| Foto: Luis Alberto Gonçalves/Divulgação

Teatro

Veja a programação deste e outros espetáculos no Guia Gazeta do Povo.

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Transformada em documentário, a história de Estamira Gomes de Sousa, senhora com distúrbios mentais que vivia e trabalhava no Jardim Gramacho, aterro sanitário no Rio de Janeiro, arrebatou público e crítica em 2005. Pelas lentes de Marcos Prado, diretor que ganhou com o filme Estamira inúmeros prêmios, entre eles, o de Cinema e Direitos Humanos do Festival Internacional de Nuremberg, foi possível conhecer a mulher que, em meio a sua loucura, refletia de maneira extremamente lúcida sobre política, fé, desigualdade e direitos. Adaptada para os palcos por Dani Barros e Beatriz Sayad, a peça Estamira – Beira do Mundo, que esteve em cartaz durante o Festival de Teatro de Curitiba em 2012, faz curta temporada na Caixa Cultural nesse fim de semana. Os ingressos começam a ser vendidos hoje, ao meio-dia (veja o serviço completo no Guia Gazeta do Povo).

VÍDEO: Assista a um trecho do documentário Estamira

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Depois de assistir ao documentário e ser "arrebatada" por Estamira, Dani Barros, que ganhou o prêmio Shell de melhor atriz pelo papel, amadureceu a ideia e elaborou o projeto do espetáculo com Beatriz Sayad (atriz da companhia suíça Finzi Pasca, que dirige a peça). Por terem trabalhado juntas no Doutores da Alegria, o ambiente hospitalar já era familiar para ambas, mas sobretudo para Dani, que colocou no texto alguns desabafos pessoais: a mãe da atriz tem depressão e ela, desde pequena, peregrina por consultórios e hospitais. "Me utilizo da Estamira para falar coisas que estavam engasgadas há muito tempo."

Por isso, ela brinca que a preparação para trazer Estamira do cinema para o palco acontece desde que ela nasceu. "Quando assisti ao filme, tinha várias coisas parecidas com a minha mãe. A boca seca do remédio, a família que não sabe lidar. Mas essa foi a grande pergunta quando começamos a construir a peça, como transformar esse filme tão adorado?"

Sem poder se utilizar do forte cenário do documentário – o lixão de Gramacho – ela e Beatriz focaram no discurso de Estamira. "É algo que está sempre em primeiro plano, é a profecia e a poética dela." Isso as ajudou a deixar as "firulas" de fora – a música e os poucos efeitos são econômicos, colocados a serviço da história. Conhecer pessoalmente a personagem também foi de extrema importância, relata Dani. "Ela nos deu o fim da peça. Parecia que eu estava indo conhecer a Mulher-Maravilha." A atriz lamenta a forma triste com que Estamira morreu. Em 2011, com uma infecção no braço ocasionada pela diabetes, ela aguardou dois dias por atendimento no Hospital Miguel Couto, no Rio de Janeiro. O quadro evoluiu para uma infecção generalizada, e ela não resistiu.

"Do além"

Dani relembra episódios fortes que viveu no palco enquanto encenava a peça, algo que ela atribui à energia visceral da história. Em Curitiba, durante uma apresentação no Teatro do Paiol, o espetáculo foi interrompido quando um senhor passou mal nos 15 minutos finais. Em uma apresentação em Porto Alegre, parte do teto do teatro cedeu por conta de uma forte chuva que caía. "Temos essa relação com a tempestade, é uma energia forte."

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A atriz recebe cartas, que guarda no camarim e lê antes da peça para "esquentar", além de depoimentos nas redes sociais. Depois do espetáculo, amigos próximos de Dani também passaram a revelar que parentes tinham depressão e esquizofrenia. "Não se fala muito da loucura e do louco na sociedade. E a Estamira sacode a gente."