A redenção de Regina Benitez e um Venturelli para maiores

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A editora curitibana Kafka lança amanhã, no Jokers, às 20h30, um pacote de livros de dois importantes autores paranaenses: Paulo Venturelli e Regina Benitez (1934-2006).

São quatro obras da coleção Autores Inesquecíveis, duas de cada autor. De Ven­turelli, a coleção traz Meu Pai, primeiro romance adulto do autor que se notabilizou na literatura infantojuvenil, e também Histórias sem Fôlego, de narrativas curtas.

De Regina, são mais duas obras, ambas de contos. A Moça do Corpo Indiferente, cuja primeira e única edição foi lançada em 1965, e a Mulher com Avestruz. Este último reúne cerca de vinte contos que permaneciam inéditos, ainda que vários tenham sido premiados em diversos concursos. Os originais foram entregues por Greta Benitez, filha da autora, ao editor Paulo Sandrini, depois que ele manifestou interesse em resgatar a obra ficcional de Regina. "A ideia é valorizar grandes autores locais que tem suas obras pouco divulgadas", explica Sandrini.

A autora falecida em 2006 é, portanto, praticamente desconhecida da maioria dos leitores – ela é mais lembrada por sua atuação de décadas no jornalismo cultural de Curitiba e São Paulo.

Algo que estes lançamentos, em boa hora, podem redimir, já que Regina escreve uma prosa incomum, com linguagem refinada que cria narrativas, por vezes, surreais. Suas personagens femininas vivem em um universo onírico e estranho, em que bonecas de chocolate falam e um sujeito se apaixona pela mulher que mandou tatuar em seu braço depois que esta ganha vida.

Memória

As duas obras de Ventu­relli, por sua vez, mostram o "veterano" escritor fora de seu terreno habitual. Histórias sem Fôlego é um livro de pequenas narrativas repletas de crimes e perversões, que confrontam o senso comum e os falsos moralismos.

Já o romance Meu Pai é um livro de memória que marca o encontro do autor com sua própria trajetória de vida, sobretudo a infância e a convivência com a família católica no interior de Santa Catarina.

A figura central, o pai, é um italiano cheio de contradições: grosso e encantador. O pai briga pelos direitos dos operários, mas também adora futebol e os astros de cinema. É católico daqueles que vê pecado em tudo, mas, de vez em quando, rouba coisas para a família não morrer de fome. O pai, aliás, reapareceu no recém-lançado A Visita à Baleia, título infantil publicado pela Editora Positivo

Com coragem, Venturelli expõe a si e ao pai como pessoas de carne e osso, sem julgamentos e moralismos. Em Meu Pai também há um interessante panorama de um tempo difícil, não apenas para a família de operários interioranos, mas para todo um país marcado pela opressão política da ditadura Vargas.

Todo o projeto foi realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura – Mecenato Subsidiado, da Fundação Cultural de Curitiba.