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Vídeo:| Foto: Reprodução RPC TV

O canibalismo é o tema de trabalho do drama "A Refeição", texto inédito do pernanbucano Newton Moreno, que estréia neste sábado (24) no Sesc da Esquina pela Mostra Oficial do 16.º Festival de Teatro de Curitiba (FTC). No entanto, a montagem que vem à capital paranaense não trata do canibalismo preso ao seu sentido acadêmico, como antropofagia, alerta a diretora Denise Weinberg, e sim como forma de discutir as relações humanas na atualidade, "como conseqüência da solidão extrema, da incomunicabilidade", explica.

Essa visão é diferente da que possui Cibele Forjaz, que vai estrear no dia 31 de março no Sesc da Avenida Paulista uma versão mais acadêmica, "O Caminho dos Mortos", sobre a antropofagia. Ambas as peças tiveram como ponto de partida, como primeira leitura, a peça de Moreno e se concretizaram no projeto "Teatro e Devoração – do Canibalismo à Antropofagia", que discute o tema desde janeiro de 2006. Realizado no sistema Sesc de São Paulo, o evento inclui também palestras, filmes e outros eventos para discutir o tema.

A montagem de Weinberg é constituída por três histórias distintas. Na primeira, um casal está no hospital após um incidente ocorrido durante o ato sexual em que um deles devora um pedaço do outro. "O casal é uma espécie de ‘Romeu e Julieta’ que cometeram um deslise", brinca o ator Marat Descartes, que é o único que participa das três esquetes. Na segunda, um executivo tem uma relação com um mendigo em plena selva paulista. Como prova de amor, o primeiro pede uma mordida de um pedaço do segundo. Na terceira história, um antropólogo se vê diante de um dilema. Um velho índio pede, em troca de revelar as últimas tradições da tribo da qual é o último membro, que o cientista o canibalize.

Apesar de dialogar com o conceito de antropofagia cultural dos modernistas Oswald e Mário de Andrade – no qual, simplificando, uma cultura devora o que há de melhor na outra e reaproveita à sua maneira –, o texto diverge desta posição também. "Essa antropofagia não se aplica. Aqui [na montagem] uma cultura come a outra, sem poesia", afirma Weinberg. "É a ditadura cultural que estamos vivendo [...] nós estamos nos comendo enquanto seres humanos", completa. Nessa perspectiva, o texto é "uma ode contra a devastação".

No palco, esses conceitos se refletiram numa "montagem crua, no bom sentido da palavra. Essa refeição é crua e cruel", explica a diretora. Os atores trazem movimentos contidos, intensos e marcados. "É um trabalho de síntese", diz a atriz Luah Guimarães. Na parte visual, a cenografia "é uma pele, esgarçando e comprimindo com o espetáculo", afirma o diretor de arte Carlos Colabone. As cores são poucas, e o preto e branco é valorizado, assim como as sombras. A luz evolui segundo a peça, sendo intimista na primeira história, mais aberta na segunda e grande na terceira, evidenciando o caráter transcendental.

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Serviço: A Refeição. Sábado (24) e domingo (25) às 20h30. Sesc da Esquina (Rua Visconde do Rio Branco, n.º 696. Centro) Tel.: 3304-2222. Ingressos R$ 26,00 e R$ 13,00 (meia).

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