Em uma capital como Curitiba, o abre-fecha de estabelecimentos é natural frente ao desenvolvimento da cidade e das mudanças de hábito da população. E quando se trata de bares e baladas, esse giro pode ser ainda mais frenético. Acontece que, enquanto alguns caem fácil no esquecimento, outros viram point de uma geração, marcando época e deixando saudades aos frequentadores. Relembre abaixo alguns dos principais bares que deixaram saudades na noite curitibana:
Aeroanta
De casamento a Steppenwolf
Franquia trazida de São Paulo por Sérgio Apter e Henrique Braga em 1990, o Aeroanta começou como alternativa para as bandas locais se apresentarem. “Tínhamos a ideia de abrir um lugar onde nós mesmo gostaríamos de ir. E acabou virando um espaço multiuso com uma programação variada de shows, peça de teatro, performances. Até casamento aconteceu lá”, recorda Sérgio Apter.
Certa noite, Herbert Vianna tocou na casa, se encantou e, tempos depois, voltou com os Paralamas do Sucesso. Depois deles, outros brasileiros como Skank e Nação Zumbi subiram no palco do Aeroanta, abrindo brecha para uma variedade de shows – incluindo Steppenwolf, Nazareth e Buddy Guy – todos com abertura de bandas curitibanas, entre eles Boi Mamão e Sr. Banana. A casa fechou em 1997 por problemas com o imóvel.
Syndicate
Grafites e HipHop
No início da década de 1990, o movimento hiphop ganhava força no Brasil e não demorou para que surgisse em Curitiba um bar que mostrasse esse impacto cultural. Localizado na av. Cândido de Abreu, em frente a onde havia uma pista de skate, o Syndicate abriu as portas em 1992 para se tornar um “marco de respeito as diferenças sociais e culturais”, como afirma Helinho Pimentel, um dos fundadores.
Apesar dos grafites que forravam as paredes explicitarem um diálogo aberto com o hiphop, o bar não se limitou a essa cultura. “Era um ambiente muito democrático, que reunia pessoas de diferentes estilos. Tocavamos de TuPac à música eletrônica, passando por clássicos da disco music dos anos 70. Todo mês, inclusive, tínhamos uma noite dedicada ao público que, na época, ainda era chamado de GLS”, lembra o criador da extinta rádio Estação Primeira.
Helinho assegura que o legado do Syndicate foi quebrar paradigmas e unir diferentes universos culturais. “Ele virou lenda porque permitia liberdade de expressão e carregava a força social que existia naquele começo de década”, afirma. Para ele, porém, foi um momento com data de validade. Depois de dois anos e shows de bandas como Raimundos e Furpie, novas tendências começaram a surgir e os sócios decidiram fechar a casa, seguindo cada um para seu lado.
Circus Bar
Campeonato de Pebolim e bandas curitibanas
Além de espetáculos circenses, festival de filmes e campeonatos de pebolim que movimentavam o Circus Bar, localizado na rua São Francisco, a variedade maior era de estilos musicais. Indo do hardcore dos Anões de Jardim, passando pelo swingue de Kátia Drummond, até a batida do Pavilhão 9, a casa se propôs a acolher todas tribos e incentivar as bandas locais, desde sua inauguração em 1991.
Durante os 9 anos de existência, a casa passou por diversas reformas, sem perder a identidade underground. Paredes pretas, grafites macabros, velas e caveiras no balcão. Também foi colorido, com quadros de palhaços e temas circenses, fazendo referência ao próprio nome. “O legal do Circus foi abrir espaço para a música autoral produzida em Curitiba,”, comenta o antigo dono Sandro Tavares, atual proprietário do Jokers Pub. Entre as curitibanas, estão Relespública, Krápulas e Catalépticos, além da passagem de bandas dos Estados Unidos, Portugal e Holanda.
Bar 21
Berço da Batata Suíça
Quando Luiz Alberto Amorim e Hélio Galvão decidiram comprar o Bar 21, em 1990, ele já havia passado por três endereços nos seus 60 anos de história. Mas foi na Alameda Dr. Muricy que, com os novos donos, o bar deixou de ser apenas um reduto de malandros e jogadores de sinuca.
“Nós o transformamos em um botequim carioca em Curitiba, onde as pessoas iam para se encontrar, para conviver”, recorda Luiz Amorim. A casa, projetada para ser o Cassino Elite na década de 1930, adotou um ar bossa nova e abrigou, entre as oito excelentes mesas de sinuca de seu salão amplo, todos os tipos de gente. “Aquilo virou um mundo mix. Ia gente de todas as classes, de todos os níveis intelectuais da sociedade. Da elite ao malandro”, reforça, Amorim.
