O diretor e cineasta Luiz Fernando Carvalho é conhecido pela ousadia na linguagem, como demonstrou na idílica minissérie Hoje É Dia de Maria (2005) e por se arriscar a traduzir para a televisão temas espinhosos ou obras complexas, como Os Maias (2001), de Eça de Queiroz, e A Pedra do Reino (2007), baseada no romance de Ariano Suassuna.
Essas duas características voltam a se combinar na sua empreitada mais recente, a minissérie Afinal, o Que Querem as Mulheres?, que estreou no último dia 11 e vai até 16 de dezembro, sempre às quintas-feiras, na RPCTV. A exemplo de Hoje É Dia de Maria, no novo projeto, Carvalho volta a entrelaçar técnicas narrativas distintas, como a interação entre atores e personagens de animação (neste caso, o próprio Pai da Psicanálise, Sigmund Freud, um boneco de 40 cm animado em stop motion).
A animação, aliás, foi a maneira que o diretor encontrou para "amortecer" um assunto difícil de assimilar por boa parte dos telespectadores: a psicanálise. Ao transformar Sigmund Freud num boneco rabugento, Carvalho consegue escapar da armadilha de retratar a ciência de forma sisuda ou "excessivamente acadêmica".
Mas a assinatura estética de Luiz Fernando Carvalho vai muito além do diálogo com a animação: está nos movimentos de câmera, nos cortes e enquadramentos fragmentados e reforçados pela sonoplastia, nas diferentes texturas, na cenografia original e minuciosa e na iluminação desconcertante. Tudo isso reforçado por uma direção de arte impecável.
Uma apresentação luxuosa, que enriquece ainda mais o conteúdo de primeira. O texto é original, sensível e interessante. Escrito por João Paulo Cuenca, tem coautoria de Michel Melamed (que faz o protagonista, André Newmann) e Cecília Giannetti, e redação final do próprio Luiz Fernando Carvalho.
Afinal, o Que Querem as Mulheres? conta a história de um homem que sabe exatamente o que quer: recuperar o amor da ex-namorada, a artista plástica Lívia (Paola Oliveira, excelente). Escritor e estudante de Psicologia, André Newmann fica obcecado por sua tese de doutorado, na qual tenta responder à célebre questão freudiana: afinal, o que querem as mulheres? Para isso, sai a campo interrogando os mais diferentes tipos femininos... e acaba por negligenciar justamente a mais próxima delas, Lívia. Uma cena do primeiro capítulo é emblemática: absorto nos estudos, André responde às queixas dela pela falta de atenção com um exasperado "Lívia, o que você quer?". Mas, ao contrário do que fez com todas as suas entrevistadas, não espera a resposta. É a deixa para que ela o abandone.
A partir daí, André experimenta a ironia de se tornar um escritor de muito sucesso (sua tese vira até série de televisão, com Rodrigo Santoro no papel principal), desejado por inúmeras mulheres, mas que só pensa naquela que perdeu. Ou, como define o próprio diretor: "É a tragédia de um homem ridículo. A travessia patética de um homem em relação aos seus objetos de desejo, ao amor, aos afetos e a uma espécie de visão do feminino que parece o devorar sempre".
Some-se a isso um dream team técnico e o desempenho exuberante do elenco (particularmente Michel Melamed, Paola Oliveira, Dan Stulbach e a estreante Bruna Linzmeyer), e o resultado é mais uma obra-prima com a grife Luiz Fernando Carvalho. Se você não viu, procure no YouTube e não perca os próximos capítulos. GGGGG
Serviço: Afinal, o Que Querem as Mulheres?. Minissérie em seis capítulos exibida sempre às quintas-feiras, depois de Clandestinos O Sonho Começou.
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