A figura forte e roqueira de Bruce Springsteen ficou mais conhecida no mundo (e, conseqüentemente, no Brasil) há exatos 20 anos. O músico já chamava a atenção pelo estrondoso sucesso do disco Born in the USA, lançado em 1984, mas ganhou destaque ainda maior depois de sua participação na gravação de "Where Are the World", música lançada em 1985 por vários artistas americanos em prol dos povos que morriam de fome na África um dos pontos fortes do registro era certamente a voz rouca e potente do cantor no refrão da canção, em dueto com Stevie Wonder.
Muito identificado com o americano comum, trabalhador, sobre o qual cantou em seu melhor disco Nebraska (1982) , Springsteen passava a ser uma estrela mundial.
Passadas duas décadas, a imagem do músico há muito conhecido por The Boss (o chefão) continua forte, principalmente em terras ianques. E é para seus próprios conterrâneos que o músico se volta mais uma vez em Devils & Dust, CD que chegou ao Brasil no mês passado. O novo trabalho é o sucessor do ótimo The Rising (2002), registro que abordou, com maestria, o sentimento de perda dos americanos após os acontecimentos do 11 de Setembro.
Na maioria das canções de Devils & Dust, Springsteen retoma o folk tradicional dos roqueiros cronistas da música americana como Johnny Cash e Bob Dylan , privilegiando a voz e o violão (acompanhados às vezes pela gaita). Dessa vez, ele não conta com a E Street Band, habitual parceira dos seus registros são apenas duas canções com acento mais rock: "All the Way Home" e "Long Time Comin'".
Os versos do compositor falam de pessoas comuns, notadamente dos excluídos, daqueles que não alcançaram o tal sonho americano a bela "Devils + Dust", que abre o CD, conta a história de um soldado americano no Iraque, que não sabe em que acreditar; "Reno" é sobre um trabalhador que resolve esquecer a amada graças aos serviços de uma prostituta (com versos pesados que levaram o disco a ser boicotado por algumas grandes cadeias de lojas dos EUA); "Silver Palomino" fala de crianças que perderam a mãe cedo.
Não há como negar uma certa desilusão e perplexidade de Springsteen com seu país ele apoiou o democrata John Kerry nas últimas eleições presidenciais americanas, vencidas por George W. Bush.
Devils & Dusté mais um trabalho competente de Springsteen. Não é o melhor de sua carreira, mas mostra que continua em forma, tanto como músico como no papel de observador da realidade da América. Completando o lançamento, há um DVD com performances acústicas de seis músicas e mais uma entrevista do cantor nos EUA, o registro saiu no formato dupla face, com CD e DVD no mesmo disco no Brasil os discos estão separados. GGG1/2