Toda grande banda deixa um rastro nefasto de imitadores. Veja o recente exemplo brasileiro do Los Hermanos, atualmente copiado por nove entre dez grupos emergentes todos pavorosos. Em proporções ainda maiores, gigantescas, os ingleses do Radiohead foram mais longe: alguns de seus pupilos também se tornaram superastros!
Mas enquanto a matriz se sofisticou, mergulhando de cabeça no experimentalismo, os seguidores permaneceram fiéis a essência de seus primeiros discos. Ou seja, aprofundaram-se no estilo "baladas melancólicas e atmosféricas". O resultado é uma geração inteira de bandas tristonhas, cultuadas mundo afora.
Travis, Starsailor, Muse, Elbow, Athlete... A lista parece não ter fim, sendo o Coldplay o representante mais bem-sucedido da turma (seu último CD foi o campeão planetário de vendas em 2005). Nesse cenário pós-Radiohead, outro nome que chama a atenção é o Keane, uma das maiores surpresas da indústria nos últimos anos. Seu novo álbum, Under the Iron Sea, entrou direto no primeiro lugar da parada britânica e periga ser um dos hits da temporada. Nada mal para um trio de nerds liderado por um gordinho de bochechas coradas que passaria despercebido numa festa de colégio.
O Keane não usa guitarras. É composto apenas por voz (Tom Chaplin, o tal rechonchudo), piano/teclados (Tim Rice-Oxley, que também se vira no baixo) e bateria (Richard Hughes). De quebra, canta algumas das letras mais românticas do rock atual, o que lhe garantiu um passaporte para as FMs. O CD de estréia, Hopes and Fears (2004), vendeu cerca de 5 milhões de cópias e levou o grupo à condição de banda de abertura da turnê americana do U2. Mas nem tudo foi perfeito para os comportados rapazes da cidade de Battle...
A dura rotina das excursões pegou a banda de jeito. Para piorar, o trio resolveu gravar o segundo disco sem ao menos tirar férias antes. Não deu outra: o desgaste tomou conta do Keane e a banda quase acabou. Felizmente, viraram o jogo a tempo.
Essa ligeira descida ao inferno dá o tom de Under the Iron Sea, que combina o clima épico e dramático do CD anterior com doses de maturidade. Voz e instrumentos estão mais enxutos e vigorosos, como atestam as duas primeiras músicas de trabalho. "Is It Any Wonder?" já foi comparada ao U2 do disco Achtung Baby. "Atomic" é densa e um tanto dark.
Os próprios integrantes parecem mais soltos. Tom, por exemplo, andou alfinetando colegas por aí. Chegou a dizer que Chris Martin, cantor do Coldplay e ídolo maior da Inglaterra, esconde seu sotaque de classe média alta para agradar o público. Pena que o tom ácido não se estenda às letras, de uma cafonice sem par. "Às vezes tenho a sensação de que estou indefeso na hora errada/ Em que o amor é só uma letra numa rima de criança, uma frase de efeito", diz um trecho de "Is It Any Wonder?". Em "Atlantic", a pieguice encontra o desencanto: "Eu preciso de um lugar que seja escondido nas profundezas/ Onde os anjos solitários cantem para seu sono/ O mundo moderno está falido". Ai, ai, como é triste a vida de popstar... GGG
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