A duquesa Edwiges de Andech (1174 – 1243) nasceu no sul da Alemanha, mas se tornou conhecida na Polônia. Aos 12 anos de idade, se casou o príncipe Henrique I, da Silésia. Perdeu o marido e teve de lidar com as sucessivas invasões e saques aos quais seu povo era submetido, além de sobreviver ao clima sangrento da Idade Média. Movidos pela ganância de ver quem controlaria a fortuna da família, seus filhos se tornaram inimigos mortais. Frustrada com as crises dentro e fora da família, decidiu que usaria suas posses para ajudar todas as pessoas que precisassem. Vinte e quatro anos depois de morrer, foi canonizada. Sua história é contada por Toninho Vaz em Edwiges – A Santa Libertária (Objetiva, 112 págs., R$ 24,90).

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Parte da coleção iniciada com Francisco de Assis – O Santo Relutante, de Donald Spoto, Rita – A Santa do Impossível, de Juan Arias, e Teresa – A Santa Apaixonada, de Rosa Amanda Strausz, a biografia escrita pelo jornalista Toninho Vaz é clara e precisa, contextualizando a história da duquesa no cenário da sociedade medieval polonesa, passeando por seus burgos e guerras. "Disputas violentas entre parentes – incluindo pais e filhos – beiravam a banalidade na Idade Média e eram decorrência de uma desesperada luta pela posse da terra, única forma possível de poder para um senhor feudal", escreve.

Simultaneamente ao inferno familiar, Edwiges descobriu sua vocação humanista e se dispôs a saldar dívidas dos encarcerados, construir mosteiros e prestar auxílio a doentes e necessitados de todo tipo. Exemplo de humildade e fé, ganhou devotos e se tornou a protetora dos aflitos. Idolatrada na Europa, se tornou a santa dos endividados no Brasil – onde existem algumas semelhanças entre "aflitos" e "endividados".

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Na apresentação do livro, Vaz conta que a principal fonte de referência para sua biografia é a obra secular Acta Sanctorum – do latim, "atos dos santos" –, publicada pela primeira vez em 1643 na Antuérpia e em Bruxelas pela Sociedade dos Monges Bollandistas, escrita e compilada por diversos autores ao longo dos séculos. Também conhecida como Atas de Canonização, hoje reúne 68 volumes com a versão da Igreja para as vidas de centenas de santos do cristianismo.

No verbete dedicado a Edwiges, de autoria dos bollandistas, é indicado um segundo livro, supostamente escrito por um monge do convento de Breslau (atual Wroclaw) por volta do ano 1300, menos de duas décadas depois do processo de canonização da duquesa de Andech. Desse livro, Vaz chega a reproduzir uma oração inédita para a Santa Edwiges.

O autor oferece ainda detalhes tão específicos quanto os tipos de comida e bebida que se consumiam na Andech do século 12, úteis para se criar uma imagem da época. "Vinhos (em ocasiões especiais) e cerveja (no cotidiano) faziam parte das refeições. Entre as frutas, as mais comuns eram tâmaras, figos, framboesas e laranjas."

No Brasil, existem duas cópias do Acta Sanctorum, uma na biblioteca da Congregação Redentorista em São Paulo e outra no Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro. Vaz conta que os fiéis brasileiros passaram a cultuar Edwiges de forma peculiar – e diferente de qualquer outra parte do mundo. Em Curitiba, sobretudo os descendentes de poloneses são fiéis à santa padroeira da Polônia. "Os registros históricos destacam seu constante e obstinado esforço para conseguir indulto (perdão) aos presos inadimplentes – dos quais se mostrava cúmplice e aliada. O resultado se traduz na devoção em massa dos fiéis em todo o mundo", escreve Vaz na apresentação do livro. Na sua opinião, "assistir a uma missa no dia de Santa Edwiges, em qualquer uma de suas (sempre lotadas) paróquias, seja no Rio de Janeiro, em Curitiba ou São Paulo, pode representar algo como uma experiência religiosa. Para qualquer pessoa de qualquer credo".

* Serviço: Noite de autógrafos com Toninho Vaz, autor de Edwiges – A Santa Libertária. Livraria Guignone (R. Comendador Araújo, 534), (41) 3029-3536. Hoje, às 18 horas. Entrada gratuita.

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O biógrafo

* Curitibano radicado no Rio de Janeiro, Antônio Carlos Martins, ou Toninho Vaz, nasceu em 1947.

* Aos 22 anos, escreveu críticas de cinema no Diário do Paraná.

* Nos anos 70, se mudou para o Rio e trabalhou na IstoÉ, na revista de domingo do Jornal do Brasil e como redator e editor na televisão (Bandeirantes e Rede Globo).

* É autor de O Bandido que Sabia Latim (2000), a biografia do poeta Paulo Leminski (1944 – 1989), e lança este ano, simultamente ao livro sobre Edwiges de Andech, a biografia de Torquato Neto, intitulada Pra Mim Chega.

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* A editora Objetiva criou uma coleção disposta a narrar as vidas dos principais santos da igreja católica.

* Pela série já foram lançados Francisco de Assis – O Santo Relutante, de Donald Spoto, Rita – A Santa do Impossível, de Juan Arias, e Teresa – A Santa Apaixonada, de Rosa Amanda Strausz.

* O próximo título a ser lançado será Santo Antonio, por Fernando Nuno.