Um dos alfaiates em seu ateliê: trabalho solitário com futuro incerto| Foto: Divulgação

A ideia rendeu. No começo foi um livro, Alfaiatarias em Curitiba. O cineasta, fotógrafo e antropólogo João Castelo Branco, ao lado das também antropólogas Valéria Oliveira Santos e Dayana Zdebsky de Cordova, destrincharam em páginas o cotidiano de uma das profissões mais antigas do mundo. Não contentes e otimistas com a imersão naquele universo, a mesma equipe realizou o documentário O Corte do Alfaiate, que tem pré-estreia marcada para as 20 horas de hoje na Cinemateca de Curitiba. O projeto foi realizado com apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura.

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O tom do filme é sóbrio, como a profissão que retrata. Durante 70 minutos, fica clara a aposta intimista. A cronologia tem como ponto inicial o primeiro corte do tecido, e termina com a peça quase pronta, no corpo do cliente. Não há trilha sonora, e o que predomina é o som ambiente – o das tesouras e das máquinas, em especial – das sete alfaiatarias visitadas. Os diálogos são espontâneos e não há narração. "Uma roupa com bom caimento?", explica um dos profissionais a certa altura do filme, "é aquela que cai sem uma prega, sem uma ruga, não importando se o cara é torto ou direito".

"Nós visitamos várias vezes as mesmas alfaiatarias em momentos diferentes. Foi um processo que nos permitiu ter acesso a imagens muito particulares. O ritmo da alfaiataria é lento e as falas contribuem para esse ritmo. O filme tem uma linearidade temporal, mas o tempo não é contínuo", conta Dayana.

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Outros temas são sugeridos pelos entrevistadores. Há a relação do alfaiate com o cliente, o aprendizado, a importância da experiência e o impacto da profissão na vida de cada profissional. "Em algumas alfaiatarias, eles trabalham sozinhos em todos os processos. Em outras, têm a ajuda dos oficiais. No fim, percebemos que cada uma atende públicos distintos em ambientes que se diferenciam", diz Castelo Branco.

O cineasta também conta que a intenção é apresentar o que há de mais diverso no universo das alfaiatarias. "Os alfaiates falam do modo de se vestir, do status da roupa sob medida, do tecido particular, constatam que não falta trabalho e, sim, gente para trabalhar. Muitos lamentam a opção dos filhos que preferem fazer uma faculdade do que ficar numa alfaiataria. Não há uma resposta sobre o futuro da alfaiataria.

Serviço:

O Corte do Alfaiate. Cinemateca de Curitiba (confira programação completa) (R. Presidente Carlos Cavalcanti, 1174), (41) 3362-9438. Dia 8, às 20 horas. Entrada franca.