Jim Carrey erra nas contas em Número 23

Jim Carrey (foto) deixa de lado as comédias histriônicas que o tornaram famoso (como Eu, Eu Mesmo e Irene, de 2000) e os papéis dramáticos elogiados (como Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças e O Show de Truman) para mergulhar no terror Número 23, que estréia justamente hoje, dia 23.

Dirigido por Joel Schumacher (de O Fantasma da Ópera), o filme se apóia na crença de que o número 23 traz maus presságios. Uma paranóia cujos defensores citam o I Ching (número 23), a Bíblia (Salmo 23) e até o escritor William S. Burroughs (que teria contado histórias obscuras em que o número está presente).

Escrita pelo novato Fernley Phillips, um dos admiradores confessos desse delírio numérico, a trama mostra a vida de Walter Sparrow (Carrey), cuja obsessão por um misterioso livro (chamado também O Número 23) torna-se perigosa. Ele passa a acreditar que é o protagonista da publicação (um detetive grosseiro), já que possuem as mesmas recordações de infância.

Como o personagem é um assassino, Sparrow passa a ser uma ameaça para todos que o cercam. O livro também torna os protagonistas obcecados pelo número 23, que é explicado à exaustão.

De forma simplificada, é preciso somar datas ou letras, seguindo a numerologia, de desastres históricos até chegar a estes dois algarismos. Como as suspeitas contas resultam em 23 (ou na variante 32, sua inversão), tudo parece indicar que Sparrow deve matar sua mulher (Virginia Madsen). Mas não se dá qualquer explicação para essa conclusão.

A trama fica um tanto confusa já que Phillips, o roteirista, não ligou muito os pontos para a compreensão plena da história. Joel Schumacher, por sua vez, não consegue extrair uma performance satisfatória de um decepcionante Jim Carrey, completamente fora de seu contexto.

Rodrigo Zavala

CARREGANDO :)

Previsível é o maior elogio que Atirador pode receber. O filme tem estréia simultânea hoje em vários países – inclusive nos EUA e no Brasil – e gerou alguma expectativa para o seu lançamento, graças ao ator envolvido no projeto.

Mark Wahlberg, sempre lembrado como o ator pornô superdotado de Boogie Nights e indicado ao Oscar de coadjuvante por Os Infiltrados, disposto a investir na carreira de herói de ação, vive Bob Lee Swagger, ex-atirador de elite das forças armadas americanas. "Ex" porque ele e o amigo foram abandonados à sorte durante uma missão secreta na África, tendo de encarar um pequeno exército. No embate, o companheiro, que esperava casar com a noiva enfermeira e apaixonada, morre. Swagger o abraça, grita e fica fulo da vida, consegue matar meio mundo e escapar. Tudo isso nos primeiros cinco minutos de projeção.

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Refugiado nas montanhas, plantando e caçando sua própria comida, ele vira uma espécie de lenda. Um atirador excepcional, capaz de acertar um alvo a dois quilômetros de distância (!).

Ele é então procurado pelo coronel Isaac Johnson (Danny Glover) para uma missão incomum. O governo quer que Swagger planeje o assassinato do presidente dos EUA como uma forma de prevenir o pior. Com sua experiência, o ex-atirador poderia ajudar a desmascarar um suposto complô. E ainda não deu 15 minutos de projeção – naturalmente, a história teria desdobramentos.

O complô existe de fato, mas Swagger é otário e patriota o suficiente (palavras dele) para cair em uma armadilha, sendo incriminado pela morte do líder africano que participava de um evento com o presidente americano e era o verdadeiro alvo dos criminosos.

O que prometia ser uma boa trama de suspense e ação, em que ninguém é totalmente confiável, logo desanda para o maniqueísmo habitual dos filmões hollywoodianos. Mocinhos, bandidos e a velha ladainha de servir ao país e punir os corruptos.

A previsibilidade pode ser um defeito, mas também uma qualidade. Se o público espera ser surpreendido, terá entrado na sessão errada. Se decide ver algumas seqüências de ação competentes, pouca história e o triunfo arrasador do bem contra o mal, perfeito. Neste caso, previsível é bom.

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O maior problema de Atirador é a defesa obscena do uso de armas – até a noiva do amigo morto, que não suporta ver sangue, sabe usar uma escopeta como ninguém. O desfecho absurdo pode testar a credulidade de qualquer um e deixa o filme a um passo da paródia. GG