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Novo álbum é o primeiro da formação com Marco Mesquita (guitarra) e Caio Cunha (bateria), além de Canisso e Digão, do line-up original (na foto, em sentido horário) | Patrick Grosner/Divulgação
Novo álbum é o primeiro da formação com Marco Mesquita (guitarra) e Caio Cunha (bateria), além de Canisso e Digão, do line-up original (na foto, em sentido horário)| Foto: Patrick Grosner/Divulgação

CD

Cantigas de Roda

Raimundos. Independente. Lançamento nas lojas digitais na primeira quinzena de março. Disponível para audição em youtube.com/raimundosrock. Hardcore.

Opinião

Álbum reedita espírito divertido da banda

Há um certo tom de exaltação em faixas como "Nó Suíno", do novo disco do Raimundos. "Hardcore é meu patrão, essa é a minha estrada/ Fazendo do meu jeito comendo pela beirada", diz, entre descrições dos perrengues da vida de músico. Faz sentido: o grupo brasiliense lançou um álbum vigoroso e aparentemente bem aceito entre os fãs depois de passar por uma combinação de percalços, descrédito e pressão capazes de derrubar qualquer banda. O disco chega embalado por este mérito. Mas o vigor, claro, está principalmente nos momentos em que o grupo não se leva a sério – a canção-protesto "Politics", em que cobram respeito, é a maior exceção, e funciona quase como um bônus na eficiente sequência de faixas do álbum. Com canções acertadas da pauleira à balada radiofônica, passando por ska e dub com costura do sertão, Cantigas de Roda resgata o espírito essencialmente divertido do Raimundos, com toda a pancadaria, a grosseria e o absurdo que se espera disso. GGG

A saída de Rodolfo Abrantes do Raimundos, em 2001, marcou o início de um longo período de reconstrução para o grupo brasiliense que despontou na primeira metade dos anos 1990 com um hardcore desbocado e inspirado no forró. A continuidade do grupo sem o ex-vocalista e principal letrista (Rodolfo) seria cercada por um clima de comparações. "Toda noite gostávamos de dizer que tínhamos que matar um leão, porque 90% das pessoas iam aos shows já com a intenção de se decepcionar", conta o baixista Canisso, em entrevista por telefone para a Gazeta do Povo. "Além disso, ele [Rodolfo] caiu atirando. Saiu e fez questão de falar mal da banda em todo lugar. Isso criou um estigma forte", conta.

Não à toa, o grupo levou doze anos para entregar o primeiro disco de inéditas desde o pouco expressivo Kavookavala, de 2002. O recém-lançado Cantigas de Roda, bancado via financiamento coletivo pelos fãs e produzido por Billy Graziadei (Biohazard), chega após uma paciente estratégia de recuperação de espaço, conforme explica Canisso. "Primeiro queríamos reposicionar a banda na cena para depois aproveitar o espaço que conquistamos para lançar um disco novo", conta.

Com as atenções voltadas para os palcos, o grupo foi abrindo espaço até voltar a grandes festivais como o SWU, em 2011. "Aí, finalmente chegou o momento de satisfazer a exigência dos fãs", conta o músico.

De volta às origens

Fora algumas canções que surgiram na estrada, o repertório do novo álbum – que apresenta uma dinâmica similar a outros discos da banda, se alternando entre o hardcore, músicas de pegada ramonesca e tiradas em outros estilos como o reggae ("Dubmundos") e o ska ("Gordelícia") – surgiu em "internações" na casa de Digão. "Voltamos ao lugar onde tudo começou e ficamos horas trabalhando em cima das músicas", conta Canisso. "As coisas foram surgindo naturalmente. Só sabemos fazer desse jeito", diz.

O lançamento independente, além de uma necessidade diante da aridez do mercado fonográfico de hoje, acabou sendo essencial para um retorno à altura do grupo. "A gente queria ter liberdade de criação", diz Canisso. "O fato de conseguir o sucesso independente nos palcos nos garantiu que estávamos no caminho certo. Não queríamos ingerência, suavização da proposta, mudanças nas letras", explica o músico – um otimista quando perguntado sobre como este cenário afeta o rock. "Essa conversa de que o rock está em baixa eu acho até boa. Quando acham que o rock morreu, ele volta mais forte que nunca – mais sujo, feio e malvado."

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