Alicia Keys, com frequência, é acusada de ser antiquada demais, retrô, ao insistir em embotar seus álbuns do chamado R&B velha guarda, de artistas que vão de Aretha Franklin a Marvin Gaye, passando por Otis Redding, Wilson Pickett e Smokey Robinson, entre outros. Essa opção tem lhe custado uma certa dificuldade de atingir o público mais jovem, adorador de uma música pop pós-humana, construída nos paraísos artificais da música eletrônica, onde uma grande voz pode ser mero detalhe dispensável.
Na tentativa de se conectar com esse público, em certa medida, Girl on Fire, novo álbum da artista, a apresenta em parcerias com colaboradores mais jovens e hip, como Emeli Sandé, cantora escocesa que ganhou o mundo depois das cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres; Gary Clark Jr., jovem guitarrista do chamado novo blues norte-americano; e Jamie xx, astro da música eletrônica britânica, e integrante do grupo londrino The xx (grafado assim mesmo, com letras minúsculas).
Mas não se iludam. Alicia continua uma militante de sua causa: provar que a essência do R&B está em grooves com as sinuosidades históricas do gênero e do soul e em baladas arrebatadoras, na linhagem de "Fallin" e "Aint Got You", dois dos maiores hits da cantora. Para comprovar, ouçam "Brand New Me", single que sucede a embalada faixa-título, uma colaboração com Nicki Minaj, estrela contemporânea do hip-hop e do rap.
Enquanto "Girl on Fire", que obteve sucesso moderado nas paradas, buscava a frequência das rádios de perfil mais pop, com um público ouvinte bastante amplo e genérico, "Brand New Me" é, essencialmente, uma composição de Alicia Keys, construída para ser veículo de suas habilidades vocais e como pianista. Pode ser descrita como uma canção de desforra e empoderamento, temas recorrentes na música negra norte-americana cantada por mulheres.
Prestes a completar 32 anos, e com mais de 35 milhões de álbuns vendidos, Alicia Keys ainda se perde um pouco em suas tentativas de se aproximar de texturas mais jazzísticas e supostamente elaboradas. Embora sua sólida formação musical a credencie para tanto, essas tentativas soam algo artificiais e pretensiosas. É em faixas mais despojadas, como Not Even the King", na qual a artista se faz acompanhar apenas pelo seu piano, que ela decola, emociona.
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