A ligação da documentarista e museóloga Helena Ferrez com a história do Rio pode ser entendida por sua árvore genealógica: ela é filha do historiador Gilberto Ferrez; neta de Julio Ferrez, fotógrafo amador e um dos idealizadores da Cinelândia; e bisneta de ninguém menos que Marc Ferrez, uma das grandes referências da fotografia no Brasil do século XIX. Com a morte do pai, em 2000, Helena descobriu que sua contribuição para a preservação da memória da cidade seria justamente organizar o rico acervo de fotos, obras de arte e documentos que seus ancestrais reuniram ao longo de cinco gerações. Por intermédio de Helena, que convenceu as irmãs de que esta era a vontade do pai, o acervo da família Ferrez, com mais de 40 mil documentos, foi doado em 2007 ao Arquivo Nacional.
— Nesses documentos havia até papéis do meu tataravô, Zeferino Ferrez, um artista que veio para o Brasil e se incorporou à missão francesa de 1816 — conta Helena, que levou mais de oito anos organizando o material que Gilberto armazenou em sua casa no Largo dos Leões e em um imóvel da família em Petrópolis.
Graças à determinação da museóloga de vasculhar e organizar os muitos pacotes do pai, a cidade ganhou dois presentes nos 450 anos de sua fundação: a republicação de um livro e uma exposição. Em 1965, ano do IV Centenário de fundação do Rio de Janeiro, Gilberto Ferrez foi convidado pelo colecionador Raymundo Castro Maya para lançar “Muito Leal e Heróica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro”, com reproduções de gravuras, pinturas e documentos que narravam a história da cidade. Cinquenta anos depois, a publicação volta a ser editada, numa versão fac-símile, e o making off da produção da obra virou uma exposição, batizada com o nome do livro, em cartaz até dia 26 de julho no Centro Cultural dos Correios. São apresentadas 97 obras das 237 incluídas no volume — que terá parte de sua edição de mil exemplares posta à venda, a R$ 140. Algumas imagens, explica Helena, ficaram de fora por estarem prometidas para outras mostras, enquanto outras não foram localizadas.
— Uma aquarela muito bonita de uma favela, identificada apenas como sendo de Portella, não conseguimos encontrar. Não descobrimos quem era o autor, nem o paradeiro dele — relata.
Na mostra, Debret e Taunay
A exposição tem obras de Marc Ferrez, Debret, Taunay e outros artistas que retrataram o Rio. Há obras originais, como a tela de João Francisco Muzzi (um retrato do incêndio que destruiu o antigo recolhimento de Nossa Senhora do Parto, em 1789), e litografias de G.Engelmann, do início do século XIX, com vistas da entrada da Baía de Guanabara e da Igreja da Glória, além de mapas, correspondências e documentos.
— Papai não só era cuidadoso como também muito organizado. E este livro já nasceu como uma obra de arte. Ele e Raymundo Castro Maya (responsável pela comissão de festejos do IV Centenário) decidiram fazer apenas 1.100 exemplares. Quando começamos a organizar o acervo, percebemos que a história da realização deste livro estava toda guardada e dava uma exposição — conta. — Ele guardou todas as correspondências trocadas com o editor, Marcel Mouillot, e até informações sobre os tipos de papel testados para usar na publicação.
Com cenografia de Daniela Thomas e Felipe Tassara, a mostra revela detalhes do projeto editorial, considerado inovador na época. O livro, editado na França, foi feito com técnicas artesanais.
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