Herdeiros da escrita polifônica de Vargas Llosa, um grupo de novos escritores devolve a vitalidade à narrativa do Peru, com livros que usam as últimas décadas do país como pano de fundo para compreender o presente. Nesse grupo se enquadram Alonso Cueto, que esteve na Flip do ano passado, para apresentar a tradução de A Hora Azul, em que narra o conflito entre o exército peruano e o grupo terrorista Sendero Luminoso; e Santiago Roncagliolo, que lançou este ano no Brasil o premiado Abril Vermelho.
Em Abril Vermelho, o "promotor distrital adjunto Félix Chacaltana Saldívar" (é desta forma que o personagem prefere se identificar) tem sua rotina de pequeno funcionário público quebrada pelo aparecimento de corpos cruelmente mutilados. O primeiro deles incinerado de uma forma até então nunca vista serve como ponto de partida para uma retrospectiva na história recente do país.
A partir da seqüência de crimes, Roncagliolo tece uma teia de intrigas entre pequenos burocratas do interior do Peru, com uma ironia que muitas vezes chega a lembrar o tratamento dado por Llosa a seus personagens autoritários. São questões ainda vivas no imaginário peruano, como o poder do Sendero Luminoso responsável por crimes violentos na década de 80 e praticamente extinto na década seguinte e o governo de Alberto Fujimori um capítulo da história ainda não totalmente compreendido pelo país.
À medida em que avança na investigação, Chacaltana descobre que, no fim, não quer saber quem é o responsável. O thriller policial serve como um recurso para o autor desvelar a violenta história de um país. Os crimes acontecem na semana santa, em abril, uma data que não deixa de ser "uma celebração da morte", nas palavras do autor.
Abril Vermelho foi vencedor do prêmio Alfaguara em 2006, um bom impulso para o currículo de um autor de 32 anos que já tem outros três livros publicados pelo selo, ainda sem tradução em português: Pudor, sobre a solidão e a intimidade das famílias; e Jet Lag, seleção de crônicas e artigos publicados durante o ano de 2006. (LA)
Serviço: Abril Vermelho, de Santiago Roncagliolo (tradução de Joana Angélica dAvila Melo. Objetiva/Alfaguara, 291 págs., R$ 39,90).
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