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Os protagonistas Andreza Bittencourt (Meg) e Renato Livera (Michel): ambiguidade | Valério / Divulgação
Os protagonistas Andreza Bittencourt (Meg) e Renato Livera (Michel): ambiguidade| Foto: Valério / Divulgação

A partir do pensamento da personagem Meg, a peça Savana Glacial acompanha a mente de alguém com perda de memória recente. Jô Bilac, nome que cresce cada vez mais na dramaturgia carioca, conta que a trama, em cartaz nos dias 2 e 3 de abril no Teatro da Reitoria, pela Mostra Contemporânea do Festival de Curitiba, surgiu do desejo de explorar a ambiguidade das relações humanas, tendo como ponto de partida a memória – "algo que não representa exatamente a verdade, e sim a impressão sobre a verdade".

O espetáculo é encenado pelo Grupo Físico, fundado em 2007 no Rio de Janeiro. Jô Bilac foi convidado a escrever o texto e propôs então um desafio: começar os ensaios sem os atores saberem o final da peça. "Eles receberiam fragmentos de cenas, como um quebra-cabeças, que, aos poucos, montariam no escuro", conta Bilac. Como têm somente uma parte do roteiro, sem o final das cenas, os atores conseguem transmitir no palco a sensação das memórias do agora.

Dirigida por Renato Carrera, a trama revela a vida do casal Michel e Meg, (Renato Livera e Andreza Bittencourt) que, após um acidente, começa a ter perda de memória recente. Os dois decidem então morar em um novo apartamento, para recomeçar a vida a dois. O início do texto dá o tom da montagem: "Tudo é ficção. O apartamento, o casal se olhando na rua, a rua em si. Tudo falso. Menos a dor. A dor é real".

A história se aquece quando a jovem maquiadora Agatha, uma vizinha, (Camila Gama), cria um jogo de verdades e mentiras. Outro personagem é o misterioso motoqueiro Nuno (Diogo Cardoso), que seria o elo com a realidade. O clima de suspense predomina, pois a imaginação e a realidade, na vida da jovem Meg e seu marido escritor, são confundidas. A vida amorosa dos dois precisa de um resgate após o acidente, mas no novo apartamento só florescem incertezas.

A montagem foi indicada ao prêmio Shell 2010 como Melhor Texto, e também colecionou elogios da Associação Paulista de Críticos de Arte. Um reconhecimento imprevisível, segundo o próprio dramaturgo: "É obvio que você tem a dimensão do que isso pode representar para a divulgação do seu trabalho e a circulação dele pelo país, mas sem dúvida tudo vem como consequência, uma resposta imprevisível ao seu trabalho".

Com sua teia de incertezas e ambiguidades, Savana Glacial permite diversas interpretações. Para quem não procura respostas prontas ou verdades definitivas, é um prato cheio.

Serviço: Savana Glacial – Mostra Contemporânea do Festival de Curitiba. Dias 2 e 3/04, às 21h, no Teatro da Reitoria. Ingressos a R$ 50 e R$ 25 (meia entrada).

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