Você pode achar as roupas e os cabelos engraçados; estranhar os valores em "cruzados" e a ausência de celulares e computadores (o suprassumo da tecnologia então eram os enormes telefones fixos sem fio, daqueles que você tinha que puxar a antena antes de falar); pode se surpreender ainda com a trilha sonora, em que clássicos do rock nacional dividem espaço com obscuras músicas da década de 80; e achar curioso ver estrelas da tevê na flor da idade como Glória Pires, Regina Duarte e Antônio Fagundes, por exemplo.
Mas, se tiver a oportunidade, não deixe de ver uma das melhores novelas da televisão brasileira Vale Tudo, de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, que está sendo reprisada pelo Canal Viva desde o último dia 4, à 0h45, com horário alternativo ao meio-dia. Para você que não tinha idade suficiente ou não quis vê-la em 1988, quando foi ao ar originalmente na Globo, é a famosa história que parou o país com o mistério "quem matou Odete Roitman?".
Passados 22 anos, o que mais impressiona e entristece é a atualidade da trama. O mote da história é a corrupção em suas mais variadas formas, incluindo a "Lei de Gérson" (aquela que apregoa que devemos levar vantagem em tudo) e o famigerado "jeitinho brasileiro". Mas o mais interessante é que, como na vida, essa moral mais "elástica" não aparece só nos personagens ricos ou naqueles identificados como vilões.
Ela está nas grandes armações de Marco Aurélio (Reginaldo Faria), César Ribeiro (Carlos Alberto Riccelli) e Maria de Fátima (Glória Pires), mas também nas pequenas "malandragens" de pessoas do bem: a secretária Aldeíde (Lília Cabral), que leva para casa os rolos de papel higiênico do banheiro da empresa; a psicóloga Leila (Cássia Kiss), que tenta ficar com ingressos para um show entregues por engano ao marido Ivan (Antônio Fagundes); e até o taxista que tenta explorar Raquel (Regina Duarte) assim que ela chega ao Rio de Janeiro.
Outro diferencial da novela é o seu realismo à brasileira, traduzido na impunidade de praticamente todos os vilões com a exceção óbvia de Odete Roitman (Beatriz Segall): Maria de Fátima e César vão morar na Europa, enquanto Marco Aurélio dá um desfalque na empresa e foge do Brasil. No país em que a corrupção continua proliferando nos mais altos escalões do governo, mas também entre os motoristas que subornam guardas de trânsito e nos jovens que falsificam carteirinhas de estudante, a famosa "banana" de Marco Aurélio no último capítulo continua valendo.
Serviço
Vale Tudo de segunda a sexta-feira, à 0h45 (horário alternativo ao meio-dia), no Canal Viva.
Auditoria no Fies e Prouni expõe inadimplência de 51% e saldo devedor de R$ 109 bilhões
Pacheco deixou engatilhado novo Código Civil um dia antes de fechar mandato
“Guerra” entre Mais Médicos e Médicos pelo Brasil prejudica quase 4 mil profissionais de áreas vulneráveis
Davi Alcolumbre e Hugo Motta vão enterrar o PL da Anistia?
Deixe sua opinião