Filmografia básica
Alejandro Gonzalez Iñarritú Amores Brutos, 21 Gramas e Babel.
Guillermo Del Toro Cronos, Mutação, A Espinha do Diabo, Hellboy e O Labirinto do Fauno.
Alfonso Cuarón A Princesinha, Grandes Esperanças, E Sua Mãe Também, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban e Filhos da Esperança.
A escolha da atriz Salma Hayek para anunciar os indicados ao Oscar deste ano parece ter sido proposital. Integrante da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas desde que concorreu à estatueta por seu marcante desempenho em Frida, a estrela é uma ativa militante do cinema latino-americano. Portanto, foi com visível euforia que Salma, lançada à fama pelas mexicanas, constatou que do total de nominações ao prêmio máximo de Hollywood, nada menos do que 16 pertenciam a filmes dirigidos por três cineastas de seu país: Alejandro Gonzalez Iñarritú, Guillermo Del Toro e Alfonso Cuarón.
Não é de hoje, no entanto, que a produção de nossos hermanos do Norte vem sendo festejada. Há três anos, a prestigiosa revista norte-americana Vanity Fair publicou, entre os destaques anuais nas telas, duas fotos sob o título de Nueva Onda, em citação à produção latina comteporânea. Numa delas, clicada numa ruela do centro antigo do Rio de Janeiro, pontificavam os brasileiros Walter Salles (de Central do Brasil e Diários de Motocicleta) e Fernando Meirelles (de Cidade de Deus e O Jardineiro fiel). A outra trazia Iñarritú e Cuarón, fotografados na Cidade do México.
Em comum, mexicanos e brasileiros, dizia a revista, tinham (e ainda têm) um traço compartilhado: o desejo de globalizar suas obras.
Críticos mais radicais, que defendem com unhas e dentes a soberania dos cinemas nacionais, sem qualquer vínculo com a grande indústria, devem torcer o nariz para o fenômeno da Nueva Onda. Afinal, nenhum dos "filmes mexicanos" indicados ao Oscar deste ano são propriamente sobre a pátria dos astecas. Nem mesmo O Labirinto do Fauno, favorito na categoria de melhor produção estrangeira.
Indicado a cinco outros prêmios (melhor roteiro original, maquiagem, direção de arte, fotografia e trilha sonora), o magnífico filme de Guillermo Del Toro (de Hellboy), natural da cidade de Guadalajara, foi realizado com talentos mexicanos, mas rodado parcialmente na Espanha.
Espécie de conto de fadas para adultos, o longa-metragem tem como pano de fundo a Guerra Civil Espanhola, que durou de 1936 a 39 e culminou com a vitória das forças fascistas do generalíssimo Franco sobre a resistência republicana, de esquerda.
O enredo tem como protagonista Ofelia (Ivana Barquero), uma menina orfã de pai cuja mãe está grávida de um militar (Sergi Lopez) cruel e autoritário. Obrigada a conviver com o padrasto em uma isolada propriedade rural no interior da Espanha, a menina um dia descobre ser, na verdade, a princesa de um reino povoado por faunos, fadas e outros seres mágicos, e que chegou a hora de retornar a esse mundo, deixando para trás sua vida mortal.
Realizado com esmero e, sobretudo, inventividade, O Labirinto do Fauno serve como atestado de competência para o cinema latino feito hoje em dia. Do roteiro aos efeitos especiais de ponta, é impecável em todos os aspectos. Deve fazer barba e cabelo na entrega do Oscar, prevista para o próximo dia 25 de fevereiro.
Caos globalizado
Em cartaz nos cinemas curitibanos, Babel, de Alejandro Gonzalez Iñarritú, tem sido apontado por algumas publicações dos EUA, entre elas o semanário Entertainment Weekly, como o favorito ao Oscar de melhor filme. Vencedor do Globo de Ouro na categoria de melhor drama, a produção tem seis outras indicações: direção, atriz coadjuvante (Rinko Kikuchi e Adriana Barraza), roteiro original, edição e trilha sonora.
Mais uma vez, Iñarritú se une ao excelente roteirista Guillermo Arriaga, com quem realizou Amores Brutos(indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2001) e 21 Gramas. A parceria artística, no entanto, parece ter chegado ao fim. Cansado de ficar à sombra do diretor, Arriaga reclamou para si a co-autoria do projeto Babel e Iñarritú, que venceu o prêmio de direção no último Festival de Cannes, não gostou da reivindicação.
Mas separar a obra de Iñarritú e Arriaga não é mesmo fácil. Avessos a histórias lineares, com princípio, meio e fim, a dupla tem o hábito de entrelaçar as trajetórias de vários personagens em uma bem-amarrada relação de causa e efeito em que tudo parece estar interligado. Chamam isso de Teoria do Caos. Em Babel, a estratégia é levada às última, conseqüências.
O ponto de partida é um acidente. Os filhos de um criador de cabras no interior do Marrocos pegam um rifle recém-adquirido pelo pai e, enquanto praticam suas parcas habilidades no gatilho, atingem uma turista norte-americana (Cate Blanchett) que viaja em um ônibus com o marido (Brad Pitt). Enquanto isso, nos Estados Unidos, sua empregada mexicana (Adriana Barraza, em uma grande atuação), sem ter com quem deixar os filhos do casal, atravessa a fronteira com as crianças para comparecer ao casamento do filho. Sua decisão terá conseqüências desastrosas, senão trágicas.
A terceira história de Babel se passa no Japão e se interconecta com as outras duas por conta de um pequeno detalhe: a origem da arma que feriu a turista americana no Marrocos. No centro da narrativa está uma jovem estudante surda-muda, defendida com maestria pela japonesa Rinko Riguchi.
Das três produções que carregam a grife mexicana no Oscar deste ano, Babel é o único que toca em temas que dizem diretamente respeito ao país de origem do diretor. A jornada trágica da personagem vivida por Adriana Barraza, que esbarra no preconceito e na truculência vigentes na fronteira entre México e Estados Unidos, é de grande importância em tempos nos quais inicia-se a construção de uma muralha que irá separar ainda mais os dois países.
Futuro sombrio
Igualmente político, mas ligado a outra esfera ficcional, a das distopias futuristas, Filhos da Esperança (em cartaz no Cine Novo Batel), de Alfonso Cuarón, tem grandes chances de conquistar pelo menos um dos três Oscars que disputa, o de melhor fotografia, assinada pelo mexicano Emmanuel Lubezki, com quem o diretor já havia trabalhado no ótimo E Sua Mãe Também.
Também concorrendo a melhor edição e roteiro adaptado, Filhos da Esperança parte de um romance da escritora inglesa de livros policiais P. D. James, para realizar um dos melhores longas-metragens de ficção científica dos últimos anos.
A trama é intrigante. Em 2027, já não nascem mais crianças no mundo. Quando morre o terráqueo mais jovem, um argentino visto como uma espécie de mascote, o planeta entra em profunda depressão. O fim da raça humana está próximo. Na Inglaterra, entretanto, surge a esperança de um recomeço: uma imigrante ilegal negra está grávida.
Como se vê, a trinca Iñarritú, Del Toro e Cuarón, sem abrir mão da cultura em que nasceram e cresceram, conseguiram fazer uma saudável transição para o chamado cinema de grande público, provando que valores como autoria e independência não são incompatíveis com o desejo de alcançar maior visibilidade. Tomara que essa onda pegue também por aqui. Fernando Meirelles e Walter Salles já encontraram o caminho.
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