Além de criar um cardápio – o bar ficou conhecido como um dos primeiros na cidade a servir batata suíça, as relações dos sócios em diferentes círculos culturais fez do 21 um espaço aberto às artes. “Todos os artistas que passavam pela cidade por causa de show, iam ao bar. A Cássia Eller autografou discos sentada em uma das mesas de sinuca. O pessoal do Titãs também passou lá. Saul Trumpet, galera do Relespública, e muita gente”, recorda o ex-proprietário. Teve, ainda, bienal de fotografia e exposições de arte (de Geraldo Leão e Rogério dias, por exemplo), além de fazerem locações para filmes e o “música na sacada”, quando, em geral, tocava chorinho.
Em meados de 1997, o bar, que até então não tinha uma personalidade única – como aponta Amorim - ganhou uma nova atmosfera. “Acredito que, como o 21 não tinha estilo definido, o público com personalidade mais forte determinou a mudança e a casa se transformou em um bar gay”, analisa. Em 2000, a casa fechou, principalmente, por dificuldades em estabelecer um projeto de incêndio para imóvel datado do começo do século XX.
Todos os artistas que passavam pela cidade por causa de show, iam ao bar. A Cássia Eller autografou discos sentada em uma das mesas de sinuca. O pessoal do Titãs também passou lá. Saul Trumpet, galera do Relespública, e muita gente
Rainha Careca
Sofisticação e trilha sonora K-7
Um piano bar ao estilo londrino. Foi essa ideia que Fábio Luiz Pimentel trouxe na bagagem quando voltou de uma temporada na capital inglesa. Largou a faculdade e, com dois amigos, abriu o Rainha Careca, em 1979, em homenagem à Rainha Elizabeth Primeira. O som do saxofone nas caixas e as paredes forradas com tecidos davam o tom sofisticado da casa, que expôs fotos de Ito Cornelsen sobre os Rolling Stones em sua inauguração, na rua Bispo Dom José (onde, hoje, fica o Sheridan’s).
Passaram alguns anos e casa se popularizou. Começou a promover festas em 1983 e, no ano seguinte, nas mãos de Paulinho Cespedes, Renato Karam Saltori e Dauro Bonde Jr., já funcionava com música ao vivo. “O Rainha se transformou numa casa de rock. Passaram Blindagem, ZYZ, Beijo AA Força e muitas outras bandas daqui”, lembra Paulinho. Ele conta, também, que botava pra tocar no bar as fitas que recebia de amigos que moravam na Europa, com o que era lançado por lá (e que demoraria meses para chegar ao Brasil).
Descontraído e democrático no público, o bar inspirava romances e amizades. “Passavam em média 400 pessoas por noite e nós nunca tivemos problemas de brigas”, orgulha-se Paulinho. “Havia um clima muito bom, a casa tinha vida”, completa.
Em 1987, os sócios decidiram fazer uma reforma, que durou dois meses e coincidiu com a abertura de outro bar. Na reabertura, a rotação de público diminiu e, com a idade avançando e os filhos nascendo, optaram por fechar o Rainha Careca.
Porto Velho
Celeiro do Blindagem
Outro local foi o bar Porto Velho, aberto em 1981 na rua Francisco Torres. Com uma arquitetura rústica e mobília em madeira bruta, foi o primeiro bar da cidade a ter ficha de consumação. “Naquela época, a noite de Curitiba estava limitada aos botecos, aos bares pequenos, e o Porto Velho começou a colocar bandas de rock para tocar ao vivo”, conta o humorista Miau Carraro, que começou como cliente e depois se tornou sócio do bar.
Seguindo a linha do rock’n roll, as paredes da casa exibiam posteres de vários ícones do gênero musical e seu ambiente serviu de inspiração para que Gilberto Carvalho, um dos fundadores do Porto Velho, criasse o John Bull – aberto até hoje.
O local durou até 1985, e, apesar do pouco tempo, foi o ponto de encontro de toda uma geração. “O Porto foi o berço de muitas bandas de rock da cidade. O Barão Vermelho também tocou lá, quando veio à Curitiba, e ainda nem era conhecido”, relembra Carraro. O bar foi celeiro de bandas como Blindagem e Maxixe Machine, além de músicos como Helinho Brandão e Glauco Solter.
