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Cinema Paradiso é uma daquelas obras cinematográficas destinadas a virar "filme de cabeceira". Graças a seu forte apelo emocional, sempre a um passo do excesso, da pieguice, causou comoção quando de seu lançamento. Muitos o assistiram quatro, cinco vezes. E, provavelmente, choraram, nas mesmas seqüências. A produção, ganhadora do Oscar de melhor filme estrangeiro, além do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes, não reinventa a roda em termos de linguagem. Muito pelo contrário. Resgata, sem qualquer pudor, a tradição dos grandes melodramas italianos. E o faz com magia e competência

A trama nos transporta a um pequeno vilarejo no interior da Sicília durante a Segunda Guerra Mundial, tempos nos quais os moradores tinham como principal fonte de diversão as sessões noturnas no único cinema da cidade.

Participativa ao extremo, a platéia, fascinada pelas imagens em movimento, não represavam suas emoções: choros, gargalhadas e gritos ecoavam na sala, às vezes até mesmo abafando o som dos filmes. Num caso mais extremo, mas não exatamente único à essa época, um homem emocionado chega ao extremo de decorar as falas dos personagens, ficando comovido às lágrimas antes de mesmo da cena acontecer. Algo semelhante só pode ser comparado hoje em dia ao fenômeno gerado pela superprodução hollywoodiana Titanic.

É nesse tempo distante e profundamente saudosista que o menino Totó (Salvatore Cascio), órfão de pai, experimenta a sua primeira grande paixão, o cinema, e toma como figura paterna o projecionista do cinema, Alfredo (o grande ator francês Philippe Noiret). O cineasta Giuseppe Tornatore, então um quase estreante (Cinema Paradiso é seu segundo longa-metragem), ainda não se sabia, anunciava neste filme o tema fundamental de quase toda sua obra: a nostalgia por tempos idos que não voltam mais. De uma certa forma, alguns de seus títulos posteriores, como O Homem das Estrelas e Malena habitam esse mesmo território.

Cinema Paradiso também é conduzido a partir do presente (1989) do ponto de vista de um Totó que se tornou diretor de cinema e aparece triste, desiludido, talvez porque não tenha encontrado no ofício a magia que sentia na sala escura de sua infância.

A partir dessa abertura, a força da memória de uma infância feliz cheia de descobertas ganha ainda mais encantamento, embalada pela trilha emocional e já antológica de Ennio Morricone.

O filme, que já estava disponível em DVD no Brasil, agora está sendo relançado pela Versátil em duas versões: a original que foi vista nos cinemas e outra estendida, com mais de 50 minutos de cenas inéditas. Essa segunda versão chegou a ser exibida nos cinemas americanos, mas permaneceu inédita em boa parte do mundo. Foi também a primeira lançada na Itália, massacrada pela crítica e rejeitada pelo público.

Foram os organizadores do Festival de Cannes que sugeriram a Tornatore um corte radical, que transfigurou a edição final – felizmente para melhor. A versão estendida, até curiosa para os fãs incondicionais do filme, comete o pecado mortal de fornecer todas as respostas, até as indesejadas, ao dar um um desfecho para a história de amor entre Totó e Elena, sua primeira namorada na juventude. O Totó mais velho (Jacques Perrin, de A Voz do Coração) reencontra Elena (Brigitte Fossey, a atriz mirim do clássico Jogos Proibidos), que não aparecia na versão mais curta.

O reencontro, ao invés de emocionante, aproxima o filme perigosamente do formato da telenovela e esvazia o impacto da relação entre Totó e seu mentor Alfredo – e, portanto, do amor pelo cinema que os une e representa a força motriz do filme de Tornatore. Na dúvida, fique com versão original e assista à longa só para saciar a curiosidade. GG1/2

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