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Jennifer Lawrece (esq.), protagonista da série Jogos Vorazes, recentemente pode ser vista em quase metade dos cinemas do país | Divulgação
Jennifer Lawrece (esq.), protagonista da série Jogos Vorazes, recentemente pode ser vista em quase metade dos cinemas do país| Foto: Divulgação

Indies

Três motivos fazem alguns cinemas se apoiarem em programações alternativas:

Fidelidade

Construíram alguma plateia cativa para filmes clássicos e não querem saber de adolescentes enchendo a paciência.

Dinheiro

Fogem dos custos da cópia tradicional, que pode chegar até 12 mil reais.

Tecnologia

Ainda não se adequaram às mudanças drásticas que estão acontecendo nos bastidores do mundo cinematográfico: o processo geral de digitalização das telas. "É inevitável: as telas analógicas ficarão defasadas", alega Milton Durski, diretor-geral da rede Cineplus.

Repercussão

Mercado digital é pouco regulado e muito lucrativo

As distribuidoras de filmes, por sua vez, parecem estar forçando um certo processo de digitalização. "É um mercado ainda pouco regulado e as empresas estão lucrando como nunca – e estabelecendo condições comerciais desiguais, tratando do mesmo jeito cinemas de uma sala e outros com dez salas. ‘Você quer tal filme? Então vai ter que passar somente ele por algumas semanas. Se não aceitamos as condições, não somos mais lançadores e as distribuidoras simplesmente nos ignoram", diz Milton Durski, da rede Cineplus.

Michelle Mandelli, do Novo Batel, discorda da ótica da obrigação. "As distribuidoras não impõem nada. O cinema aceita as condições se quiser". "A verdade é que estamos ficando de mãos atadas. Os acordos não são generosos nem para quem aceita, nem para quem fica de fora", treplica Durski. "É o mercado, simplesmente, o mercado, finaliza. "

  • Richard Armitage e a companhia de anões estão em 1.037 salas de exibição do Brasil desde a última quinta-feira

Recentemente, após a estreia de Universo Graciliano no Litercultura, um espectador fez uma pergunta ao cineasta Silvio Back: "O documentário vai passar no cinema?". A resposta foi quase desconcertante. "Não sei." O diretor de Aleluia Gretchen e A Guerra dos Pelados, clássicos da filmografia nacional, parecia um tanto desencantado. "Hoje nós fazemos filmes sem saber se eles chegarão às salas de cinema", disse Back, descortinando um certo espírito de crise que assola boa parcela dos diretores nacionais e que também faz eco entre os que pretendem distribuir filmes estrangeiros menos blockbuster.

Do lado mais forte do cabo de guerra, um longa norte-americano voltado ao público infantojuvenil, como Jogos Vorazes – A Esperança Parte 1, o terceiro e último da franquia bilionária (que não foi dividido em duas partes à toa), estreou há quase um mês em 1.310 salas no Brasil, como se não houvesse mais nada no mundo, e bateu todos os recordes de um lançamento no país. Em Curitiba, foram 48 salas bombardeando o filme numa média de três sessões por dia. Com o último capítulo da saga O Hobbit, foi a mesma coisa. Desde quinta-feira, Bilbo Bolseiro invadiu 1.037 salas do Brasil. O que se passa?

As respostas não são simples, mas oferecem algumas explicações. "O curitibano, por exemplo, não gosta de cinema brasileiro", alega Michelle Mandelli, responsável pela programação do cinema do Shopping Novo Batel. "O que passamos de nacional muitas vezes é para cobrir a Cota de Tela exigida pelo Ministério da Cultura".

Michele se refere aos critérios adotados pela Agência Nacional de Cinema (Ancine) para regular e garantir a exibição de filmes nacionais no circuito. Por decreto, os cinemas são obrigados a ter um certo número de dias e manter uma diversidade mínima de títulos brasileiros em sua programação.

O coeficiente varia ano a ano. Em 2014, os complexos têm de cumprir uma cota que varia de 28 a 63 dias por sala e exibir no mínimo entre três e 24 filmes nacionais diferentes. É uma reserva de mercado. Aliás, Manoel Rangel, diretor da Ancine, vem classificando a tomada das salas pelos blockbusters como predatória. Recentemente, na esteira da discussão, a agência decidiu por limitar um teto de 30% de ocupação de salas para cada lançamento no país – como acontece na França, por exemplo.

Excetuando as produções da Globo Filmes, com atores famosos e humor popular, para um filme nacional ou um europeu ter um desempenho lucrativo, ele precisa de, no mínimo, uma gigante na distribuição, como Fox, Warner, Sony, Paramount, Disney, Universal e, agora, a Paris Filmes, que apesar desse nome aí, é brasileira. Mas isso não garante, entretanto, uma boa bilheteria.

Cinema brasileiro depende de festivais

Ter uma marca forte na distribuição não significa garantia de sucesso para um filme brasileiro. O cineasta Guilherme Fiúza Zenha, diretor de O Menino no Espelho, adaptação da infância do escritor Fernando Sabino, abraçado ao selo Paris Filmes, afirma que o cinema brasileiro é cada vez mais dependente dos festivais, que, por sua vez, são cada vez menores.

"É a oportunidade de fazer o trabalho circular. Porque se dependermos do circuito de salas, o filme vai passar no pior horário possível, para ninguém ver mesmo". A lógica não é difícil de entender. As distribuidoras investem onde há maior custo-benefício entre o que gastam os clientes e o tempo em que o filme é exibido. A aposta será sempre em filmes mais "pedestres", embora exemplos como Tropa de Elite 2, dono da maior bilheteria da história do Brasil, distribuído pela Zazen (empresa criada pelo diretor José Padilha exclusivamente para o lançamento do filme), possam servir de exceções que confirmam a regra.

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