Bar do Saul
Desafio da Sinuca com clientes indesejados
Era 1982 e a rua Cruz Machado já ostentava a fama de ser um ambiente hostil. Mas isso não assustou Saul Trumpet, que, além de exímio musicista, sempre foi muito bom jogador de snooker. Ele comprou um pequeno boteco e, para afastar a antiga clientela do local, desafiou os cliente indesejados para algumas partidas, com a aposta de que, se perdessem, nunca mais voltariam ao bar. Ele ganhou e assim nasceu o Bar do Saul, um refúgio para o jazz curitibano, que andava sem um espaço na cidade para se desenvolver.
Saul conta que era comum os clientes terem medo da região, indo, ele próprio, buscá-los na rua para que entrassem no bar em segurança. Outro problema que teve que enfrentar foi a tal da inflação. “Os preços subiam todos os dias e, a cada vez que eu ia no mercado, tinha que mexer no cardápio para ajustar os valores”, recorda.
Entre as 12 mesas que cabiam no bar sem muita decoração, e que abria todos os dias da semana, sentavam-se nomes como Jaime Lerner e Dino Almeida para prestigiar os melhores músicos do gênero em ação. Henrique Rodrigues, os baterista Tampinha e Tiquinho e os jovens Endrigo Bettega e Jeff Sabbag, foram alguns dos músicos que passaram por lá, além de todos os jazzistas que, por causa de shows na cidade, acabavam no bar para dar um “canja” – como Saul, humildemente, relembra. Silvério Fontes, Humberto Araújo, Humberto Sion e Arismar do Espírito Santo foram alguns desses.
Mas nem tudo são flores. “Meu negócio era tocar”, comenta Saul que, em determinado momento, se viu sem mulher e filhos para ajudá-lo na gestão do bar. E como ele não largava seus instrumentos a noite toda, os garçons aproveitavam para roubar o caixa da casa. Para piorar, em 1997, Saul descobriu um aneurisma e, refletindo sobre as seguidas madrugadas debaixo de álcool e jazz, decidiu, para o próprio bem, fechar o estabelecimento.
Saul Trumpet, além de exímio musicista, sempre foi muito bom jogador de snooker. Ele comprou um pequeno boteco e, para afastar a antiga clientela do local, desafiou os cliente indesejados para algumas partidas, com a aposta de que, se perdessem, nunca mais voltariam ao bar. Ele ganhou e assim nasceu o Bar do Saul
Bar do Cardoso
O preferido de Paulo Leminski
Dois anos depois de aberto o Bar do Saul, o poeta morretense Alberto Cardoso abria um com o seu nome, na rua Visconde de Nácar, para abrigar a poetas e boêmios das mais diversas tribos da cidade. Enquanto a família cuidava de tudo, ele próprio se ocupava em declamar poemas seus e de amigos, como o Urbe Urge, do piauiense Reinoldo Atem. “Me lembro que quando ele começava a recitar, as pessoas calavam assim que ouviam a sua voz”, lembra o filho, Gil Cardoso.
Em 1987, o bar mudou para um anexo no térreo da União Paranaense dos Estudantes, mas se manteve como um local aberto a debates entre as cabeças da cidade – como os poetas Paulo Leminski e Alice Ruiz – refletindo o momento de transição política pelo qual passava o país.
Gil recorda dos quadros de Paulinho Assis, vizinho do bar, e de outros artistas locais, em meio aos desenhos astecas que enfeitavam as paredes – que já estavam lá quando se mudaram. No final de 1992, Alberto Cardoso adoeceu e, por ser ele a alma do local, a família decidiu fechar o bar, deixando um misto de nostalgia e melancolia naqueles que conheceram o estabelecimento .
Sheena Bar
Grana curta e música boa
Duas coisas motivaram Marcia Fontana, Paulo Giroletti e Vicente Meneghetti Junior, o China, a criarem o Sheena Bar, em 1991: falta de dinheiro e montar um bar que tocasse o tipo de música que eles gostavam – que, segundo Marcia Fontana, não se ouvia em outros lugares. Eles falavam de new wave, punk rock, rockabilly, psychobilly e ska.
E era atrás desses sons que as pessoas iam, quando subiam a escada estreita que dava acesso ao bar, localizado na rua Inácio Lustosa – onde foi o Chinaski e, hoje, é o Harvest Folk Bar. Gosto em comum que tornou o bar um ponto de encontro de diferentes tribos. “Vinham músicos, jornalistas, artistas, atores, mas também vinham advogados, ou bancários, por exemplo, que apreciavam o estilo. A música, lá no Sheena, foi um elo entre pessoas muito diferentes”, recorda a ex-proprietária.
