Márcio Prado não se apega à sua obra: “O verbo montar engendra o seu reverso, o desmontar”| Foto: Divulgação

A formação em Arquitetura, na Universidade Estadual de Londrina, se revela na lógica artística de Márcio Prado. Desde que se mudou para Curitiba, em 2000, o paulistano trocou a prancheta pela mão na massa. Literalmente. Passou a se dedicar à cerâmica e à escultura no Ateliê de Escultura da Fundação Cultural de Curitiba, com sede no Parque São Lourenço.

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Mais de dez anos depois, a racionalidade do primeiro ofício ainda transparece do início ao fim em seus projetos artísticos. Basta conferir um deles, a "desinstalação" Da Materialidade ao Vazio (confira o serviço completo da exposição), que Prado exibe a partir de hoje, às 18 horas, no gramado em frente ao café do Museu Oscar Niemeyer.

Um dia antes da abertura para o público, a reportagem acompanhou parte do trabalho de montagem do enorme cubo de 16 toneladas formado por 4.096 pequenos cubos maciços de cerâmica refratária que o artista projetou, como bom arquiteto, a lápis em folhas de sulfite. Mais de dez pessoas, entre funcionários do museu e amigos do Ateliê de Escultura, o ajudavam a montar o pesado quebra-cabeça sobre uma base de compensado naval.

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Tanto trabalho será gradualmente desmontado. Após seis semanas de exibição da obra no jardim do MON, Prado dará início ao processo de "desinstalação": sempre às segundas-feiras, ele vai retirar quatro dos 64 módulos que formam a escultura, cada um com 64 cubinhos, e instalá-los de maneiras diversas em outros espaços da cidade. "Vou colocá-los em espaços de enclausuramento, como, por exemplo, o Hospital Psiquiátrico do Bom Retiro, e em locais que dialogam com a sociedade, como a Catedral de Curitiba", conta. Mas, por enquanto, prefere guardar segredo sobre quais serão estes locais.

Quando todos os módulos forem retirados do jardim do MON, uma nova peça ocupará o espaço: outra vez um cubo, em uma sequência que vai da "materialidade ao vazio". Oco por dentro, ele será estruturado com duas lâminas de vidro, uma transparente e outra espelhada, como uma espécie de silhueta que marca a memória de algo transitório. "O vidro faz associação direta com o vidrado aplicado nos cubos refratários", conta.

Nos dias mais luminosos, o público que passeia pelos quintais do MON será capaz de apreciar ainda melhor a textura e a coloração aplicadas a cada pequeno cubo que forma a escultura. "É uma obra feita para ser vista ao ar livre, pois a luz intensifica a cor dos cubos, alguns até brilham", explica o artista. As peças foram queimadas a uma temperatura de 1.500 graus, após terem recebido a aplicação de um esmalte cerâmico que lhes dá um aspecto de vidro. "A reação química dos componentes do esmalte e da massa cerâmica são os fatores determinantes para o resultado", explica o artista, que realizou o projeto com a orientação de Maria Helena Saparolli.

4.096 cubos. 64 módulos. Some as partes destes números e os resultados serão sempre 1. Por exemplo: 6+4 = 10, sendo que 1+0 = 1. Cabala? "Até poderia ter a ver, mas a escolha dos números é uma razão pessoal", conta Prado que, ao longo de toda sua trajetória artística, relaciona a matemática à sua obsessão por cubos e caixas de madeira – em 2008, relacionou 64 caixas cheias e vazias em uma mostra no Memorial de Curitiba. "Sustento que a matéria e o vazio são elementos suficientes para sustentar o discurso artístico", afirma.

Ao concluir o projeto, em no­­vembro, Márcio Prado não pretende remontar o cubo. "No momento, em que o cubo for desinstalado, não faz mais sentido montá-lo novamente. Afinal, o verbo montar engendra o seu reverso, o desmontar." O projeto pertence à cidade, já que foi feito com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, mas, se puder sugerir um destino aos módulos adquiridos no desmanche de um forno industrial, ele gostaria que eles permanecessem nos espaços públicos e privados onde foram instalados.

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O público pode acompanhar todas as etapas de "desinstalação" do projeto no site do artista: www.marcioprado.art.br/desinstalação

Serviço

Da Materialidade ao Vazio (confira o serviço completo da exposição). Jardim do Museu Oscar Niemeyer (R. Mal. Hermes, 999), (41) 3350-4400. Abertura, hoje às 18 horas. Terça a domingo, das 10 às 18 horas. Entrada gratuita. Até 18 de novembro.