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“Nessa fase da vida, as transformações físicas são sutis. O que muda são os traços da pele. Eu não poderia fazer isso na interpretação. Teria de ser uma coisa sugerida. Assim, eu e o Eduardo [Nunes, diretor] fomos trabalhando com essas dúvidas e questionamentos, e assim nasceu a Clarice.” -Simone Spoladore, atriz | Emanuelle Bernard/Divulgação
“Nessa fase da vida, as transformações físicas são sutis. O que muda são os traços da pele. Eu não poderia fazer isso na interpretação. Teria de ser uma coisa sugerida. Assim, eu e o Eduardo [Nunes, diretor] fomos trabalhando com essas dúvidas e questionamentos, e assim nasceu a Clarice.” -Simone Spoladore, atriz| Foto: Emanuelle Bernard/Divulgação

Sudoeste

Brasil, 2012. Direção de Eduardo Nunes. Com Simone Spoladore, Dira Paes e Mariana Lima. Em cartaz no Cine Guarani (Centro Cultural do Portão), às 17h30 e 20 horas. Classificação indicativa 14 anos. GGGG

Classificações: GGGGG Excelente. GGGG Muito bom. GGG Bom. GG Regular. G Fraco. 1/2 Intermediário. N/A Não avaliado.

  • Simone nos bastidores de Sudoeste, de Eduardo Nunes

Simone Spoladore foi revelada aos olhos do Brasil por Lavoura Arcaica (2001), longa-metragem de estreia de Luiz Fernando Carvalho, baseado no romance homônimo de Raduan Nassar. No papel da enigmática Ana, uma personagem de poucas palavras, mas sinuosa e provocativa em sua dança e ambígua em quase todos os aspectos, a atriz curitibana, hoje aos 33 anos, entrou com pé direito no cinema brasileiro. E não saiu mais. Tanto que na última edição da Mostra de Tiradentes, realizada em janeiro passado, foi homeanaeada com um troféu por sua contribuição à produção audiovisual mais autoral e independente do país. Um feito e tanto para uma artista ainda tão jovem, que neste ano foi indicada ao Prêmio Shell de teatro, na categoria de melhor atriz, por sua atuação em Depois da Queda, de Arthur Miller.

Ouça trechos da conversa com Simone Spoladore

Com filmes importantes no currículo, como os premiados Desmundo (2002), O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias (2005) e Elvis e Madona (2010), Simone encarou um dos grandes desafios de sua carreira ao aceitar o convite do cineasta carioca Eduardo Nunes para estrelar o primeira longa do diretor, Sudoeste.

No filme, em cartaz desde sexta-feira no Cine Guarani, instalado no Centro Cultural do Portão, a atriz vive o papel de Clarice, uma mulher que vive em uma pequena cidade na Região dos Lagos, litoral do estado do Rio de Janeiro. O filme acompanha um dia na vida da personagem, ao longo do qual ela vive, em ordem cronologicamente desordenada, toda sua existência, da infância à velhice, enquanto todas as pessoas que a cercam seguem ao compasso do tempo real.

Onírico, com toques de realismo fantástico, Sudoeste é uma obra esteticamente notável. O precioso trabalho do diretor de fotografia Mauro Pinheiro Jr., premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA/2012) e pelo Festival do Rio (2011), que também deu ao longa o Prêmio Especial do Júri, cria, em preto e branco, uma ambientação capaz de transportar o espectador para uma espécie de universo paralelo. Nele, o tempo, manipulado pela narrativa, parece paralisado: nunca fica muito claro quando a história se passa.

Olhar

Mais uma vez, Simone encara uma personagem que pouco fala. Ou melhor, pouco se comunica por meio de palavras. Seu olhar, evidenciado por uma abundância de closes que parecem querer investigar, descobrir quem é, afinal, Clarice, diz mais a seu respeito.

Em entrevista à reportagem da Gazeta do Povo, concedida por telefone, do Rio de Janeiro, onde mora, Simone diz que busca trabalhos que a desafiem, que provoquem outros olhares e diálogos. E essas oportunidades são mais facilmente encontradas no cinema autoral e mais independente.

Para construir e compreender melhor a sua personagem em Sudoeste, ela e o cineasta Eduardo Nunes trabalharam em regime de intensa parceria. Ele sugeriu que ela lesse livros, como A Velhice, da escritora francesa Simone de Beauvoir. "Uma coisa que me marcou desse livro é que ela escreve que as pessoas não percebem a velhice por si mesmas. Elas percebem que estão envelhecendo pelo olhar do outro. É quando o outro chega e chama você de senhora, ou senhor. Mas ela também diz que, por dentro, a gente não percebe esse processo da mesma forma. Não se sente envelhecendo."

No filme, Simone vive Clarice dos 18 aos 40 anos – na idade mais avançada, a personagem é interpretada pela também paranaense Regina Bastos. "Nessa fase da vida, as transformações físicas são sutis. O que muda são os traços da pele. Eu não poderia fazer isso na interpretação. Teria de ser uma coisa sugerida. Não poderia interpretar essa passagem do tempo, porque ficaria uma coisa caricata. Assim, eu e o Eduardo fomos trabalhando com essas dúvidas e questionamentos, e assim nasceu a Clarice."

O Piano, longa-metragem da diretora neozelandesa Jane Campion, e filmes do cineasta russo Andrei Tarkovski, também serviram de referência nesse processo.

O elenco de Sudoeste, que também deu a Nunes o prêmio de melhor direção da APCA e o Prêmio de Contribuição Artística no Festival de Havana (Cuba), também conta com as atrizes Dira Paes, Léa Garcia e Mariana Lima, entre outros.

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