"Poesia é o espanto transverberado." Assim respondeu o escritor Affonso Romano de SantAnna à pergunta "O que é poesia?", elaborada pelo também poeta Edson Cruz para compor seu livro, que leva o mesmo nome da questão.
Romano está celebrando 50 anos de produção literária, mas parece não dar bola para isso. "Eu nem havia me dado conta [deste cinquentenário. Foi uma] trajetória iniciada com O Desemprego do Poeta, em 1962, em que escrevo sobre a situação do poeta na sociedade capitalista", afirma Affonso.
O percurso não foi apenas trilhado por ele, mas construído, seja pela divergência, quando combateu conceitualmente os concretos, ou convergência, decidindo publicar os poetas marginais no suplemento literário que dirigia no Jornal do Brasil.
O encontro Expoesia, organizado por ele em 1973, reuniu 600 artistas em plena ditadura e catalisou o movimento da poesia marginal.
"Affonso destaca-se pelas ideias, um pensador das questões do país, que continua refletindo de peito aberto, mas sem perder o rigor na escrita poética", afirma Cruz.
Assim como a publicação de Que País É Este? (1980) deflagrara calorosos debates políticos, a poesia de Affonso continua presente no âmbito das discussões nacionais.
"O poema A Implosão da Mentira, por exemplo, não me pertence mais. Toda vez que tem um rebu em Brasília alguém republica. Foi usado agora como protesto pela morte de pescadores no Rio. O destino é virar folclore", vaticina Affonso.
O poeta revela o desejo de publicar novos volumes reunindo os temas recorrentes.
"Um para história, mostrando como minha poesia reage formal e politicamente a ela; um sobre o amor, mas sem essa visão machista de Bandeira e Vinicius; um sobre a morte, de que trato desde o começo de minha produção; e outro sobre a palavra."
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