Ser escolhido para interpretar um personagem como James Bond pode ser uma faca de dois gumes. Se, por um lado, o "felizardo" está fadado a se tornar uma celebridade instantânea, reconhecido em todo mundo, deixar o papel e construir uma carreira depois disso não deve ser tarefa fácil. Sean Connery, o primeiro e mais célebre 007, conseguiu e chegou até mesmo a ganhar um Oscar de melhor ator coadjuvante por Os Intocáveis. Seus sucessores, no entanto, não tiveram a mesma sorte.
O australiano George Lazenby fez apenas A Serviço de Sua Majestade e ressurgiu apenas na série erótica Emanuelle. Nada do que se orgulhar muito. O inglês Roger Moore, por sua vez, apesar de ter feito enorme sucesso como Bond e de ter ganho o título de sir (assim como Connery), nunca teve grandes chances, chegando até mesmo a participar de um filme com as Spice Girls. O galês Timothy Dalton, que fez apenas dois episódios da série, também patina em produções obscuras até hoje. A exceção talvez venha ser o irlandês Pierce Brosnan. Se depender da divertida comédia de humor negro O Matador, o ator parece ter um futuro promissor.
Indicado ao Globo de Ouro na categoria melhor atuação em comédia, Brosnan está impagável no papel de Julian Noble, um assassino de aluguel excêntrico que deseja de alguma forma levar "uma vida normal". O diferencial está no fato de o filme não ter a pretensão de ser uma obra edificante, disposta a pregar clichês do gênero "o crime não compensa". A crise de Noble é de outra ordem, não exatamente de consciência, mas sobretudo existencial.
A vida do matador começa a mudar na Cidade do México, onde está realizando um de seus serviços sujos. Lá, ele conhece Danny Wright (Greg Kinnear, de Melhor É Impossível), cidadão norte-americano convencional, casado e sem maiores ambições, que guarda no coração uma dor suprema: seu filho morreu. Do que poderia ser um mero encontro circunstancial em terra estrangeira brota um relacionamento que poderá transformar a vida de Noble, Wright e de sua mulher, Bean (Hope Davis, de O Anti-Herói Americano). Isso porque, depois de meses de terem se visto pela última vez no México, Noble um dia bate à porta do americano e diz, do nada, "Você é meu único amigo no mundo".
Discussão original sobre os papéis que as pessoas decidem desempenhar na vida, que ao mesmo tempo as definem e limitam, O Matador é uma daquelas comédias que, depois do riso, provocam reflexão, deixando uma ponta de melancolia ou mesmo amargura na boca do espectador. Ao se mudar para a casa de Wright e Bean, Noble traz o extraordinário para vida de pessoas aparentemente ordinárias, evidenciando a precariedade de suas certezas. O pistoleiro descobre, pela primeira vez na vida, a importância de pertencer a algum lugar. Profundo. GGG1/2
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