Livro
Mahatma Gandhi E Sua Luta com a Índia
Joseph Lelyveld. Tradução de Donaldson M. Garschagen. Companhia das Letras, 472 pág. R$ 48.
A figura do líder indiano Mahatma Gandhi (1869-1948), inspirador do pacifismo internacional, é, certamente, uma das mais discutidas e cultuadas do século 20. Em Mahatma Gandhi E Sua Luta com a Índia, lançado pela Companhia das Letras, o jornalista norte-americano Joseph Lelyveld, que trabalhou por mais de 40 anos no jornal The New York Times e recebeu o Pulitzer pela coletânea de reportagens Move Your Shadow, sobre o apartheid na África do Sul, constrói uma narrativa com elementos que ajudam o leitor a entender como o jovem advogado tornou-se o guia da Índia.
A data era 23 de maio de 1893, quando Mohandas Gandhi desembarcou na África do Sul como um assistente jurídico de 23 anos, vindo de Bombaim. Sua missão era prestar assistência em um julgamento, atuando como intérprete. O turbante preto achatado que usava junto com o traje social, algo comum na sua região natal, incomodou o juiz, que considerou o adereço um desrespeito, e ordenou que o retirasse. Ao invés de obedecer, o jovem saiu subitamente do local, bastante ofendido. Isso ocorreu duas semanas antes de ele sofrer um insulto racial chocante em um trem, quando se negou a viajar do lado de fora para dar lugar a um funcionário branco da companhia, que o agrediu. O ato fez com que passageiros brancos intercedessem a favor do jovem Mohandas, que havia levado seu instinto de resistência para o país.
Depois dos dois fatos, a vida do homem que se transformou em "grande alma" (significado do título honorífico mahatma) foi permeada por seguidos conflitos. Fez várias greves de fome, montou grupos políticos e organizou marchas, além de ter afrontado o Império Britânico. Inspirou-se em Liev Tolstói e defendeu a não violência como a principal forma de protesto. Entretanto, sua maior causa foi a unidade entre hindus e muçulmanos, algo que defendeu até sua morte, em 1948, após ser assassinado por um hindu radical.
O combate ao sistema de castas existente em seu país foi outra bandeira, drama que precisou, inclusive, combater dentro de sua própria casa. O biógrafo conta, por exemplo, um episódio envolvendo a mulher do líder, que havia se recusado a limpar o urinol de um empregado, e foi obrigada por Gandhi a fazê-lo, mesmo aos prantos. Esses detalhes extremamente pessoais acabam sendo decisivos, e também contribuem para dar fôlego à biografia, fruto de uma pesquisa exaustiva de Lelyveld na África do Sul e na Índia. O jornalista também não deixa de fora os fracassos de Gandhi, nem poupa análises sobre sua personalidade excêntrica.
Bissexual
Um ponto polêmico do livro que, inclusive, ocasionou a proibição da comercialização em algumas regiões da Índia (porém, liberada rapidamente, e com vendas recorde) foi como o biógrafo levantou a hipótese de Gandhi ser bissexual, por conta de sua amizade com o arquiteto Hermann Kallenbach (1871-1945), que foi um de seus primeiros seguidores. Entretanto, o fato foi colocado por Lelyveld com bastante cautela. Nas poucas páginas em que dedica ao relacionamento dos dois, o autor cita trechos de cartas trocadas entre eles, como uma em que Gandhi diz ao amigo: "seu lugar é na Índia. Digo isso independentemente de morarmos juntos ou não." Gandhi foi casado, pai de quatro filhos, mas pregou a abstinência sexual. Deixou até de beber leite de vaca, por conta dos supostos poderes afrodisíacos que a bebida teria, atitude que contribuiu para debilitar ainda mais a sua frágil saúde.
Deixando de lado a infância do líder, o autor, mesmo claramente envolvido pela vida e figura de Gandhi, conseguiu fazer uma análise crítica e perspicaz sobre o homem cujos ideais foram centrais no século 20. GGG
Classificações: GGGGG Excelente. GGGG Muito bom. GGG Bom. GG Regular. G Fraco. 1/2 Intermediário. N/A Não avaliado.
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