imaginar uma palestra transformada em longa-metragem. Mas Uma Verdade Inconveniente, em cartaz a partir de hoje em Curitiba, é exatamente isso ainda que os produtores (entre eles Lawrence Bender, de Pulp Fiction e Gênio Indomável) classifiquem como documentário. Com exceção de cenas ilustrativas e passagens "emotivas" sobre a vida de Gore, o filme se resume a 100 minutos de números e gráficos. Tudo muito convicente, porém um pouco entediante.
A sorte é que o político realmente sabe do que está falando, e se apóia em dados rigorosamente científicos para confirmar seu alerta. Aliás, alerta, e não alarme, é o melhor termo para definir sua abordagem. O que o deixa anos-luz à frente dos ecochatos de plantão por mais que eles tenham razão, sempre desconfiamos de seu tom exaltado e radical. Quem espera encontrar no longa o sensacionalismo divertido de um Michael Moore, vai se decepcionar.
Outro trunfo do democrata é um elegante senso de humor. Mesmo quando mostra uma impressionante série de fotos de grandes geleiras derretendo, Gore nunca soa agressivo. Tampouco catastrófico. Em determinada seqüência, sobre as chances de conter o aquecimento, ele lembra que o mundo tem, sim, conseguido controlar os danos à camada de ozônio.
É inegável que Uma Verdade Inconveniente muitas vezes descamba para a propaganda eleitoral, seja no conteúdo ou no tratamento das imagens. Mas, ao defender a idéia de que a questão ecológica é mais moral do que política, Al Gore presta um enorme serviço aos espectadores mais desinformados. Quando eles não tiram um cochilo entre tantos gráficos e números. GG1/2
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