Marcia se lembra das festas – como da tequila e do Jack Daniels – que enchiam o pequeno espaço (para até 70 pessoas), e dos quadros feitos dos cartazes das festas espalhados nas paredes, juntos a outros de bandas e filmes.
Com 7 anos de Sheena, o cansaço acumulou e as vontades dos proprietários mudaram. Em consequência disso, o movimento de público diminuiu e eles decidiram por fechar as portas da casa, em 1998.
O Poeta Maldito, Dolores Nervosa e Dromedário
Corvo, sucesso e tiro na calçada
Torneiras de vários modelos, televisão chuviscando, placa com o corvo de Edgar Allan Poe – roubada na segunda semana depois de aberto no novo endereço, na rua Clotário Portugal. Era 1991, e o bar O Poeta Maldito – que já havia estado na rua Alameda Cabral – reabria com Ieda Godoy entrando para o elenco de sócios.
Mas durou pouco. Em 6 meses, o clima agitado das pessoas se expressando – ao som de David Bowie, Paulinho da Viola, ou tudo aquilo que os sócios consideravam ‘música boa’ – irritou os moradores da região, que conseguiram fazer com que o bar (sem alvará, aliás) fechasse as portas.
A redenção de Ieda Godoy veio no ano seguinte, com a abertura do Dolores Nervosa na rua Vicente Machado. “Dessa vez, fizemos a coisa certa. Contratamos contador, fizemos um contrato social e brigamos pelo alvará”, conta Ieda. Herdando o público d’O Poeta - músicos, escritores, artistas, atores, jornalistas, intelectuais, estudantes - em poucos meses, o bar virou uma concentração de expressões culturais, inclusive com várias performances da própria dona.
“O bar foi um sucesso tão grande que não coube em si”, relata a ex-proprietária. Talvez influenciados pelo nome da casa e pela possibilidade de liberdade de expressão do local, a concentração de todos os tipos de malucos – no bom e no mau sentido – fez a coisa sair do controle. Uma confusão na calçada em frente ao bar, um tiro, um rapaz morto. Não havia mais clima para o Dolores Nervosa.
Ieda Godoy, porém, não sossegou. Munida de experiência e do que denominou de autopreservação, abriu o Dromedário, em 1994, no mesmo endereço do Dolores. “A boa loucura podia e devia aparecer, mas não de cara, não de imediato, mas com o decorrer do tempo. Com emoção, com sentimento”, explica. Segundo ela, o Dromedário, que durou até 2000, foi uma tentativa de voltar à proposta original, que repete consigo como mantra, e faz com que transforme seus empreendimentos em locais artísticos e multiculturais: “um bar não pode ser apenas um bar”.
A concentração de todos os tipos de malucos – no bom e no mau sentido – fez a coisa sair do controle. Uma confusão na calçada em frente ao bar, um tiro, um rapaz morto. Não havia mais clima para o Dolores Nervosa.
Legends Underground Club
Pioneiro da música eletrônica
Na virada dos anos 80, a Europa já respirava os ares da música eletrônica, quando ainda se chamava disco music e não haviam as segmentações dentro do gênero. Das noitadas em Londres, Igor Mattar trouxe para o Brasil a vontade de investir na cena, ainda limitada a poucos espaços – em geral, aos que ainda eram chamados de ‘baladas gay’.
Nasceu, então, em 1993, a Legends Underground Club (depois, apenas, Legends), na Alameda Dr. Muricy (hoje, Cats), com intenção de abrir a música eletrônica para um público mais amplo. E em um ano disseminando as variações da vertente do que hoje se chama house – mas que na época vinha com o nome genérico – a casa explodiu. “Curitiba nunca tinha visto uma formação de pista como a que criamos. Vinha gente de São Paulo ver o trabalho que nós estávamos realizando”, conta Igor Mattar, ex-proprietário e DJ residente da casa.
A Legends foi pioneira, também, em trazer DJs estrangeiros e fortaleceu o movimento de valorização do profissional – até então pouco reconhecida. “Nós tínhamos uma parceria com um selo de Belo Horizonte, de onde conseguíamos trazer alguns nomes como Jon Carter e Carl Cox”, comenta, Igor.
