Mais do que apenas uma ponte entre leitores e escritores, os blogs podem ser definidos, por exemplo, como uma espécie de teletransporte, algo inimaginável há duas décadas, quando as páginas de papel dos livros eram o principal ponto de interseção entre o sujeito que lê e aquele que gera o conteúdo. Na 20ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, alguns dos principais autores brasileiros de obras impressas também são conhecidos blogueiros.
O pernambucano radicado em São Paulo Marcelino Freire, apesar da badalação com o lançamento de seu livro de contos Rasif, comemora a visibilidade de seu blog, eraodito.blogspot.com. "Meu blog surgiu, em 2001, para divulgar o meu primeiro livro, Angu de Sangue, de 2000. Mas acabou se tornando uma espécie de agenda cultural". De fato, o espaço virtual do escritor, com 250 acessos diários, mais do que revelar a produção autoral, é um portal de difusão de obras, autores e eventos da cena cultural contemporânea. "Não costumo sair de pijama na sala. Não posto textos literários. Mas o meu estilo de fazer ficção está em todo e qualquer post do blog", afirma.
Outro blog muito badalado é o fabriciocarpinejar.blogger.com.br, do gaúcho Fabrício Carpinejar, que na Bienal lança a coletânea de crônicas Canalha!. E foi no universo virtual que o poeta encontrou a oportunidade para amadurecer a sua faceta de cronista. "O blog amadureceu a minha crônica. Tornou o meu texto mais coloquial, menos poético, apesar de o pensamento poético continuar intenso", diz. O poeta e cronista salienta que as 600 visitas diárias a seu blog são, também conseqüência de sua dedicação. "Não adio a atuação no blog para fazer outras coisas. Levo o blog tão a sério como qualquer outro compromisso profissional. O blog corrompe a minha solidão."
O jornalista carioca Guilherme Fiúza, autor do livro Meu Nome não É Johnny, que deu origem a um dos maiores sucessos de público do cinema brasileiro recente a exemplo de Carpinejar, também leva a sério a atuação de blogueiro. Desde março deste ano, alimenta o guilhermefiuza.com.br/colunaepoca, hospedado no site da Revista Época. Cada post tem, em média, 100 comentários de internautas. No espaço virtual, Fiúza analisa a vida pública contemporânea. Do escândalo envolvendo o jogador Ronaldinho Fenômeno com travestis às acusações ao banqueiro Daniel Dantas. Da política internacional às eventuais derrapadas da gestão do presidente Lula. "Não censuro comentários, nem mesmo dos fãs do presidente Lula, que costumam me desancar. Talvez, essa ausência de censura às palavras dos internautas seja um dos segredos da boa audiência do meu blog."
Fal e Zel: fenômenos
Dois fenômenos do admirável universo blog são duas paulistanas que assinam, individualmente, com três letras: Fal e Zel. Ambas nascidas no início da década de 1970, conquistaram e mantêm audiências fiéis sobretudo por revelar pontos de vista pessoais sobre os mais cotidianos assuntos. O dropsdafal.blogbrasil.com tem duas mil visitas todos os dias desde 2002. "Meu blog tem anotações pessoais." A repercussão dessas "anotações pessoais" rendeu um convite da editora Rocco, que nesta Bienal tem no livro recém-publicado Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite como um dos destaques do catálogo. "Se tem segredo? Tem. Não escrevo para nenhum público-alvo."
O zel.com.br desde 2000 tem uma média mensal de 150 mil visitas. Zel, a exemplo de Fal, também foi contratada pela editora de Paulo Rocco. O livro dela, ainda sem nome, sai até o final deste ano. "Falo de tudo. De receita a cor de esmalte. De viagem a bicho". Ela acredita que o toque pessoal é o "imã" da leitura. "Não leio mais notícia de jornal. Gosto de texto com algum comentário. Muita gente pensa assim. Os internautas não aceitam mais texto asséptico, supostamente objetivo. Tem de ter caldo, molho." Zel verbaliza uma frase que poderia ter sido enunciada por todos os blogueiros mencionados nesta matéria: "Não imagino mais o mundo sem blog".
O jornalista viajou a convite da 20ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo.
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