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Vera Holtz em Balanço: Beckett traduzido por Barbara Heliodora | Divulgação
Vera Holtz em Balanço: Beckett traduzido por Barbara Heliodora| Foto: Divulgação

Resta Pouco a Dizer, projeto com quatro peças curtas de Samuel Beckett, foi apresentado no Teatro da Caixa no último fim de semana. Realizadas pela Companhia Teatral Gabinete 3, as montagens são resultados de um trabalho de pesquisa que dura mais de uma década.

Beckett sempre teve fama de difícil. O público parisiense que viu a estreia de Esperando Godot em 1953 se sentiu desorientado e dispensou a peça como incoerente. Na última sexta-feira, em Curitiba, o espetáculo dirigido pelos irmãos Fernando e Adriano Guimarães ofereceu uma outra ideia sobre essa discussão. Ao menos para este jornalista.

Em vez de se referir à experiência do público, a dificuldade associada a Beckett pode estar relacionada ao desafio imposto aos profissionais do teatro – atores e diretores no topo da lista.

É difícil encenar Beckett. Tome como exemplo o Ato Sem Palavras II. Dois sujeitos, cada qual dentro de um saco, se revezam numa rotina que é sufocante para um e estimulante para o outro. Como o nome sugere, eles não falam nada, mas gemem, suspiram e esbravejam.

Usando gestos exagerados – como num filme mudo –, eles representam uma síntese da existência: você acorda (ou nasce), se veste, trabalha, se despe e dorme (ou morre). E pode fazer tudo isso lamentando cada segundo ou sorrindo para o mundo. Não é exatamente uma escolha. Depende mais da constituição do indivíduo.

Em outra peça curta, Improviso de Ohio, a tradução de Barbara Heliodora conseguiu fazer jus ao arrebatador texto original. É deste texto que vem a frase "Resta pouco a dizer", dita pelo personagem leitor ao ouvinte – eles estão sentados à mesa, vestindo roupas semelhantes e a luz existente se concentra nos dois.

Catástrofe mostra uma diretora de teatro dando pitacos sobre a aparência de um ator que nada diz. À medida que ela exige mudanças na roupa e na postura dele, uma assistente executa as ordens. Balanço encerra o projeto e conta com a participação de Vera Holtz, no papel de uma mulher que se embala numa cadeira de balanço enquanto ouve uma voz (a dela) narrando instantes finais de sua vida. Angustiante. Aqui, o texto em português perdeu um tanto do impacto, apesar da tradução bem resolvida.

É complicado. Uma saída seria encenar Beckett na língua original, usando legendas em português. Ou fazer como a Gabinete 3 e assumir os riscos de traduzi-lo.

Em tempo: as quatro peças são excepcionais no uso da luz – uma das propostas centrais do projeto. GGG1/2

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