Segundo ele, a casa desempenhou um papel de mudança de comportamento. “As pessoas frequentavam a Legends como se fosse uma religião. Toda sexta e sábado estavam lá para curtir”, compara.
Com a cabeça sempre na frente, Igor Mattar sentiu que, talvez, fosse hora de evoluir na proposta do bar. “Na época, eu imaginava que era preciso dar um passo à frente. Hoje, vejo que não era bem assim”, pondera o ex-dono. Por decisão de Igor, a Legends fechou em 2000, mesmo gerando lucros para o proprietário.
Fórum e Coração Melão
Grandes shows
Em 1996, inaugurou em Curitiba uma casa que viria a se tornar o 3º polo de shows no Brasil. Com apresentação da Shakira, a Fórum abriu as portas, se consolidando como a maior casa de shows da cidade.
Essa história, porém, começa quatro anos antes, quando Ugo Zambom teve a ideia de criar o Coração Melão, na rua João Palomeque, no bairro Portão (antigo Curitiba Master Hall, onde hoje é o Live Curitiba). Com capacidade para 2700 pessoas, a casa começou abrindo para bandas curitibanas – como Gypsy Dream, Dr. Smith e Djambi - tocarem em meio às luzes robóticas e ao boneco de aranha, que descia para a pista por um elevador.
Com a popularização da casa - que em 1994 tinha, inclusive, os shows de domingo transmitidos pela rádio Jovem Pan - o movimento natural foi a ampliação do espaço. Em 1996, o Coração Melão se transformou em Fórum, praticamente duplicando sua capacidade de público e se abrindo para diversos estilos musicais.
“A casa estava sempre lotada, principalmente quando vinha Lulu Santos, Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho”, recorda Ugo Zambom. “Agitou bastante a cena cultural de Curitiba”. Em 2001, as reclamações dos vizinhos – em principal sobre a agitação que ficava nos entornos da Fórum – fez os sócios terem dificuldade em regularizar o alvará e decidirem por fechar o estabelecimento.
Jail – A Fábrica de Vagabundos
“Galpão com cara de galpão”
Na primeira metade dos anos 90, o litoral do Paraná abrigava um festival de música underground chamado Festival Chacina, idealizado pelo surfista e criador da marca de roupas Cruel Maniac, Leandro Dora – o Grilo. O evento, porém, não deu conta de absorver tudo que surgia na cena punkrock e hardcore, crescente no final do século.
Foi quando Alexandre Abbas e outro colega acharam um barracão na rua Vicente Machado e pediram para Grilo dar continuidade à ideia do Festival. “Nós mesmos fizemos uma reforma, mas o galpão continuou com cara de galpão; o teto era igual aos das fábricas, dai surgiu o nome”, conta Alexandre Abbas, um dos idealizadores da casa, criada em 1994.
O público se empoleirava no mezanino de madeira para ver as novas Resist Control e Pinheads; e pulava do palco de dois metros, enquanto tocavam os já veteranos Ratos do Porão. “Era o movimento underground acontecendo – tudo que era ligado à cultura de rua estava lá”, comenta Alexandre.
A casa recebeu, inclusive, os primeiros shows da banda Planet Hemp em Curitiba, em dois dias seguidos, na época em que, muitas vezes, Marcelo D2 e os comparsas saiam do palco direto para a delegacia. “Foi um show intenso e tenso. Tinham 700 pessoas na casa e a polícia do lado de fora ameaçando acabar com o show”, recorda. (A banda não teve problemas na cidade e pôde seguir em turnê.)
Mas como todo movimento cultural que cresce, um dia murcha. E a Jail – Fábrica de Vagabundos, como a materialização dessa efervescência underground na cidade, foi para o mesmo caminho. Com os sócios envolvidos em outros projetos, a casa ficou sob os cuidados de uma quarta pessoa, que promoveu um festival de música incompatível com a proposta inicial do bar. Foi o começo do fim. Três meses depois desse tiro no pé, a Fábrica desligou as máquinas.
O show do Planet Hemp foi muito intenso e tenso. Tinham 700 pessoas na casa e a polícia do lado de fora ameaçando acabar com o show
Cabaret Pagliacci
Presente de aniversário
Quando fez 18 anos, ao invés de ganhar um carro dos pais, Ludmila Nascarella ganhou um bar. E foi de suas pesquisas em gêneros teatrais que a atriz e agitadora cultural, criada no meio artístico, buscou referências para abrir o Cabaret Pagliacci, em 1996, num casarão de esquina entre as ruas São Francisco e Riachuelo. Misturando elementos de circo, teatro e ópera em sua decoração psicodélica, o bar se dedicava a dar oportunidade a novas bandas e a fomentar culturas undergrounds.
