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O alemão Hoffman foi, ao lado de Edgar Allan Poe, um expoente da literatura fantástica e pioneiro no gênero policial | Reprodução
O alemão Hoffman foi, ao lado de Edgar Allan Poe, um expoente da literatura fantástica e pioneiro no gênero policial| Foto: Reprodução
  • Serviço Quebra-Nozes e Camundongo Rei, de E.T.A. Hoffman. Tradução de Bruno Berlendis de Carvalho. Ilustrações de Nelson Provazi. Berlendis e Vertecchia Editores, 128 págs. R$ 45
  • Serviço A Senhorita de Scuderi, de de E.T.A. Hoffman. Tradução de Marcelo Backes. Civilização Brasileira, 144 págs. R$ 30

O escritor alemão Ernst Theodor Wilhelm Hoffmann (1776-1822), mais conhecido por seu nome artístico, E.T.A. Hoffmann (o "A" acrescentado é de Amadeus, sobrenome que o autor incorporou pela grande admiração que nutria pelo compositor Wolfgang Amadeus Mozart), é mais lembrado por seus escritos fantásticos, impregnados de uma fantasia pouco vigente em sua época. Com muitos de seus livros esgotados no Brasil, Hoffmann é hoje, para a nova geração de leitores, um autor que sobrevive da consagração de seu nome. É em boa hora, portanto, que duas histórias do autor, diferentes entre si e representativas de duas facetas diferentes de seu estilo literário, são relançadas: A Senhorita de Scuderi, pela editora Civilização Brasileira, e Quebra-Nozes e Camundongo Rei, pela Berlendis e Vertecchia Editores.

O romance curto A Senhorita de Scuderi, até então inédito no Brasil, se distancia estilisticamente da vertente mais consagrada do autor. Considerada a primeira novela policial da história da literatura alemã, a trama gira em torno da referida senhorita, escritora de inúmeras obras que, após uma misteriosa visita noturna de um estranho, é levada a investigar diversos crimes cujos motivos aos poucos vão sendo revelados. "Apesar de mais leve e menos fantasioso, é legitimamente uma obra do Hoffman, com as pontuações macabras típicas de sua obra", conta o tradutor e crítico literário Marcelo Backes.

Backes diz que, embora publicado originalmente num volume separado, em 1820, o texto integrou um dos volumes de Os Irmãos Serapião, obra gigantesca de Hoffmann que se assemelha ao Decamerão de Boccaccio: diversas histórias contadas por um grupo de amigos. "A Senhorita de Scuderi talvez seja a primeira obra policial nos moldes da literatura moderna. Edgar Allan Poe, que é considerado o pai do gênero, foi fortemente influenciado por essa história, e seu Os Assassinatos na Rua Morgue guarda semelhanças com a novela de Hoffman", acrescenta. "Apesar de ser narrativamente mais simples, A Senhorita de Scuderi alcança um escopo de profundidade típico do autor, em que se discute as relações entre arte e crime, a arte para o artista e a arte para seu público, e o encanto do artista diante de sua obra."

Fantasia e realidade

Talvez um de seus contos mais célebres, Quebra-Nozes e Camundongo Rei, escrito em 1816, ganhou notoriedade mundial na adaptação para o balé pelo compositor russo Tchaikovsky, em 1892. Mas mesmo nesse meio-tempo sua fama se espalhou pela Europa rapidamente. "A primeira tradução foi uma versão reduzida, e logo depois tivemos uma adaptação feita pelo Alexandre Dumas pai que garantiu a popularidade do Quebra-Nozes", conta o tradutor e editor do livro, Bruno Berlendis de Carvalho. Segundo ele, o trabalho que realizou neste conto de Hoffmann é a primeira tradução direta do alemão e a primeira versão integral. "De acordo com as minhas pesquisas, a edição disponível no Brasil datava da década de 1970", afirma.

O livro, ilustrado pelo artista Nelson Provazi, conta um episódio de Natal. Quando a menina Marie ganha de um artesão um pequeno senhorzinho quebra-nozes, diversos eventos estranhos acontecem: seus brinquedos e os brinquedos de seu irmão Fritz ganham vida, e um horripilante camundongo se propõe a acabar com a fantasia dos soldadinhos de chumbo e brinquedos viventes. "Hoffmann traça uma realidade fantástica completamente entrelaçada à nossa realidade, como num sonho. E ele não deixa nenhuma explicação para o ocorrido, nem o desmente ao final, como era comum na época. Seu universo pertence exclusivamente à ficção, e a verossimilhança é só mais um recurso, e não um decalque da realidade", explica Berlendis. O conto foi incorporado à coleção Os Meus Clássicos. "Pensamos nessa coleção a partir de uma das definições de clássico de Italo Calvino, que diz que um clássico é um livro que a gente conhece sem nunca tê-lo lido. O Quebra-Nozes e Camundongo Rei é um belo exemplo desse caso."

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