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A notória falta de habilidade e criatividade dos tituladores de filmes estrangeiros no Brasil aparece mais uma vez em O Amor em Cinco Tempos, de François Ozon, que está sendo lançado em DVD neste mês no país. O amor é o sentimento que menos perpassa pela produção do diretor francês – outra que foi lançada nos cinemas brasileiros, mas não chegou a Curitiba (grande novidade!) –, que tem o título original de 5x2. Para não levar o espectador a falsas expectativas de uma história romântica, mais correto seria chamar a fita de Uma Relação em Cinco Tempos, ou simplesmente pelo bem sacado título original.

Ozon (de Sob Areia, Oito Mulheres e Swimming Pool) apresenta a trajetória do casal Marion (Valeria Bruni-Tedeschi, melhor atriz no Festival de Veneza 2004 pela interpretação) e Gilles (Stéphane Freiss) através de cinco momentos distintos: o primeiro encontro, o casamento, o primeiro filho, um momento familiar e a separação. O cineasta revela esta história de trás para frente, ou seja, começa pelo término e finaliza com o início, mas ainda assim de forma linear, sem estripulias narrativas e temporais, sem idas e voltas na trama.

Esse tipo de exercício, de analisar uma relação apresentando suas diversas fases, e mesmo invertendo a linha temporal da história, não é nenhuma novidade no cinema ou mesmo na televisão. Há um ótimo episódio da primeira temporada do divertido seriado Scrubs (Sony), sobre a relação de dois personagens centrais, que é narrado de forma muito parecida com o filme de Ozon, mas o francês pesa muito mais a mão nas dificuldades e problemas da vida a dois.

Quase até o fim de 5X2, o espectador fica imaginando o que realmente levou aquele casal a se juntar e viver junto, pois o diretor praticamente só destaca o lado oposto do romance, coisas que vão minando uma relação pouco a pouco. Cabe a Gilles o papel de vilão mais direto da história – estupra a ex-mulher no último encontro, dá em cima do namorado do próprio irmão na frente da esposa, demora a aparecer no hospital quando ela tem o filho precocemente, dorme na noite de núpcias –, mas não há como se esquecer da passividade de Marion.

Há um monocórdico discurso do funcionário público que consagra a separação, determinando o papel de cada um dali para frente, finalizando o acertado no discurso de casamento, como se a união de um casal fosse um mero contrato – numa visão racional e nada romântica, não deixa de ser. Quase tudo é mecânico nas relações, como se os personagens se encaminhassem para uma tragédia que parece inevitável. Apesar do fim iluminado, Ozon faz um filme pouco esperançoso em relação ao amor. Ele deixa muita coisas nas entrelinhas para serem preenchidas por aqueles que já viveram as dificuldades de uma relação, para os que sabem que a vida a dois nunca é um eterno mar de rosas. GGG

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