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Sting: sem dom para as rimas | Arquivo Gazeta do Povo
Sting: sem dom para as rimas| Foto: Arquivo Gazeta do Povo

Rio de Janeiro – O primeiro representante do teatro paranaense a se apresentar na 8.ª edição do riocenacontemporânea foi o ator Mauro Zanatta, vencedor do Troféu Gralha Azul deste ano pela atuação no espetáculo A Queda, uma adaptação da obra do filósofo francês Albert Camus. O monólogo, que estreou sob a direção de Marcelo Marchioro, chegou ao Rio em um momento de transição, quando o diretor curitibano Flávio Stein passa a assumir o comando.

A trajetória do espetáculo, segundo Zanatta, "está sendo um processo longo de transformação da obra". "Quando estreei, não fiquei feliz com o formato. Agora avançamos e estamos chegando aonde eu pretendia", comenta. A evolução do espetáculo se dá tanto no campo do conteúdo quanto na forma.

A adaptação da obra de Camus, feita por Zanatta, tinha se transformado inicialmente em 30 páginas de texto teatral – agora está reduzida a 15. "Foi passando por um processo de seleção natural, descobrindo qual era o fio condutor da obra", conta o ator. O espaço de atuação também mudou. Do tradicional palco italiano, passou para o cenário de um bar, em que o público estava dentro da cena, e, finalmente, para a semi-arena – formato adotado no Rio, no Sesc Copacabana.

A nova situação em relação à platéia, que centraliza o personagem, cercado e visto de cima, acentua a sensação de julgamento, no qual ele ambiguamente é, ao mesmo tempo, réu e inquisidor. Trata-se de um advogado que fala diretamente para o público, consciente de sua presença. O homem, de camisa escapando da calça do terno, gravata com o nó desfeito e ar abalado, conta que já foi um profissional bem-sucedido – e um homem bom. Sua bondade, porém, – e, com ela, sua superioridade em relação aos outros – é posta em xeque quando ele deixa de socorrer uma mulher prestes a se jogar de uma ponte.

O que se segue é a auto-acusação. O advogado desnuda a necessidade de reconhecimento e apreço que se escondia sob a sua bondade. Faz uma avaliação moral agressiva, pouco condescendente. Esta, contudo, ainda não é a camada mais profunda, nem a mais honesta. Ele só a atinge quando confessa que se acusa para ter o direito de julgar os outros. Diante dessa confissão, põe-se em dúvida o que mais camufla, quais suas reais intenções, o que deve ser condenado e o que pode ser absolvido.

Interessado em levar adiante as reflexões possíveis a partir do denso texto da peça, Zanatta planeja agora apresentá-la em universidades, para estudantes de Literatura e Filosofia, principalmente. A primeira encenação já está prevista para o dia 18, durante um encontro do curso de Letras – Francês da UFPR.

A experiência no riocenacontemporânea – em que o público, embora não tenha lotado a arquibancada do Sesc Copacabana, foi receptivo ao monólogo – também encorajou o ator a mostrar o trabalho pelo país. "Estou me sentindo mais à vontade para mandar a peça para outros festivais", conta.

Enquanto isso não acontece, o riocenaconteporânea recebe mais produções paranaenses até o dia 14. A companhia Vigor Mortis, que ganhou o troféu Gralha Azul com o espetáculo Graphic, encena no festival a montagem Garotas Vampiras Nunca Bebem Vinho, que já cumpriu temporada em Curitiba. Outra participação paranaense acontece na Semana Copi, que se apresenta com a mesma programação vista em Curitiba no último fim de semana, e traz a atriz Carmem Pereira Jorge ao Rio. Também na grade da Mostra Universitária estão três produções paranaenses: Até Quando e Guilhotina – Um Experimento, de alunos da Faculdade de Artes do Paraná (FAP), e Foi Tarde, de estudantes da Universidade estadual de Londrina (UEL).

A repórter viajou a convite da organização do evento.

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