Tempo de Escolhas
Adélia Maria Woellner. Edição do autor, 192 págs., R$ 20. Poesia.
Lançamento
Centro Paranaense Feminino de Cultura (R. Visconde do Rio Branco, 1.717), (41) . Hoje, das 16 às 19 horas.
Tecelã
Costurei palavras,
retalhos colhidos
no baú dos devaneios.
Fiz, do manto-poema,
agasalho das esperanças.
Esboço
Às vezes,
me sinto
o esboço
de uma história
que começa a ser escrita.
Adélia Maria Woellner é uma daquelas pessoas para quem a poesia se apresenta nos momentos mais improváveis. "No banho, no carro... Muitas vezes preciso estacionar e anotar os versos no talão de cheques. A poesia não pode esperar", explica.
Adélia acredita na inspiração, em uma força que para na poesia, e que definiria a diferença entre a criação e a fabricação de versos. "Se você conhece a estrutura do poema, a técnica, você até consegue fabricar um poema. Para criar, é preciso trabalhar com a inspiração", compara.
Ela vem publicando os seus há exatos 50 anos, desde quando lançou seu livro de estreia, Balada do Amor Que Se Foi. Como forma de celebrar as cinco décadas de poesia, a autora decidiu reunir textos dos seus treze livros anteriores, criou alguns novos, e lança hoje a antologia Tempo de Escolhas, numa tarde de autógrafos e música (leia mais nesta página).
A música fica a cargo de parceiros como Margarete Bernardon, Beto Capeletto e outros que vão tocar e cantar alguns poemas de Adélia que eles musicaram, bem como algumas melodias que pediram que ela letrasse.
A parte escrita da obra, Adélia dividiu com algumas amigas também escritoras, que tornaram mais amena a obrigação de descartar parte da produção.
Para a autora, foi uma "experiência prazerosa". "Tive que reler cada um deles, lembrar-me dos momentos da minha vida que influenciaram cada poema", explica.
Confessa que lhe causou certa surpresa perceber como seus poemas tinham migrado de um texto intimista e confessional para temas mais filosóficos. "Como a gente muda não é? Graças a Deus."
Adélia é formada em Direito, com a turma de 1972 da Universidade Federal do Paraná. Já escreveu dezenas de livros acadêmicos, prosa e livros infantis. Orgulha-se de ter sido a primeira mulher a ser chefe de setor (de Recursos Humanos) no masculino ambiente da extinta Rede Ferroviária Federal.
Estalo
Aposentada, Adélia vive há anos, sozinha, em uma bela chácara na cidade de Piraquara. Um lugar que emana poesia. Para cada espaço (e espécie), uma placa com um pequeno poema: no portão, no fogão a lenha, ao lado do orquidário, perto da roseira, pendurada na laranjeira. Na entrada da churrasqueira, a quadrinha é crítica e bem-humorada. Era pra ser churrasqueira, mas agora, bem se vê, que toda linda e faceira virou espaço gourmet.
Passeando pelo jardim, Adélia gosta de contar como se deu sua conversão ao universo da poesia. O episódio ocorreu nos anos 1950, durante aula de português do rígido Monsenhor Mazarotto, no ginásio do Instituto de Educação do Paraná. "Uma das minhas colegas, chamada Maria da Luz nunca esqueci seu nome levantou-se e pediu para declamar um poema. Era um soneto. Eu fiquei maravilhada", relembra.
"Fui ao encontro dela e perguntei; foi você mesmo que fez? Fui, ora pois, ela me respondeu dando de ombros", conta.
"Para mim aquilo foi uma luz. Talvez, um dia a despertar de outra forma. Mas, onde quer que ela esteja, queria que ela soubesse que foi quem me deu o embalo para toda a poesia que aconteceu."
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