Canteiro dos grandes autores cinematográficos, habituado a enfileirar medalhões na disputa pela Palma de Ouro, o Festival de Cannes promete quebrar suas convenções e concentrar-se em diretores em ascensão, quase todos numa faixa de 40 a 55 anos, em sua 66.ª edição. Com 180 filmes, a maratona começa hoje, com a projeção hors-concours de O Grande Gatsby, de Baz Luhrmann, em 3D.
Até o encerramento, no dia 26, 20 diretores disputarão a Palma, mas poucos deles já chegarão à Croisette com status de mestre. Um deles, talvez o principal, é o polonês Roman Polanski, de 79 anos. Ele entra no páreo com uma trama sobre a relação sadomasoquista entre uma atriz e um diretor, em La Vénus à la Fourrure. Depois dele, a grife mais popular é a dos irmãos Joel e Ethan Coen, que forjam a existência de um ícone da música folk em Inside Llewyn Davis.
No restante, a seleção oficial alterna figuras que se tornaram renomadas pelo festival há menos de uma década. É o caso do chinês Jia Zhang-Ke (A Touch of Sin), do americano James Gray (The Immigrant) e do italiano Paolo Sorrentino (La Grande Bellezza).
Thierry Frémaux, diretor artístico do festival, apostou na descentralização de estrelas, espalhando cineastas como Hany Abu-Assad, Claire Denis e Jean-Luc Godard por seções paralelas. Uma delas é a Un Certain Regard, cuja abertura, na quinta-feira, ficará por conta do esperado The Bling Ring, de Sofia Coppola os novos filmes de Denis (Les Salauds) e Abu-Assad (Omar) também estarão na mostra.
Participação
Festival terá apenas dois curtas brasileiros, um deles paranaense
Resume-se a dois curtas-metragens o espaço para filmes brasileiros no 66º Festival de Cannes. A Quinzena dos Realizadores escalou o filme mineiro Pouco Mais de um Mês, de André Novais Oliveira. Já a Semana da Crítica incluiu a produção paranaense Pátio, de Aly Muritiba.
Durante o ano, foram feitas ações para aproximar os curadores da produção nacional, a começar pela Mostra de Tiradentes, em Minas, onde representantes de Cannes participaram de debates e viram filmes. Nada adiantou. Edouard Waintrop, responsável pela Quinzena dos Realizadores, seção que já recebeu diversos diretores brasileiros, aponta a existência de fragilidades aparentes em nosso cinema.
"Hoje, no Brasil, duas tendências convivem no cinema. Uma delas está muito próxima do modelo da tevê. A outra está preocupada demais em reagir contra essa relação com a televisão. Algo parece faltar no meio dessas duas linhas. Falta um tipo de filme inovador, que não deixa o público fora."
Haverá ainda uma presença brasileira no júri da mostra Un Certain Regard: Ilda Santiago, diretora do festival do Rio.
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