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O acaso explica em parte o Abril de Shakespeare. O evento que começa hoje soma forças de três instituições graúdas, dispostas a estudar o autor de Hamlet, Rei Lear e outras 35 peças que, juntas, tiveram o efeito de um grande big-bang no teatro universal. Se os textos do bardo, que nasceu e morreu em 23 de abril – com um intervalo de 56 anos –, ainda não são montados em outros planetas é porque, de fato, não existe vida inteligente nos ditos-cujos.

De volta à história do acaso – prepare-se para uma profusão de siglas. O Centro Universitário Positivo (UnicenP) e a Faculdade de Artes do Paraná (FAP) planejavam um evento sobre Shakespeare. Sem saber um do outro, ambos procuraram a professora Liana Leão, integrante do Centro de Estudos Shakespeareanos (CESh) e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

"Para quê fazer três eventos pequenininhos quando se pode fazer um de fôlego?", questionou Liana ao amigos. A resposta foi o Abril de Shakespeare, se tudo correr bem, o primeiro de uma série que se pretende anual. Entre palestras (para iniciados ou não), debates, apresentação musical e até um "jantar shakespeareano" para convidados, preparado pelo chef Flávio Frenkel, do Capoani Caffe, serão 15 acontecimentos (confira quadro nesta página com a programação completa).

O que deve ser disputado a tapa é a palestra que a crítica teatral Bárbara Heliodora faz amanhã, pontuada por leituras dramáticas do ator Diogo Vilela para a peça Otelo. Embora sejam amigos e conversem com freqüência sobre teatro, esta será a primeira vez que se reúnem em público com um interesse em comum. No Brasil, Bárbara é como um farol nos estudos que tratam de Shakespeare. Não dá para analisar o bardo sem ter em vista as críticas e as traduções assinadas pela estudiosa carioca. Ela acredita que ter Vilela recitando três monólogos de Otelo dá "uma idéia muito mais clara" da peça.

Falar sobre "Shakespeare e o Teatro", tema de hoje à noite, parece fácil e amplo demais, mas só alguém experiente como Bárbara pode se propor a uma tarefa dessas sem medo de passar ridículo. Lacônica como de costume, ela diz que pretende abordar "Shakespeare de um modo geral", enfatizando "a originalidade na transformação que faz das fontes". Para suas peças, o dramaturgo se inspirou em várias obras que existiam à época. Pesquisas sobre essas fontes mobilizam acadêmicos pelo mundo.

Vilela, que já interpretou Hamlet, vem à Curitiba como "aluno" porque espera aprender com Bárbara. Leitor do bardo desde os 13 anos de idade, ele o admira pela capacidade de trabalhar esse ser contraditório que é o homem. "Sem querer ser pagão, Shakespeare é meio como a Bíblia", sentencia.

Na FAP, Lilian Fleury Doria, coordenadora do curso de Artes Cênicas, prepara a montagem de Sonhos de uma Noite de Verão com alunos do 4.º ano. A peça deve inaugurar o teatro da faculdade no dia 22 de junho. Como parte do projeto de pesquisa e estudo, tinha uma semana de eventos praticamente montada quando falou com Liana. Seu trunfo: a presença confirmada da professora Marlene Soares Santos, outra referência indesviável no meio acadêmico. "O que mais gosto em Shakespeare é o que vai além da poética. Ele escrevia para o palco. Quando você começa a montar, o texto funciona. As cenas são precisas e têm um timing perfeito", diz Lilian.

André Tezza, coordenador do curso de Publicidade e Propaganda do UnicenP, conta que alunos do curso de Direito se preparavam para julgar Otelo – exercício proposto por professores, que envolve figuras históricas e literárias. Para não cair no assunto de pára-quedas, resolveram organizar palestras sobre a peça e o autor. Procuraram Liana a fim de chegar até a Bárbara. A quadrilha estava formada.

Serviço: Abril de Shakespeare. Série de eventos sobre a obra do dramaturgo inglês.

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