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A assessoria de Cauby Peixoto está em polvorosa. O cantor atualmente faz uma concorrida temporada de shows em São Paulo, viaja pelo país e divulga sua volta ao disco. Acaba de lançar o CD/DVD ao vivo Eternamente Cauby, mas tem outro saindo do forno, só com músicas de Baden Powell. Enquanto isso, é homenageado no teatro por Diogo Vilela, ator e produtor do musical biográfico Cauby! Cauby!. De quebra, recebeu há pouco a visita do Fantástico, da Globo, que deve exibir na noite de hoje uma reportagem sobre seu bom momento. Nada mal para um artista que completará 76 anos em fevereiro.

Extravagante e, principalmente, vaidoso, o eterno intérprete de "Conceição" não se faz de rogado na hora de contar seus feitos. Adora usar a palavra "sucesso" e diz, com todas as letras, que seria um artista de renome mundial caso tivesse se estabelecido nos Estados Unidos. Mas Cauby é o tipo de figura que pode se gabar de si sem soar pedante.

Afinal, está na ativa, ininterruptamente, há mais de 50 anos (é um dos remanescentes da era do rádio no Brasil). Apelidado de "Professor", costuma ser festejado pelos colegas da MPB, que admiram seu timbre sofisticado e também sua simpatia – há quem diga que ele jamais falou mal de alguém publicamente. E, como diz seu biógrafo, o pesquisador Rodrigo Faour (autor do livro Cauby Peixoto – O Astro da Canção), Cauby é um dos raros artistas veteranos que conseguiu manter seu prestígio num país de "culto à juventude". Com a palavra, o Professor.

Leio por aí que o senhor vive uma fase de "redescobrimento", iniciada com a bem-sucedida temporada de shows no Bar Brahma, em São Paulo. Mas disseram o mesmo em 1970, quando o senhor venceu o festival de San Remo, e em várias outras ocasiões. Como se sente sendo "redescoberto" de tempos em tempos?

Não acho que seja um redescobrimento. Tenho uma carreira de 55 anos, sólida e sempre com a agenda superlotada. O que acontece é que existem músicas "da moda", e com o tempo as pessoas começam a enjoar delas. Como o romantismo não sai de moda nunca, as pessoas voltam para ele sempre. Ainda mais quando estão amando. Outro motivo é que sempre morei em São Paulo, onde fiz diversas temporadas em vários locais. No Macksoud, Scandal, Viva Maria, 3.° Uísque, Inverno Verão, além de festas particulares, casamentos, bufês, etc. Mas, por causa de compromissos particulares no Rio de Janeiro, tive de me mudar para lá, onde morei por quatro anos. Retornei a São Paulo há dois anos, então dizem por aqui que me redescobriram. Claro que, agora que estou lançando CD e DVD, a mídia é bem maior. Modéstia à parte, sempre estive trabalhando. E com muito sucesso.

Ainda sobre a temporada no Brahma. Como surgiu a idéia de manter uma data fixa no bar? Na sua opinião, qual o segredo do sucesso desse show, sempre lotado?

Recebi diversos convites do Bar Brahma enquanto estive no Rio. Mas, por falta de agenda, não pudemos chegamos num acordo. Até que a oportunidade apareceu e viemos fazer uma temporada que, a princípio, era de um mês. Quando se tem arte, o trabalho é bom, aí o sucesso é garantido e as casas ficam lotadas. Quando as casas são bem administradas, o pessoal é simpático e o ambiente é agradável, melhor ainda. O povo anda muito carente de coisas bonitas, de músicas boas.

Um artista na ativa há tanto tempo não sobreviveria sem admiradores fiéis, daqueles que acompanham seus ídolos com devoção. Como é sua relação com esses fãs de carteirinha? O senhor é do tipo que se aproxima de fãs-clubes, que faz amizade com o público?

Gostaria de ser amigo de todas as minhas fãs, porém elas são milhares e fica um pouco difícil. Mas tenho o maior respeito e consideração por elas. Afinal, não teríamos sucesso se não fosse esse público fiel. Também tenho fãs homens, que me explicam exatamente como eu canto, fazem análise da minha voz. Jovens e até crianças gostam de mim. O meu canto é o que de melhor posso dar a eles.

O senhor assistiu ao espetáculo Cauby! Cauby!, com Diogo Vilela? O que achou? Mudaria algo na peça?

Sim, assisti duas vezes. Não fui mais por compromissos profissionais. Achei uma beleza, um espetáculo que não deixa nada a desejar aos musicais internacionais. Diogo está maravilhoso! Os textos, redigidos pelo Flávio Marinho, que também é diretor da peça, são muito bons! Todo o elenco é de um talento invejável! É um orgulho muito grande ser representado por um ator do naipe do Diogo Vilela. Quando ele nos procurou, imediatamente dei o "alvará" para que fizesse a peça. Tinha certeza absoluta que seria um sucesso, afinal o talento do rapaz é indiscutível. Acho que é um espetáculo grandioso, não mudaria nada.

O figurino glamouroso é uma de suas marcas registradas. Quem o influenciou na composição visual da sua persona artística?

Me inspirei muito nos artistas internacionais. As pessoas gostam muito do glamour, e eu também. Por isso deu certo. Me visto especialmente para minhas fãs.

Credita-se ao senhor a gravação do primeiro disco de rock no Brasil, em 1957 (o compacto "Rock and Roll em Copacabana", música de Miguel Gustavo). Como foi esse flerte com o gênero, que acabava de surgir?

O rock já fazia muito sucesso naquela época, e fui convidado para cantar essa música no filme Minha Sogra É da Polícia (escrito por Chico Anysio e dirigido por Aloisio de Carvalho). Foi uma boa experiência.

O senhor acompanhou de perto várias mudanças tecnológicas na música. A mais recente dá conta da substituição dos CDs pelos arquivos digitais que circulam na internet. Tem alguma opinião formada sobre o assunto?

Não. Acho que, desde que se divulgue o nosso trabalho, tudo é muito bom. O importante é o povo saber o que estamos fazendo.

O clássico "My Way", imortalizado por Frank Sinatra, é considerado um dos pontos altos dos shows no Bar Brahma. Como na letra da música, o senhor acredita que fez tudo na vida exatamente "do seu jeito"? Arrepende-se de alguma coisa em especial?

As coisas que fiz, fiz do meu jeito. Mas um artista nunca acha que já fez tudo. Quando se tem muita arte dentro de si, fica sempre faltando alguma coisa para mostrar. Por isso ainda tenho muitos projetos para realizar. Andei dando umas entrevistas e fui mal interpretado quando disse que havia me arrependido de voltar ao Brasil (nos anos 60, o cantor tentou a sorte nos EUA, onde gravou e fez shows com o nome de Ron Coby). O que eu quis dizer é que voltei porque senti saudade do nosso povo, que não existe igual em nenhum lugar do mundo. Se eu tivesse ficado mais um tempo nos EUA, hoje eu seria reconhecido mundialmente, porém não tenho do que reclamar. Sou muito conhecido, amado e até venerado pelo povo da minha pátria.

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