Serviço
Lançamento do livro O Laçador de Cães, de Luiz Andrioli.
Hoje, às 17 horas, na Livraria Arte e Letra (R. Pres. Taunay, 130 fundos da Casa de Pedra, Batel), (41) 3223-5302.
Entrada franca.
O escritor e jornalista curitibano Luiz Andrioli, que lança hoje, na Livraria Arte & Letra, seu primeiro volume de contos, O Laçador de Cães, é ambicioso. Aos 35 anos, dos quais pelo menos oito dedicados ao ofício de repórter de televisão, ele se enxerga, enquanto autor, como uma espécie de contador de histórias capaz de lançar um olhar não apenas generoso, porém, sobretudo, mais aprofundado em direção à realidade que o cerca, a seus habitantes invisíveis. Como já viu tudo isso muito de perto, pretende trazê-los à tona em sua complexidade, os humanizando.
Os contos de Andrioli são povoados por gente aparentemente comum, desimportante, de Curitiba e região metropolitana vigias noturnos, catadores de papel, policiais, locutores de rádio, entregadores de jornal, soldadores, presidiários. Mas ninguém é coitado, vitimizado, até porque esses personagens não têm nada de secundários: eles protagonizam os contos. "Não fiz isso de caso pensado, mas acho que, como a ascensão da classe C, há uma escassez de histórias que retratem esse universo mais popular, que precisa ser representado."
Em entrevista à Gazeta do Povo, Andrioli contou que cresceu ouvindo muito rádio e, em sua memória, o jornalismo mais popular, sensacionalista, é uma referência bastante significativa, até porque já o exerceu como profissional. Mas, para ele, o papel de escritor é de outra ordem. Sente que a ficção lhe dá oportunidades de buscar registros mais problematizados, tridimensionais, capazes de dar atenção às sutilezas e às nuances que costumam ser deixadas de lado pela notícia.
Seleção
Antes de ser publicado, O Laçador de Cães, que ainda nem tinha esse título, foi um dos quatro selecionados, entre 194 inscritos, pela primeira temporada de originais, entre livros de contos e romances, seleção promovida pela editora paulista Grua. Na comissão estavam Carlos Eduardo Magalhães, proprietário da editora, e os escritores Rodrigo Lacerda e João Anzanello Carrascoza.
São, ao todo, 15 contos. O mais antigo, "Domingo no Bosque", foi escrito há 14 anos anos, e o mais recente, "O Abraço", há três. A escolha, fruto de um processo do que o autor chamou de "edição", feita por ele há dois anos em um periódo de afastamento temporário do jornalismo, deu ao livro uma unidade, um entrelaçamento temático e atmosférico entre as histórias narradas.
Em comum, além dessa já mencionada preocupação em abrir espaço a setores menos visíveis da sociedade, muitos dos contos têm o vínculo com o universo da comunicação e do jornalismo "Eu Nunca Conheci o Seu Pedro" e "Ladrão de Galinhas", por exemplo, têm personagens importantes que são repórteres. Em outra, "Letrinha de Professora, Coração de Bandido", Andrioli escolhe como protagonista um locutor de rádio, que se apropria de cartas de ouvintes, para a construção de narrativas melodramáticas, que depois ele reinventa sob a forma de livros que poucos leem.
É um dos pontos altos do livro, porque o autor se arrisca em buscar a intertextualidade, dialogando com a linguagem oral do rádio, em forma de depoimento, reconfigurada como texto escrito e ficcional.
Leitor ávido de Dalton Trevisan, cuja obra estudou em sua pesquisa de mestrado, e de Nelson Rodrigues, que descobriu a partir de uma aproximação do mundo do teatro, Andrioli, que também é ator, tem uma dicção, como escritor, evidentemente masculina. E, a partir dela, salpica de sexo suas tramas, embora este nunca seja o seu tema central. "O sexo está em tudo, o tempo todo, mas nem sempre de forma evidente", diz ele.
Em "O Abraço", que foi premiado no concurso nacional de contos Miguel Sanches Neto (2011), em Ponta Grossa, seu protagonista é um médico legista solitário que se excita diante da nudez dos corpos que examina. É outro destaque do livro, ao lado da narrativa que lhe dá título, sobre um homem que ganha a vida recolhendo cachorros desgarrados, para muitas vezes dar-lhes fim, e que guarda na própria história um abandono tão cruel quanto o destino reservado a esses bichos.
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