A verdade é um pântano em Obsessão

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O diretor norte-americano Lee Daniels não é comedido. Faz um cinema de vastas emoções e, por isso, cria seus filmes no fio da navalha, sempre a um passo do exagero, que muitas vezes pode esvaziar o potencial dramático das histórias que conta.

Essa opção já ficou bastante clara no bem-sucedido Preciosa (2010), indicado ao Oscar de melhor filme e vencedor da estatueta de melhor roteiro adaptado. E talvez seja o grande problema de seu terceiro longa, O Mordomo da Casa Branca (2012), êxito comercial, mas rejeitado por boa parte da crítica, que acusou o cineasta de ter transformado um grande argumento em um novelão melodramático histórico, por vezes tocante, porém superficial.

Entre esses dois lançamentos, Daniel fez seu filme mais interessante: Obsessão (2012), que nunca estreou em Curitiba, apesar de ter entrado em cartaz no Brasil no ano passado.

O roteiro, adaptação do romance homônimo de Peter Dexter, se passa em uma pequena localidade no "sul profundo" dos Estados Unidos durante a década de 1960. No centro da trama estão dois irmãos, Jack (Zac Efron, da franquia High School Musical) e Ward Jansen (Matthew McConaughey, favorito ao Oscar de melhor ator neste ano por Clube de Compras Dallas).

A história é narrada pela empregada negra da família, Anita Chester (vivida pela também cantora Macy Gray), na forma de um relato à polícia. A intenção do depoimento é elucidar os fatos que levaram a uma terrível tragédia, apenas revelada no surpreendente desfecho do filme.

Até lá, o espectador fica sabendo que Jack é um ex-nadador e que abandonou o esporte depois de ser expulso da faculdade por conta de seu temperamento explosivo. Ward, por sua vez, é repórter de um grande jornal em Miami e não se dá com o pai, WW (Scott Glenn), editor de um pequeno diário local. Não se sabe se a rixa se limita apenas a questões profissionais.

Investigação

O ponto de partida da história narrada por Anita é o retorno de Ward a sua cidade natal, acompanhado do colega de trabalho Yardley (David Oyelowo, de O Mordomo da Casa Branca), com o intuito de investigar o assassinato do xerife Thurmond Call, odiado quando vivo por sua postura racista e violenta.

Durante a investigação, Wade e Yardley conhecem Charlotte Bless (Nicole Kidman, impagável), uma garçonete sexy e emocionalmente instável que se apaixona pelo suposto assassino de Call (John Cusack), mesmo sem nunca tê-lo visto. A personagem, com quem Jack acaba se envolvendo, tem papel-chave na investigação, e nos rumos da trama.

Ambientado em uma região muito quente e lodosa, Obsessão se apropria dessa geografia como metáfora. Os personagens, sem exceção, parecem estar presos a um pântano de histórias mal contadas, verdades que aos poucos vêm à tona, mas seguem a confundir, em meio à umidade e a uma luz saturada, presente na bela fotografia do longa.

Daniels faz de Charlotte, uma personagem sempre entre o grotesco e o ridículo em sua sexualidade exacerbada, uma espécie de guia por um mundo sórdido, porém sedutor. E o excesso de que o diretor tanto gosta aqui parece fazer total sentido. GGG1/2