Em pouco tempo, a casa se popularizou e Ludmila não deu conta de tocar tudo sozinha: os pais, Luis Carlos Nascarello e Valkiria Polo, e o irmão, Otto, entraram para o time. “Acho que além do caráter democrático e multicultural, foi esse clima familiar que fez dele um espaço diferente. Uma vez, aconteceu uma briga em frente na calçada e minha mãe foi lá fora pra chamar os punks pelo nome, para que voltassem para dentro do bar”, relembra Ludmila.
Depois de um ano, o bar mudou para a rua Trajano Reis, mas se manteve na linha da diversidade. Além de shows, o espaço abrigava ensaios e experimentos teatrais, declamações de poesia, exposições fotográficas, festas temáticas - como os especiais anos 50 e rockabillie – e , por dois anos, o projeto Psycho Carnival (1996 e 1997). Em 1998, porém, por problemas financeiros e com Ludmila indo estudar na Europa, a família decidiu encerrar as atividades do Cabaret Pagliacci.
Uma vez, aconteceu uma briga em frente na calçada e minha mãe foi lá fora pra chamar os punks pelo nome, para que voltassem para dentro do bar
Soho
A festa começa às 5h
Em 1998, quem passasse pela rua Vicente Machado, na certa, iria reparar no bar de música eletrônica que abrira. Pessoas dançando, conversas, bebidas, luzes – tudo passava pela fachada de vidro da antiga loja de moda, que servia como principal atrativo do bar Soho, aberto naquele ano - como parte do fortalecimento da cena eletrônica no Brasil. Mas tinha uma diferença para as outras casas do estilo: quem mandava na festa eram os clientes.
“Foi acontecendo naturalmente: a partir de certa hora da noite, as pessoas iam se animando, embaladas pela música, e começavam a afastar as mesas pra ter mais lugar pra dançar. E a casa passou a ser assim. Um bar onde se podia conversar, mas que se você tivesse vontade, podia arrumar um espaço para festar”, conta Mauricio Harada, na época, DJ residente da Soho.
Assumindo essa espontaneidade do público, a casa passou a lotar. Atraiu diferentes tribos e começou a abrir as portas, também, nas terças-feiras e domingos para tocar eletrônico. “Eram os dias em que a festa seguia o ritmo dos clientes, tinha gente que chegava às 5h”, relembra Harada, “muitas noites viraram after hour sem que a gente programasse”.
Do grande movimento – a casa promoveu festas para 3 mil pessoas dentro do Shopping Crystal – veio o dinheiro. E com ele, a vontade de ampliar. Os sócios não imaginavam, porém, que fechar a frente de vidro, retirar os quadros de bairros de Nova York e Londres, transformando o bar num clube, numa casa noturna, iria ofuscar aquele clima despojado que fez da casa um espaço diferente. Depois de perder as paredes de tijolo à vista, e o ar urbano e cosmopolita, a Soho durou mais um ano, fechando as portas em 2000.
Era Só O Que Faltava
Fabio Porchat e Danilo Gentili
Mais recente, mas não menos saudoso, foi o Era Só O Que Faltava. A proposta do fundador Odilon Merlin, em 2000, era criar um espaço para as pessoas usarem da forma criativa que quisessem. “Era bar, restaurante, casa de shows, tinha salão de beleza, teve exposições de arte, performances teatrais. A gente inventava moda”, cita o ex-proprietário.
Porém, o bar ficou conhecido no cenário nacional como o 2º espaço do país a se abrir para as apresentações de humor no estilo standup. Começando pelo curitibano Diogo Portugal, se apresentaram na casa, antes da fama, comediantes como Fabio Porchat e Danilo Gentili, entre muitos outros.
Na parte musical - além de receber artista como Black Maria e Pedro Luis e a Parede, e promover festas de música sueca, noites de forró e misturar música eletrônica com projeções – o Era Só O Que Faltava deu início às segundas-feiras autorais, herdadas pelo Bardo Tatára. “Bandas como o Real Coletivo Dub e o Locomotiva Duben, por exemplo, se criaram lá”, relembra Odilon. “Foi um bar muito democrático durante os 11 anos que durou, onde você podia se divertir e absorver conteúdo ao mesmo tempo”, finaliza.
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