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Desfile de Stella McCartney na Semana de Moda de Paris | AFP PHOTO/PATRICK KOVARIK
Desfile de Stella McCartney na Semana de Moda de Paris| Foto: AFP PHOTO/PATRICK KOVARIK

Waldomiro Freitas Autran Dourado, conhecido como Autran Dourado, autor de obras como Uma Vida em Segredo (1964), Ópera dos Mortos (1967) e Confissões de Narciso (1997), morreu no Rio de Janeiro, na manhã do último domingo, aos 86 anos, vítima de uma hemorragia estomacal. Ele estava há um mês em casa, depois de ter passado quatro meses internado por problemas respiratórios. Seu corpo foi enterrado no fim da tarde de domingo, no Cemitério São João Batista.

O escritor recebeu o Prêmio Camões em 2000, considerado um dos mais importantes reconhecimentos da literatura em língua portuguesa. O mérito também foi dado a Jorge Amado. Em 2008, Dourado ganhou o maior prêmio literário no Brasil, o troféu Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras.

O autor tinha marcada em sua memória a primeira frase que construiu, ainda menino: "Paulo tinha uma bola". Da infância e adolescência, guardou também os cenários e moradores das cidades onde viveu: nascido em Patos de Minas, em 1926, viveu em Monte Santo de Minas e São Sebastião do Paraíso, antes de se mudar para Belo Horizonte, aos 17 anos. Cenas e personagens desta época alimentaram sua literatura ao longo de seis décadas, marcadamente na criação da cidade fictícia de Duas Pontes, onde se passaram várias de suas histórias, muitas narradas pelo mesmo João da Fonseca Ribeiro.

"Ele foi um escritor de uma obra muito coerente, seguiu por décadas a fio no seu caminho. Não se deixou influenciar por modismos ou tendências, era muito convicto de seu projeto literário", descreve o crítico literário José Castello, colunista da Gazeta do Povo.

Mudança

A compreensão sobre Minas Gerais, ou sobre a Minas interiorana que construiu, veio apenas quando chegou ao Rio, em 1954, onde trabalhou como taquígrafo e jornalista. Entre 1958 e 1961 foi secretário de imprensa do presidente Juscelino Kubitschek. A experiência foi transformada no livro Gaiola Aberta, lançado em 2000. Apontado por Hélio Pellegrino como o responsável por universalizar a mineiridade, o escritor citava Homero ao lembrar que só deixando Ítaca é possível ver Ítaca.

"No Rio, eu comecei a trabalhar para esquecer todo aquele universo mineiro, do qual eu tinha uma visão ainda um pouco limitada nos meus dois primeiros livros, Teia (1947) e Sombra e Exílio (1950)", disse Dourado em 1999. "Esquecer para reencontrar uma coisa que fosse ao mesmo tempo íntima e bem brasileira."

Para o ensaísta e amigo Silviano Santiago, seus romances e contos "se sucederam com a graça de arabescos que se seguem uns aos outros numa composição aberta e, por isso, infinita". "Autran Dourado era dono de um estilo ímpar. Clássico quando quer, e aí se aproxima de Graciliano Ramos. Barroco quando solicitado pelo tema, e aí se avizinha dos hispano-americanos, seus contemporâneos. Metafórico ou simbólico sempre, e também literário, no bom embora gasto sentido da palavra."

O escritor Antonio Torres lembra que os prêmios — Goethe (1981), Jabuti (1982), Camões (2000) e Machado de Assis (2008) — afirmam por si só a grandeza de sua obra. O cuidado com a forma era, segundo Torres, uma das marcas do mineiro. "Seu trabalho era muito voltado para a carpintaria literária. Trouxe uma contribuição de estilo e de forma importante para a literatura brasileira."

Livros

Saiba mais sobre as principais obras do escritor Autran Dourado:

Ópera dos Mortos

Rocco, 252 págs., R$ 40.

Lançado em 1967, é o principal livro da carreira do autor. O romance se aprofunda no passado de uma família de uma cidade pequena do interior de Minas Gerais. A narrativa se desenvolve a partir de um velho sobrado, cuja arquitetura barroca, desgastada pelo tempo, revela o destino marcado pela tragédia de seus moradores. O livro foi incluído pela Unesco numa coleção das mais representativas da literatura mundial.

Uma Vida em Segredo

Rocco, 132 págs., R$ 22.

Novela publicada em 1964, conta a história de Biela, moça criada em uma fazenda, que, após a morte do pai, vai viver na cidade com um casal de primos. A narrativa, contou o autor, surgiu a partir de um sonho dele com a personagem. A obra enfoca uma ação psicológica de Biela, cuja vida social não parece ser movimentada. A cineasta Suzana Amaral adaptou a história para o cinema em 2001.

A Barca dos Homens

Rocco, 292 págs., R$ 35.

O autor definia a obra, escrita em 1961, como "uma história de caça e pesca". Ele narra a perseguição a um homem que teria roubado uma arma. O fugitivo é um débil mental que acaba mexendo com o inconsciente dos habitantes e veranistas de uma ilha do litoral brasileiro.

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